Nunca interrompa um inimigo quando ele está cometendo um erro, recomendava Napoleão. E que erro perfeito cometeu Alberto Fernández ao pretender citar Octavio Paz, confundir o escritor mexicano com um roqueiro idoso que ele adora e, de forma geral, fazer o que os argentinos chamam de “papelón” – exatamente com o mesmo sentido que a palavra tem em português.
Miraculosamente, o presidente Jair Bolsonaro deu uma resposta bem sacada, sem insultos, com a foto de cocar em São Gabriel da Cachoeira, o coração da selva que Fernández desdenhou ao descrever os argentinos desembarcados de navios vindos da Europa em contraposição a nós, os nativos selváticos. E ainda faturou com os bravos guerreiros da selva e seu grito de guerra.
Responder na mesma moeda e ofender os argentinos de forma geral não é uma política inteligente. Quanto a Fernández, as melhores respostas são dos próprios argentinos que não o suportam. Uma amostra dos comentários em publicações como o Clarín, La Nación e Perfil ilustra isso muito bem. Divirtam-se.
“Incontinência verbal. Abre a boca e diz qualquer coisa sem pensar. O pensamento chega horas depois”, resumiu o leitor Enrique Osvaldo.
Juan Batista: “Uma vaca diz a um burro: ‘Eu estou pensando em ir morar na Índia, onde todas as vacas são tratadas como se fossem deuses’. Ao que o burro responde: ‘Pois eu estou pensando em ir morar na Argentina, porque ali os burros viram presidentes’”.
“Esse presidente não representa a totalidade dos argentinos, alguns de nós usam o cérebro”, disse Claudio.
“E se diz professor, professor de quê? De dizer asneiras e fazer com que todos nós, argentinos, sejamos como ele, como se quiséssemos ser mais do que os outros”, reclamou JA JA. Fernández foi professor de Direito Penal.
“Ele não pediu desculpas. Quem começa uma desculpa dizendo ‘se alguém se sentiu ofendido’ , não está se desculpando, está dizendo que o interlocutor não soube interpretá-lo”, esclareceu, com razão, TheDuke2009. Fernández se desculpou com os povos indígenas argentinos que tenham se sentido ofendidos ou “invisibilizamos”.
“Melhor que não esclareça nada porque só piora”, propôs Adriana, sobre a carta do presidente a uma líder indígena para “esclarecer minhas convicções profundas e sinceras sobre a população argentina e latino-americana”.
“É inimputável, não vale a pena escrever o que diz”, escreveu Impressionadíssimo.
“E se escondermos o microfone dele?”, sugeriu Solyema.
Francisco traçou um perfil extraordinariamente parecido com o de um certo colega: “Bom, isso só termina de demonstrar que o ‘presidente’ é um homem inculto, desconhecedor das idiossincrasias de outros povos e insensível às exigências da política externa. Compra brigas desnecessárias com Israel, EUA, México, Brasil, Chile, Noruega, Suécia etc. Cita autores e dados de maneira errônea, enfim, um grande inculto”.
“Por que os argentinos majoritariamente (não eu) elegem os piores para que os governem? Deve haver algum problema sociológico”, arriscou Carlos (em maiúsculas).
“Alberto é um espião infiltrado no kirchnerismo com o objetivo de acabar para sempre com eles, por dentro. Grande Alberto! Um patriota que está se imolando pelo futuro”, ironizou Gustavo.
“Podemos ter chegado de navio, mas você e sua vice deveriam ir embora de helicóptero”, sugeriu afj2016, evocando a traumática renúncia de Fernando de la Rúa em 2001.
Naraujo1: “Os brasileiros agora conhecem uma canção que não conheciam. O que só faz com que na imaginação do brasileiro o argentino seja preconceituoso e racista. Pior ainda porque o presidente Fernández falou numa reunião internacional”.
Fper2103: “A arrogância e a soberba do ignorante. Mais perigosas do que manejar o botão da bomba atômica”.
“Que não esclareça mais nada. Já não tem a mínima credibilidade nem respeito. Calado ficaria melhor, para ele e para os argentinos”, invocou Daniel, lembrando que o presidente está insistindo no erro de tentar ‘esclarecer” e foi ao Twitter dizer que “Litto Nebbia sintetiza melhor do que eu o sentido de minhas palavras”. O mencionado é o roqueiro que Fernández idolatra.
Eduardo: “O orgulho e a arrogância não permitem que peça perdão, então procura justificar sua frase e só se afunda mais e mais. Obrigado, AF, você condenou os argentinos a sofrer críticas de toda a América Latina, como se tivéssemos sido nós a dizer essa asneira monumental”.
“Se o assunto está superado, não se nota muito. Bolsonaro o comparou a Madurou, embora na verdade AF deve achar que é elogio”, anotou Ruben Cancio, em referência ao embaixador argentino, Daniel Scioli, que compreensivelmente que deixar a história para trás e dar o caso por encerrado.
“Mentira! No Brasil, querem incendia a embaixada Argentina com você dentro”, exagerou Milena.
Enfim, já deu para perceber o espírito da coisa. Melhor deixar Alberto Fernández errando sozinho do que tentar imitá-lo na capacidade de ofender povos vizinhos. Quem sabe até tomar uma cachacinha em homenagem a outro argentino famoso?