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O “leninista” eleito presidente e outros cadeirantes importantes

O novo presidente do Equador é um paraplégico militante - mas também existem políticos que cuidam bem da carreira andando de cadeira, sem falar no assunto

Por Vilma Gryzinski 3 abr 2017, 07h52

Alguns vão dizer que Lenín Moreno, vitorioso no Equador, é o primeiro político que anda de cadeira de rodas eleito presidente. A falta de memória abole da história Franklin Delano Roosevelt, imobilizado pela paralisia infantil e provavelmente o terceiro presidente mais importante dos Estados Unidos, depois de George Washington e Abraham Lincoln. 

Outros políticos em posições de destaque usam a cadeira mágica para se movimentar e uma impressionante ausência de vitimização. 

Wolfgang Schäuble é o poderoso ministro das Finanças da Alemanha. Demonizado pela esquerda alemã como duro demais quando foi ministro do Interior e como carrasco da Grécia por aplicar o princípio de que quem deve, paga, ele ficou paralítico por causa de um tiro, como o novo presidente do Equador. 

Na verdade, foram três tiros, disparados por um jovem alemão que, apesar da motivação política explícita, acabou beneficiado por ser considerado mentalmente incapaz. O atentado foi em 1990 e seu autor saiu do presidio psiquiátrico  em 2004. 

Schäuble, que voltou a trabalhar quando estava no hospital, recuperando-se dos tiros no rosto e na espinha, comentou secamente sobre a libertação de seu agressor que “a Justiça foi feita”. Como líder do Partido Democrata Cristão, ele teve uma grande chance de ser primeiro-ministro – perdida não por causa de suas condições físicas, mas pelo escândalo de financiamento de campanha  que atingiu o primeiro-ministro Helmut Kohl. 

Devido a complicações de saúde decorrentes do atentado, apresentou renúncia duas vezes a Angela Merkel. Ela, evidentemente, recusou. 

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ÁRVORE E TERAPIA 

Greg Abbott, governador do Texas, ficou paraplégico em 1984 quando uma árvore enorme caiu sobre ele durante uma corrida num bairro de Housto, depois de uma tempestade. 

Como bom advogado – e bom americano -, processou o dono da casa onde havia o carvalho de grande porte e ganhou uma indenização de 10 milhões de dólares. Parcelada: recebe 14 mil dólares por mês. Com dois fios de metal implantados na espinha, fez carreira no judiciário e se tornou procurador-geral do Texas, um cargo eletivo. 

Como bom republicano, dedicou-se a desafiar a reforma do programa de saúde implantada por Barack Obama. Na época, resumiu assim sua rotina: “Vou trabalhar, abro um processo contra Obama, volto para casa”. 

Wendy Davis, celebrada como heroína pela mídia progressista por uma tentativa de embargar restrições ao aborto no Texas, usou uma cadeira de rodas vazia numa propaganda política. A ideia era dizer que Abbott havia sofrido um acidente e conseguido uma  bela indenização – “desde então, passou a ignorar outras vítimas”. Perdeu a eleição para o governo do Texas por mais de 20 pontos. 

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Nem o alemão nem o texano costumam falar sobre as próprias deficiências. Lenín Moreno, ao contrário, atribui ao assalto que sofreu em 1998 uma transformação existencial.

 O assalto: dois bandidos pediram a carteira e a chave do carro no estacionamento de um supermercado em Quito. Ele deu, mas mesmo assim levou um tiro pelas costas. Além de ficar paraplégico, sofria dores tão alucinantes que apelou para a pouco conhecida terapia do riso. 

Desde então, escreveu vários livros sobre a importância do humor, das uma boa risada, das piadas. Abandonou a militância esquerdista tradicional e virou uma espécie de guru da autoajuda. Como vice-presidente do bolivariano Rafael Correa, criou projetos para ajudar os deficientes.

PAMELA ANDERSON 

Agora, Lenín Boltaire Moreno Garcé, com seu nome original e sua história excepcional de vida, teve a oportunidade à qual todos devem aspirar: sem julgado por seus atos, não por raça, cor, origem, sexo ou meio de locomoção. 

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Com as desgraças sucessivas e autoinflingidas na Venezuela e com a derrota na tentativa de reeleição infinita, Correa baixou o tom do bolivarianismo mais agressivo.Moreno deixou a vice-presidência em 2013 e fez campanha contra a corrupção. 

fora dos limites desanimadores da América Latina, a eleição no Equador só causou algum interesse por causa de Julian Assange. O ex-herói das esquerdas mundiais continua enfurnado na embaixada do Equador. em Londres. Alega que se for levado para depor no caso de estupro de que e acusado na Suécia, será extraditado, julgado e até executado pelos americanos maus. 

Se o candidato da oposição, Guillermo Lasso, tivesse ganhado, isso até poderia acontecer. Com Lenín Moreno, Assange provavelmente continuará na embaixada, onde recebe visitas amorosas de Pamela Anderson, a loira canadense que continua conhecida mais pela silhueta voluptuosa. 

O namoro de Assange e Anderson é a única coisa que supera, em matéria de reviravoltas inesperadas, o fato de que o criador do WikiLeaks se tornou um aliado de Donald Trump. 

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Como adepto da terapia do riso, Lenín Moreno deve entender o caráter deliciosamente farsesco da situação. Não existe leninismo que resista a uma coisa dessas. 

PARAÍSO DA CAMPANHA 

O presidente eleito fez campanha prometendo “um governo com harmonia, para todos”. Precisa passar pelo teste da realidade. E já que estamos no espírito humorístico, vai uma piada longa, mas divertida, sobre Rafael Correa. 

Passeando pela rua com seu sorriso eterno, ele sofre um ataque e morre. Vai para o Paraíso, onde São Pedro avisa: é muito raro ter políticos aqui. Determina que faça uma experiência de um dia dos dois lados e escolha onde quer ficar. 

Correa toma o elevador para o Inferno. Sai num campo de golfe, encontra os melhores amigos, abraçam-se, jogam, conversam. Na hora do jantar, lagosta, caviar e a companhia de lindas boliviarianas. 

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Volta para o Paraíso, onde passa um dia de nuvem em nuvem, tocando harpa. Finalmente, São Pedro pergunta onde prefere passar a eternidade. Escolhe, evidentemente, o inferno, toma o elevador e sai num lugar pavoroso, onde seus amigos vagam em trapos, recolhendo excrementos. 

O senhor das trevas dá a ele um saco para fazer a mesma tarefa e Correa reclama: “Mas ontem aqui era um campo de golfe, com lagosta e mulheres.” Responde o Cão: ”Ontem estamos em campanha. Hoje, você já votou”.

Todo mundo só pode desejar que os equatorianos que votaram em Lenín Moreno jamais tenham a mesma sensação.

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