Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O palhaço de Putin: chefe de mercenários cumpre um papel na guerra

A última de Ievgueni Prigozhin foi desafiar Zelensky para um duelo aéreo, uma encenação que ajuda a entender como o “terceirizado” funciona

Por Vilma Gryzinski 7 fev 2023, 07h41

Centenas de homens morrem diariamente nos campos de combate, civis inocentes são bombardeados em sua casas e a praga da guerra espalha por toda a Ucrânia seus vapores mefíticos. É hora de fazer piada?

Ievgueni Prigozhin, chefe do grupo Wagner, mercenários que funcionam como uma força terceirizada, acha que sim. Depois de mandar milhares de prisioneiros que trocaram a cadeia pela esperança da anistia como bucha de canhão, Prigozhin tem certeza que está perto de tomar a localidade de Bakhmut.

Tão certo que “desafiou” Volodymyr Zelensky para um duelo aéreo que decidiria o destino do lugar. “Amanhã, vou pilotar um MiG-29. Se você quiser, vamos nos cruzar no céu. Se você ganhar, fica com Artiomovks (Bakhmut). Se não, nós avançamos até o Dnipro”, disse num vídeo feito na cabine de comando de um avião de guerra.

Parece um palhaço falando, mas o propósito não tem nada de engraçado. Prigozhin, que ascendeu de presidiário a dono de um restaurante onde servia Vladimir Putin e convidados importantes, saltando daí à fortuna como fornecedor de alimentação para o Exército e criador do grupo Wagner, tem vários papéis importantes. 

E talvez o maior deles seja ser usado por Putin para “equilibrar” o poder dos militares de carreira. É um clássico da Rússia, sobretudo no período soviético, jogar diferentes forças no caldeirão para que nenhuma delas se torne a detentora da palavra final. Stálin foi o mais consumado praticante dessa tática, com comissários políticos implantados em cada uma das unidades militares – e com poder de fuzilamento, à altura daqueles tempos sombrios.

Continua após a publicidade

Já ficou mais do que claro que a hierarquia militar e o Ministério da Defesa se sentem mais do que desconfortáveis com o papel agressivo de Prigozhin, que nas últimas três semanas tem propalado a tomada de Bakhmut com suas próprias forças mercenárias, incluindo os presidiários libertados em troca de seis meses na frente de combate.

O exibicionismo de Prigozhin pode ter também uma outra utilidade. Segundo alguns analistas militares, os russos estão usando a mesma tática diversionista vitoriosa dos ucranianos quando retomaram a cidade de Kherson: fingem que estão concentrados em Bakhmut enquanto preparam na verdade uma grande ofensiva qual a qual pretendem mudar os rumos da guerra quando completar um ano, no próximo dia 24.

De valor estratégico discutível, Bakhmut ganhou importância simbólica – e, sobretudo nessa guerra, a importância dos símbolos já foi suficientemente demonstrada. Diariamente, militares ucranianos fazem postagens para comprovar que “continuamos aqui”, embora os russos pareçam estar perto do controle total.

A pequena localidade também pode definir o futuro não só de Prigozhin que, como elemento de fora do arcabouço institucional,  precisa dos favores do todo-poderoso Putin para sobreviver, como do general Valeri Gerasimov, o chefe do estado-maior que foi colocado no comando direto das forças invasoras.

Continua após a publicidade

“Prigozhin é o ator mais fraco – e por isso precisa latir mais alto”, segundo Anna Arutunyan, escrevendo na Spectator. “Embora seja popular no campo dos falcões, tem muito menos proteção do que o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, ou qualquer um dos generais de Putin”.

A analista acredita que o homem que foi conhecido como o chef de Putin também pode ser usado como bode expiatório caso algo dê muito errado.

E daí não haveria mais ninguém rindo das piadas dele.

A próxima etapa da guerra deve mudar o quadro com o qual, de certa maneira, nos habituamos – o ser humano se adapta a tudo. A Ucrânia tem que se preparar para ataques mais violentos, exatamente num momento em que também exibe vulnerabilidades como a situação indefinida sobre o ministro da Defesa, Oleksi Reznikov, que está cai não cai por causa de uma investigação que apurou corrupção em contrato de fornecimento de rações para o Exército.

Continua após a publicidade

Ironicamente, o mesmo setor que fez a fortuna de Ievgueni Prigozhin. Sem os contratos camaradas, o russo perde a origem de seu poder. E sabe perfeitamente bem disso. Entre tantos destinos que essa guerra vai alterar, o dele é um dos mais interessantes de acompanhar.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.