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No mundo Telegram, adianta proibir o Hamas e a propaganda contra Israel?

A Alemanha colocou na ilegalidade atividades relacionadas ao grupo fundamentalista, mas há dúvidas sobre a efetividade da proibição

Por Vilma Gryzinski 3 nov 2023, 08h26

Por motivos óbvios, ligados aos horrores do passado não tão distante, a Alemanha sente uma responsabilidade especial em relação a Israel.

Como já havia anunciado, o governo alemão proibiu uma organização chamada Samidoun, que diz, inocentemente, defender direitos de presos palestinos, e endureceu as interdições a atividades relacionadas ao Hamas, a quem já define como grupo terrorista. O primeiro anúncio foi feito logo depois que se conheceram as atrocidades praticadas em Israel e o Samidoun promoveu a distribuição de doces numa rua de Berlim, uma forma tradicional de demonstrar alegria.

“Realizar manifestações de júbilo aqui na Alemanha em resposta aos terríveis ataques terroristas do Hamas contra Israel comprova de maneira especialmente perversa a visão de mundo antissemita e desumana do Samidoun”, disse a ministra do Interior, Nancy Faeser.

A eclosão do conflito em Gaza, depois dos ataques terroristas, criou nos Estados Unidos e na Europa um conflito de reações: é lícito incentivar e comemorar as terríveis violências que deixaram 1 400 mortos? Jovens universitários e descendentes de imigrantes muçulmanos podem sair pelas ruas festejando esse festival de atrocidades, aos gritos de “Do rio ao mar, Palestina vai ganhar” – significando a erradicação de Israel?

Nos Estados Unidos, com as garantias à liberdade de expressão acima de tudo, é mais difícil controlar manifestações, mesmo as mais hediondas. A reação acontece em outros níveis: processos contra universidades que não garantiram a segurança de estudantes judeus e corte de contribuições feitas por ex-alunos milionários de ascendência judaica.

Na Europa, a Alemanha tomou uma iniciativa que o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, havia tentado, de proibir manifestações em favor da Palestina, mas o Conselho de Estado, que funciona como um Supremo Tribunal em questões constitucionais, derrubou a interdição.

Na Inglaterra, a polícia chamou para depoimento duas mulheres que participaram de manifestações levando coladas nas costas fotos dos parapentes usados por soldados do Hamas para atravessar a cerca que separava Gaza de Israel e praticar atrocidades como mutilar, fuzilar incinerar, sequestrar e estuprar pessoas de todas as idades.

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Foi mais uma encenação. Na verdade, a atitude da polícia está sendo contestada depois que agentes da lei foram filmados arrancando retratos de crianças levadas como reféns para Gaza. Isso mesmo: parece inacreditável, mas a polícia suprimiu cartazes de vítimas em nome da “harmonia comunitária”.

Outra discussão envolvendo a polícia foi a respeito dos gritos de “jihad, jihad, jihad” enunciados em várias manifestações. Debateu-se se a convocação à guerra santa pode ser uma incitação à violência ou uma simples expressão de ânimo combativo segundo os preceitos da religião muçulmana.

Seria de dar risada se não fosse a gravidade do momento, com os ataques terroristas tendo provocado a previsível reação de Israel e a trágica sequência de mais vítimas.

Existe também um debate mais amplo: qual o sentido de tentar controlar gritos de incitação à violência nas ruas quando no mundo das redes sociais o tom é muito mais alucinado. Não é um debate que acontece no nada: o Parlamento israelense vai votar uma lei estabelecendo um ano de prisão para quem consome conteúdo gerado por terroristas de forma “constante e sistemática”, indicadora de “identificação” com a causa.

É, obviamente um perigo. Inclusive considerando-se que o conflito atual vem sendo travado, também no Telegram de uma forma como nunca se viu antes. Os ataques do Hamas contra as comunidades israelenses fronteiriças foram transmitidos ao vivo, literalmente. Como em vários outros aspectos, o “exército cibernético” de Israel foi pego de surpresa e saiu atrás na batalha virtual. Os próprios israelenses tomaram conhecimento dos ataques quando viram no Telegram soldados sendo trucidados e os jovens participantes da rave no deserto sendo massacrados.

Centenas de milhares de usuários baixaram o aplicativo, tanto em Israel quanto nos territórios palestinos, segundo uma reportagem da revista Wired. Pavel Durov, o russo que transferiu para Dubai a estrutura operacional do Telegram, disse que “todos os envolvidos deveriam ter acesso confiável a notícias e comunicações privadas nesses momentos difíceis”.

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Enquanto o Hamas postava ao vivo, aperfeiçoando uma tática desenvolvida pelo Estado Islâmico, os canais oficiais israelenses, entre os mais sofisticados do mundo, ficavam em silêncio. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu só foi à televisão cinco horas depois do início dos ataques, anunciando que o país estava em guerra.

“Como aconteceu na invasão russa da Ucrânia, o Telegram se viu no centro de uma complexa crise geopolítica e humanitária”, disse a Wired, anotando a “estratégia de mídia mais sofisticada” do Hamas.

O terror hoje é viral, o Telegram é o seu profeta e múltiplos governos, como sempre, estão bem atrás da realidade.

Pavel Durov só interferiu ao bloquear um canal relacionado ao grupo do Daguestão que saiu numa “caça aos judeus” em aeroportos locais. “Perseguir pessoas com base em sua nacionalidade ou sua religião é inaceitável”, escreveu ele. “Canais que clamam por violência serão bloqueados por violar as regras do Telegram, do Google, da Apple e de todo o mundo civilizado”.

Esse mundo civilizado está passando por um tremendo teste no momento e as provações vão aumentar mais ainda.

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