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Por Vilma Gryzinski
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Noruega, Dinamarca, Groenlândia, baleias: encrencas nórdicas

Quiseram as Nornas, as deusas do destino da mitologia nórdica, que Bolsonaro e Trump se enrolassem ao mesmo tempo com alguns pequenos detalhes…

Por Vilma Gryzinski 22 ago 2019, 12h27

Se o Brasil comprou o Acre, os Estados Unidos compraram a Luisiana (o pior negócio de Napoleão), o Alaska, as Filipinas e as Ilhas Virgens, por que Donald Trump não pode testar a ideia de arrematar a Groenlândia?

Até Harry Truman sondou a possibilidade, mas em sigilo, nos bastidores.

Como todo mundo sabe, Trump é incapaz de fazer qualquer coisa discretamente. E a proposta atingiu o nível de desaforos mútuos.

O presidente não gostou do adjetivo “absurdo” usado pela primeira-ministra Mette Frederiksen e cancelou a visita de estado que faria à Dinamarca.

Como em todas as visitas desse tipo feitas a países monarquistas, o convite era em nome da rainha Margrethe, o cancelamento significou um desaforo direto à real senhora de 79 anos.

Ao contrário de outras famílias reais europeias, a da Dinamarca é relativamente livre de escândalos.

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Margrethe demorou para deixar de fumar nas dependências dos palácios, continua usando casacos de pele (uma exportação importante da Dinamarca) e ficou viúva antes que o marido, um aristocrata francês, criasse mais problemas com a demência avançada.

Detalhe: nem se quisesse, a Dinamarca poderia vender a Groenlândia, que tem o status de país autônomo integrado ao reino.

E mesmo que pudesse, dificilmente abriria mão do último remanescente do império nórdico que já teve.

Tirando a Groenlândia e as ilhas Faroé (logo mais chegamos nelas), a Dinamarca hoje é uma península e um punhado de ilhas de 42 mil quilômetros quadrados, um pouco menos que o estado do Rio de Janeiro.

Seria como se o Uruguai tivesse a Argentina sob seu controle.

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Uma das mais constantes atividades de muitos dinamarqueses é sacudir a cabeça ironicamente e pensar no que já tiveram: o naco da Inglaterra tomado na época das invasões vikings, territórios da Suécia, outros tantos da Estônia, Islândia e, principalmente, a Noruega, com a fabulosa riqueza em gás e petróleo que deixa os vizinhos escandinavos babando de inveja.

Sem contar pequenas colônias do período clássico na África, Ásia, e Caribe – daí a parte dinamarquesa das Ilhas Virgens vendidas em 1917 aos Estados Unidos por 25 milhões de dólares em ouro.

Com mais de dois milhões de quilômetros quadrados, a Groenlândia é um enorme, gelado e eventualmente incômodo resquício da era da Dinamarca como potência.

A ilha de gelo chegou via Noruega e não encontrou um lugar confortável. Seus poucos habitantes – menos de 60 mil – são da mesma etnia que os esquimós – que não podem mais ser chamados de esquimós, mas sim de povo Inuit.

São nativos recentes, menos de 800 anos. Como outros indígenas em contato com civilizações ocidentais, não se dão nada bem com bebidas alcoólicas.

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Mesmo com as grandes vantagens sociais estendidas pela Dinamarca, têm um padrão de vida bem inferior e, inevitavelmente, alimentam sentimentos separatistas.

Separar-se do país menos corrupto do mundo, com PIB per capita de 56 mil dólares e benefícios inacreditáveis para os mortais comuns não parece uma boa ideia, mas assim é a vida.

E A ESPLANADA?

Ao contrário da Groenlândia, etnicamente, os habitantes das ilhas Faroé são do mesmo grupo que os dinamarqueses e demais escandinavos.

Todos, incluindo noruegueses e suecos, falam línguas parecidas, embora alguns finjam não entender os vizinhos para aborrecê-los.

As Faroé também têm uma pequena população, de 50 mil pessoas. Para complicar, existe a ilha Faro, no Mar Báltico, cuja única relação com a fama foi ter o diretor sueco Ingmar Bergman como habitante.

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Suéteres de lã coloridos com bordados geométricos e a matança anual das baleias piloto e golfinhos fazem a fama, ou infâmia, das Faroé.

Mantida como tradição local e fonte importante de alimentação, da mesma maneira que os Inuit podem caçar focas e os indígenas brasileiros o que quiserem, a caça às baleias é feita da mesma forma que a dos golfinhos no Japão: na mão.

Os animais vão chegando perto da praia, um vigia avisa e homens e meninos descem com sangue nos olhos e instrumentos cortantes nas mãos. Quem vê, nunca se esquece. O mar fica literalmente vermelho.

A sim, as ilhas Faroé também foram da Noruega, o que talvez explique certas confusões.

Brincadeirinha.

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Ajudar países necessitados faz parte da tradição religiosa e política dos escandinavos, principalmente Noruega e Suécia.

Todos, obviamente, têm a mesma preocupação que os europeus desenvolvidos pelo meio ambiente.

A Noruega se especializa também em agir como intermediária para conversações de paz. O Acordo de Oslo, entre israelenses e palestinos, abriu caminho para o retorno da OLP e a autonomia palestina.

Hoje, as relações com Israel vivem estremecidas porque a Noruega é considerada tendenciosamente favorável aos palestinos.

“Informação falsa é um crime, senhor presidente”, escreveu um norueguês, caprichando no tom insultuoso à la escandinava, numa das infames seções de comentários depois que Jair Bolsonaro achou que a matança de baleias nas Ilhas Faroé era na Noruega.

Detalhe: a Noruega realmente caça baleias, mas em alto mar e de maneira sustentável. Ufa.

Sobre o Acre: o preço foi dois milhões de libras e a construção da Madeira-Mamoré. Os cavalos da lenda foram um presente.

A borracha era o ouro da época.

A solução pacífica e monetária fez a fama do Barão de Rio Branco, o patrono do Itamaraty.

Já que os dois países têm tradição nesse tipo de negócio, será que Donald Trump não quer comprar a Esplanada dos Ministérios?

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