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Morto tentando fugir do Talibã: 19 anos, jogador de futebol, influencer

A terrível história de Zaki Anwari, o jovem afegão que ficou destroçado ao se agarrar ao trem de pouso de um avião americano, numa fuga desesperada

Por Vilma Gryzinski 20 ago 2021, 07h44

As cenas das multidões desesperadas no aeroporto de Cabul mostram ao mundo o que o medo coletivo pode produzir – e como o Talibã, de volta ao Afeganistão depois de vinte anos do fim de seu reinado de terror, infunde um pânico indescritível.

O risco da repetição dessas cenas é que as histórias individuais se dissolvam, se esvaiam, se banalizem.

Um dos casos mais terríveis de uma dessas histórias individuais é o de Zaki Anwari. Ele tinha 19 anos, jogava na seleção de base de futebol e desfrutava de um bom padrão de vida, como mostram suas fotos no Instagram.

Reportagem de capa: Vitória do Talibã ameaça novo mergulho do Afeganistão no obscurantismo

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Com poses de influencer, ele aparece com roupas ocidentais e trajes típicos, geralmente com um relógio de dar inveja à galera. Os seguidores gostavam da estampa e das frases bem intencionadas, quase ingênuas.

“Você é o pintor da sua vida, não deixe que ninguém tenha o pincel”, dizia uma delas.

Zaki estudava numa escola frequentada por filhos de diplomatas, com aulas em francês, um nível bem diferente dos outros dois adolescentes que o acompanharam na fuga desastrosa. Os irmãos que foram filmados caindo da fuselagem de um C-17, o gigantesco avião de transporte de tropas americano, vendiam melancia na rua e catavam lixo.

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O que uniu jovens de origem tão diferente foi o pânico e talvez a inclinação para o risco dos muito jovens – ou muito desesperados.

O corpo destroçado de Zaki Anwari foi encontrado no compartimento do trem de pouso quando C-17 aterrissou na grande base americana no Catar, o emirado árabe que consegue, simultaneamente, ter um importante acordo militar com os Estados Unidos e servir de refúgio aos líderes talibãs que agora começam a voltar ao Afeganistão.

A Força Aérea abriu uma investigação, mas já adiantou que os pilotos do avião, que pousou e decolou imediatamente ao ser cercado pela multidão, não tinham opção.

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As pistas do aeroporto estão sob controle, a poder de gás lacrimogêneo e tiros para o alto disparados pelos americanos, permitindo que aviões americanos e de países europeus continuem a evacuar seus cidadãos e afegãos que conseguem atravessar a barreira humana formada ao redor.

Como têm que chegar até lá por sua própria conta, muitos não estão conseguindo e há aviões partindo quase vazios.

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Os talibãs têm controle da área externa e, eventualmente, desfecham chibatadas e pancadas na multidão. Com medo de que seus filhos sejam pisoteados, algumas mulheres passar crianças menores para as mãos dos militares estrangeiros e chegam a jogá-las por cima da barreira de arame farpado. Nem todas conseguiram ser pegas. Um comandante britânico disse que homens que viram bebês presos na cerca precisaram ter aconselhamento psicológico.

Por incrível que pareça, a vitória dos talibãs não está sendo contestada pelo agora dissolvido exército afegão nem muito menos pelos americanos em retirada, mas por cidadãos comuns que estão saindo em protestos de rua.

As manifestações chegaram a Cabul. Os manifestantes saem armados apenas com a bandeira nacional, verde, vermelha e preta, que os talibãs substituíram pela sua, branca com inscrições do Corão.

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A “falta de vontade de lutar por seu país”, mencionada pelo presidente Joe Biden como o motivo da espantosa facilidade com que o Talibã retomou o poder, talvez não seja tão generalizada.

É isso ou submeter-se totalmente aos ultrafundamentalistas. Ou fugir, como tentam ou tentaram Zaki Anwari e milhares de outros.

“Ele era meu irmão, com quem tive memórias inesquecíveis”, escreveu um amigo dele.

A realidade crua dos fatos é que histórias como a de Zaki serão rapidamente esquecidas diante dos novos horrores guardados para os afegãos.

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