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Por Vilma Gryzinski
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‘Isso é um golpe mortal’, diz Putin sobre o ataque de seu ex-protegido

Em levante aberto, comandante do Grupo Wagner diz que já tomou uma base militar e incita russos a não acreditar em nada que a cúpula diga

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 Maio 2024, 23h38 - Publicado em 24 jun 2023, 08h25

“Estamos dentro do quartel-general. São 7h30 da manhã”, disse Yevgeny Prigozhin na manhã deste sábado, 24, mostrando que o golpe que “não é golpe, mas a marcha da justiça” avançava numa escala estonteante.

“As bases militares em Rostov, incluindo o aeródromo, estão sob controle”, disse ele num canal do Telegram, a forma de contato que tem com o mundo desde ontem. A base foi tomada para que “a aviação não nos ataque, mas ataque os ucranianos”.

Prigozhin disse que se rebelou contra a cúpula militar – mas não contra “a autoridade presidencial” – depois que suas forças sofreram um grave ataque grave, deixando uma grande quantidade de baixas.

Russos contra russos é um desdobramento quase inacreditável da guerra na Ucrânia – embora, retrospectivamente, também pareça inevitável que, ao permitir que um civil fora da estrutura de poder, ex-detento e ex-dono de barraquinha de cachorro quente, acumulasse o poder das armas, formando seu próprio exército, isso acabasse dando em confronto.

Vladimir Putin teve que correr para a televisão e avisar que seria feito “todo o necessário para estabilizar a situação em Rostov-sobre-o-Don”. O presidente russo afirmou que qualquer turbulência interna neste momento é uma “traição” e um “golpe mortal” contra o país. Putin ainda chamou o levante de uma “punhalada nas costas” da Rússia.

Por estabilizar dá para imaginar o que significa: militares regulares atacando os irregulares de Prigozhin – 25 mil, avisou ele ao se rebelar. Quantos desses seguirão as ordens do chefe? No momento, é impossível avaliar, o que deixa a situação mais crítica ainda.

Durante os últimos meses, Prigozhin falou o que lhe vinha à cabeça. Era o único homem em liberdade na Rússia que podia fazer isso. Das críticas à condução da guerra, focadas no ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e no comandante-chefe do Estado Maior, general Valeri Gerasimov, passou nos últimos dias a condenar os próprios pretextos usados para a invasão à Ucrânia. Ou seja, o próprio Putin, embora não mencionado diretamente.

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Por causa disso, o Grupo Wagner, o maior exército particular do mundo, acabou finalmente enquadrado: seus integrantes receberam o prazo de se registrar como soldados regulares, e assinar o contrato devido, até o próximo 1º de julho.

“Íamos fazer isso, mas fomos atacados”, alegou Prigozhin depois que denunciou que os pretextos para a invasão da Ucrânia eram falsos e que o objetivo verdadeiro era “dar a estrela de marechal” a Shoigu e fatiar os recursos ucranianos entre os oligarcas.

Baixou a sensação de que, cada vez que falava Shoigu, queria dizer Putin. A ideia de que o ministro da Defesa, um civil que tem como principal trunfo a proximidade, quase amizade, de Putin, com quem passava férias em territórios selvagens da Sibéria, sua origem, pudesse determinar que ia haver guerra é ridícula.

O FSB, serviço de inteligência que substituiu a KGB no âmbito interno, anunciou ontem que havia aberto um processo por rebelião armada contra Prigozhin.

A explosão do conflito interno acontece num momento chave, com a contraofensiva em três eixos da Ucrânia conseguindo pequenos avanços, embora a “muralha” defensiva russa, erguida durante meses, esteja aguentando o baque.

Se os russos começam a lutar entre si, a situação evidentemente muda e abre perspectivas de tirar o fôlego. Estará o Exército russo combatendo os ucranianos e, ao mesmo tempo, os rebeldes do Wagner? E por quanto tempo? Prigozhin teria usado um falso pretexto, um ataque aéreo contra sua tropa do qual não mostrou imagem nenhuma, isso no caso de um homem que desfila frequentemente entre cadáveres?

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A história dele se tornou conhecida: menino de rua, ladrão condenado a nove anos de cadeia, dono de uma barraquinha de cachorro quente que foi transformando em negócio bem sucedido até chegar ao restaurante flutuante em São Petersburgo onde se aproximou de Putin. A partir daí, deu um salto de tirar o fôlego: contratos de fornecimento de refeições para o Exército, uma base industrial em expansão e, em combinação com Putin, a criação de uma força composta por ex-militares que poderia fazer o que quisesse, como fez, da Síria ao “arco africano” – Líbia, Mali, Sudão, República Centro-africana.

Prigozhin também abriu uma “fábrica de trolls”, um centro de soldados da internet para desfechar uma constante campanha de contrainformação nos Estados Unidos e países europeus. Tudo o que espalhasse a dissensão era bom para a Rússia, um princípio seguido em todas as esferas.

Quantas divisões tem Prigozhin, perguntaria Stálin. É isso que vamos ver. Ao ir para a televisão, Putin expôs um gravíssimo racha que talvez a maioria dos russos ignorasse. Prigozhin montou um esquema próprio para divulgar o Wagner – e ele próprio – pela internet. É impossível que continue a fazer isso. Comunicação é tudo num golpe – por isso os tanques sempre tomam primeiro os canais de televisão.

Prigozhin pode ser respeitado por seus homens, no mínimo por estar sempre com eles na linha de frente, ao contrário dos líderes regulares em suas “mesas de mogno”, como dizia. Mas, em princípio, será varrido da face da terra.

Putin não sobreviveria a uma rebelião do tipo se permitisse que ela se disseminasse. Seu ex-amigo e cupincha vai pagar o mais pesado dos preços.

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