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O narco dos narcos: a prisão do monstro “revolucionário” Caro Quintero

Poucos traficantes atingiram o nível de produção - e de barbárie - do mexicano conhecido por ter torturado o agente americano Kiki Camarena

Por Vilma Gryzinski 18 jul 2022, 08h05

Na série Narcos, as atividades de Rafael Caro Quintero são reproduzidas em detalhes impressionantes. Entre elas, a produção de maconha em escala industrial – a famosa “sinsemilla”, plantas fêmeas sem semente, entusiasticamente abraçadas pelos consumidores americanos. Por ter mudado o produto, o modo de produção e o consumo, ele chegou a ser chamado de “revolucionário”.

A série também mostra como Kiki Camarena, o obstinado agente da DEA que investiga e se infiltra na gigantesca linha de produção montada por Caro Quintero, chamado de “narco dos narcos” e também de Príncipe, pelo luxo no vestuário.

A formidavelmente corrupta polícia mexicana acaba entrando no Rancho Búfalo, a fazenda de maconha de Caro Quintero, e atrapalhando, pelo menos temporariamente, os negócios do traficante.

O que não é mostrado diretamente foi a vingança de Caro Quintero.

Kiki, interpretado pelo ator Michael Peña na série da Netflix, e o piloto mexicano Alfredo Zavala Avelar foram sequestrados por policiais corruptos ao sair do consulado americano em Guadalajara, entregues aos bandidos, levados para uma mansão num condomínio chique e torturados sob a supervisão direta de Caro Quintero. 

Os corpos, encontrados um mês depois, mostraram alguns detalhes das abominações sofridas. Camarena tinha sofrido perfurações com uma furadeira no cérebro. Para não morrer com a bárbara tortura, um médico acompanhava as sevícias, interferindo quando estavam perto de acabar com a vida da vítima – um método usado por torturadores da ditadura argentina. Ele também foi castrado e todas as suas costelas estavam quebradas quando foi enterrado vivo, tal como o piloto

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A DEA jurou vingança, mas a história acabou obscurecida por acusações, nunca comprovadas, de que a CIA usava a rede dos narcos para contrabandear armas destinadas aos grupos centro-americanos que combatiam as nascentes revoluções esquerdistas. O poder dos traficantes sobre todas as instituições mexicanas também pesou. Preso na Costa Rica, extraditado e condenado, o megatraficante acabou solto em 2013 por um “erro judicial” de procedimento.

Na sexta-feira, ele foi preso de novo. Estava em uma zona de mata fechada, embora apareça nas fotos com roupas bem passadas e sapatos sem traços de terra ou barro. Como tudo que se refere ao tráfico no México é complicado, um helicóptero Blackhawk usado na operação caiu e matou catorze ocupantes.

Agora, a justiça americana aguarda sua extradição. Além de Kiki Camarena, considerado um herói, Caro Quintero também é acusado pela morte de John Clay Walker, um veterano condecorado do Vietnã que queria ser escritor, e seu amigo Alberto Radelat.

Os dois americanos deram o azar de estar num restaurante onde Caro Quintero dava uma festa. Suspeitos de ser agentes da DEA, foram levados para a cozinha e torturados com um furador de gelo. Radelat também ainda estava vivo quando os traficantes enterraram os dois.

A atriz e comediante mexicana Carmelita Salinas, que morreu no ano passado, deixou um vídeo em que narra o seu encontro com o chefão do cartel de Guadalajara quando esteve na prisão para visitar um ator também em cana.

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O traficante, que usava um medalhão de esmeraldas com suas iniciais, convidou-a para uma refeição com frutos do mar, preparada por seus cozinheiros – não é só no Brasil que presos importantes no mundo do crime têm privilégios. Caro Quintero achava que Carmelita era parente do presidente Carlos Salinas e mandou, através dela, um recado: “Quero que diga a ele que me ajude a sair daqui que eu o ajudo a pagar a dívida externa e interna do México”.

Ao deixar a prisão, Caro Quintero recebeu a proteção de chefe do cartel de Sinaloa, Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo.

Guzmán serve uma sentença perpétua na suprema do Colorado, uma prisão sem chances de fuga onde também cumprem pena o Unabomber, um professor universitário que mandava cartas-bomba a colegas, e o autor o primeiro atentado terrorista contra o World Trade Center.

O irmão do criminoso preso na semana passada, Miguel Ángel, já está preso lá e pode ser que Caro Quintero acabe também na prisão de segurança máxima, se o presidente Andrés Manuel López Obrador, defensor da tese de que os narcotraficantes devem ser tratados com “abraços, não balaços” não interferir.

Ao assumir, AMLO decretou que a guerra contra o narcotráfico tinha acabado. Em três anos, o número de homicídios superou o do mandato inteiro, de seis anos, de seu antecessor. Já alcançou 121.655 mortes violentas. Talvez os narcotraficantes que se exterminam mutuamente em crimes monstruosos ainda não estejam exatamente preparados para a política de paz e amor.

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Caro Quintero haverá de sentir falta disso, inclusive da última mulher com quem se envolveu, uma ex-miss cadeia, que conheceu quando ambos estavam presos. Não tem disso na supremax do Colorado.

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