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O novo lema: ‘Yankees, come home’

A esquerda agora acha o máximo quando americanos interferem

Por Vilma Gryzinski 28 Maio 2022, 08h00

Lincoln Gordon. A simples menção ao nome do embaixador americano na época do golpe de 1964 provocava reações furiosas entre intelectuais e militantes de esquerda. Não deixavam de ter razão. Por causa de suas análises — implacavelmente cortantes, como se ficou sabendo quando o telegrama de março de 1964, desdobrado em cinco partes, do embaixador à cúpula do governo americano foi revelado —, os EUA interferiram nos acontecimentos políticos do Brasil, embora nem tenha dado tempo de bancarem de fato os golpistas com a Operação Brother Sam. Agora, a nova embaixadora americana, Elizabeth Bagdley, é saudada como uma guerreira da luz por ter dito que a próxima eleição “não será um momento fácil por causa de muitos dos comentários dele”. “Ele”, claro, é Bolsonaro. Qual o papel de embaixadores? Servir a seus países com discrição, fazer unicamente declarações diplomáticas em público e só soltar as feras em situação de guerra. A senhora Bagdley ainda nem chegou a Brasília, mas já extrapolou suas atribuições.

“O governo Biden quer falar duro com Bolsonaro — e um pouco mais manso com Cuba e Venezuela”

Yankees, go home também é coisa do passado quando William Burns, o diretor da CIA — da CIA! —, se reúne em particular com integrantes do alto escalão do governo brasileiro, em julho do ano passado, e a notícia chega à agência Reuters nesse mês de maio. Burns também vira um ente do bem por ter dito que o presidente deveria parar de “minar a confiança” no sistema eleitoral. As fontes dos repórteres foram “duas pessoas familiarizadas com o assunto”. Como não podem ser extraterrestres que gravaram tudo sem a CIA saber, não é difícil imaginar de onde veio a informação. Obviamente, o governo Biden quer falar duro com Bolsonaro — e um pouco mais manso com Cuba e Venezuela. Não chega a ser surpresa. Curiosa é a reação dos afetados pela doença infantil do antiamericanismo em todas as instâncias, menos quando o envolvido é “ele”.

A última dos imperialistas, se ainda é possível usar ironias, foi a advertência da revista The Economist de que o futuro do aquecimento global “depende em parte” de Bolsonaro ser ou não reeleito. Opiniões sobre o presidente à parte, isso é resumidamente uma asneira. A ideia de que alguém em Brasília controla a Amazônia, como um gênio do mal, não combina com as análises habitualmente brilhantes da revista inglesa. É claro que ações do governo influem, nos dois sentidos, mas o papel atribuído à eleição presidencial não tem senso de proporção nem cabimento.

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Lincoln Gordon escreveu no seu telegrama ter se convencido de que João Goulart “está agora definitivamente comprometido com uma campanha para assumir poderes ditatoriais, aceitando a colaboração ativa do Partido Comunista Brasileiro e de outros revolucionários de extrema esquerda para este fim”. E avisou: “Se ele vier a ser bem-sucedido, é mais do que provável que o Brasil cairia sob o controle comunista, mesmo que Goulart eventualmente possa esperar se voltar contra seus apoiadores comunistas, de acordo com o modelo peronista que, acredito, ele pessoalmente prefere”. Gordon morreu negando qualquer conspiração e o sigilo de seus telegramas só caiu em 2004. Amassem-no ou odiassem-no, nunca abriu o bico.

Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791

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