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O incontrolável vírus da liberdade

Sem representatividade, modelo chinês sofre um problema sistêmico

Por Vilma Gryzinski 11 dez 2022, 08h00

Sejam cidadãos obedientes, sigam o que o Partido Comunista manda, trabalhem duro e terão em troca uma vida mais próspera. Esse é, em essência, o contrato social que Xi Jinping prometeu em dez anos de poder. Prometeu e cumpriu: em uma década, o PIB chinês dobrou, acompanhado pela renda per capita. Quem quer entender alguma coisa da extraordinária transformação da China numa economia de 17,7 trilhões de dólares — dez vezes mais do que a do Brasil — tem de admitir esse salto extraordinário, produto da mistura de métodos capitalistas, insuperáveis na criação de riquezas, com um regime político que, em vez de abrir, está ficando mais rígido. Combinar recursos da economia de mercado com um totalitarismo que garante a ordem e o progresso pode até parecer interessante para países fora do eixo das democracias avançadas — e tem gente com cara de pau suficiente para sugerir isso. “O modelo chinês é muito atrativo para muitos países”, vocalizou Klaus Schwab, dando mais lenha para a fogueira dos que veem seu Fórum Econômico Mundial como uma conspiração sinistra contra os valores ocidentais mais básicos.

“A leve flexibilização do sufocante controle da Covid mostra que o regime entendeu o tamanho da encrenca”

Com uma linguagem mais agressiva, num estilo chamado “lobo guerreiro”, desenvolvido na era Xi, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, mirou exatamente na competição quando tuitou: “O preço da ‘liberdade’ nos Estados Unidos: 1 milhão de mortos por Covid, mais 40 000 mortos por ano por armas de fogo, mais 107 622 mortos por Fentanil só em 2021”. É tudo verdade. Mas o regime chinês também teve uma amostra do preço do sistema oposto, o da falta de liberdade, com os protestos que explodiram nas ruas das maiores cidades do país, com a derrubada de barreiras que confinam cidadãos interminavelmente constrangidos à política de Covid Zero, confrontos com a polícia e até gritos pelo fim do regime. Não foram protestos em massa, mas sua disseminação indicou que o controle total sobre a população, inclusive no mundo digital, é impossível até num regime que aperfeiçoou os métodos totalitários a um nível inimaginável.

É essa a falha sistêmica do modelo chinês: o espírito humano sempre vai buscar espaços para manifestar um desejo de liberdade que transcende circunstâncias sociais, etnias e culturas. A linguagem da liberdade é universal e não tem repressão que dê conta da semente que planta. Manifestantes ergueram folhas de papel em branco, como os russos que fizeram o protesto irônico contra a guerra na Ucrânia. Outros cantaram a estrofe do hino nacional — “Ergam-se os que não querem ser escravos”. Foram ouvidos gritos de “freedom”, em inglês mesmo. A China prosperou num ritmo como nenhum outro país na história, acabou com a pobreza extrema e conseguiu registrar o incomparável número de 5 200 mortos na pandemia da qual foi o berço original. Mas aquele vírus que ninguém controla está se manifestando e não vai desaparecer. A leve flexibilização do sufocante controle da Covid mostra que o regime entendeu o tamanho da encrenca, e foi comemorada pelos mercados como um sinal de que o crescimento chinês, do qual tanto dependemos, terá menos amarras. Mas o teste de estresse dos controles sociais mostrou que nem a “China”, como sinônimo de totalitarismo high-tech, pode ter domínio total sobre a China.

Publicado em VEJA de 14 de dezembro de 2022, edição nº 2819

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