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O prazer das conspirações

O cérebro anseia por “conclusões cognitivas” que explicam tudo

Por Vilma Gryzinski 22 jan 2023, 08h00

Não acreditem no que está escrito a seguir, embora entremeado de fatos verdadeiros. As eleições de meio de mandato presidencial nos Estados Unidos não foram tão ruins como previsto para o Partido Democrata, a economia está melhorando, Donald Trump está refluindo e Joe Biden, com 80 anos e sinais de deterioração mental, perdeu a utilidade principal. O povo quer renovação e “eles”, também chamados de estado profundo, o mecanismo que controla as alavancas do poder, deixaram vazar os documentos sigilosos guardados por Biden da época em que era vice-presidente. Uma desculpa perfeita para que ele desista de anunciar a candidatura à reeleição que estava prestes a lançar. Assim, um candidato mais jovem será ungido como sucessor.

Parece incrível, mas essa teoria circula entre americanos de tendência conspiracionista, o que é um bocado de gente. Todos invocam a forma enviesada como os documentos foram achados — advogados de Biden estavam sem fazer nada e foram checar a instituição onde o presidente criou um centro de estudos com seu nome, na Universidade da Pensilvânia. “Badabing, badabum”, diria Tony Soprano. Documentos que deveriam ter sido entregues às devidas autoridades começaram a brotar até na garagem da casa onde o presidente guarda sua Corvette de colecionador. O caso pode parecer banal, mas cresceu porque os democratas precisam pelo menos fingir que seguem o mesmo e rigorosíssimo padrão aplicado quando Trump foi pego em situação similar. Alguns deles chegaram a dizer que o odiado ex-presidente estava vendendo segredos nucleares e deveria ser preso e executado por traição.

“Acreditar que Biden está sendo rifado atende a requisitos básicos das teorias conspiratórias”

Acreditar que Biden está sendo rifado pelo estado profundo atende a requisitos básicos das teorias conspiratórias. A ideia de que o presidente esgotou sua utilidade para o “sistema” confere a seus defensores benefícios emocionais. Aumenta o senso de pertencimento ao grupo que compartilha o mesmo sentimento e fornece a poderosa conclusão cognitiva, o fecho final, a explicação para um conjunto de acontecimentos que nossos cérebros foram programados para tentar decifrar, como mecanismo de sobrevivência. Somos, resumidamente, viciados em respostas e o mundo fica mais caótico ainda na ausência de explicações conclusivas.

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Como aceitar que uma única bala provocou sete dos oito ferimentos sofridos por John Kennedy e pelo governador John Connally e apareceu numa maca do hospital onde foram atendidos no fatídico 22 de novembro de 1963? Que o Fiat Uno responsável por um raspão no carro onde estava Diana nunca foi encontrado depois da tragédia? Ou que um recepcionista registrou por engano o ingresso de Adélio Bispo de Oliveira na Câmara dos Deputados no 6 de setembro de 2018 em que ele desfechava a facada?

“Todo mundo adora uma conspiração”, disse Dan Brown, que ficou rico criando fatos absurdos, mas irresistíveis, em O Código Da Vinci, antes da era das redes sociais. A chave única, a explicação que abrange tudo, grassa, em maiúsculas, em todas as gamas do espectro político: maçons, rosa-cruzes, jesuítas, Sábios do Sião, Rockefellers, Rothschilds, neomarxistas, neoliberais, CIA, Illuminati, Davos. Eles. É chegar, servir-se e não ter mais o trabalho de enfrentar perguntas sem respostas fáceis.

Publicado em VEJA de 25 de janeiro de 2023, edição nº 2825

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