Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Israel: o incendiário ultranacionalista Ben Gvir detona governo por dentro

Riscos corridos pelo país são enormes, mas mesmo quando alguma coisa vai bem, ministro radical diz que está tudo mal - e Netanyahu depende dele

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 22 abr 2024, 07h39 - Publicado em 22 abr 2024, 07h38

Dentro de circunstâncias extremas vividas rotineiramente em Israel, os últimos dez dias foram bons.

O Congresso americano aprovou uma ajuda militar de 17 bilhões de dólares ao país e o governo Biden vetou o reconhecimento de um estado palestino (o da Cisjordânia, não de Gaza) na ONU.

Em coalizão com os Estados Unidos e até com outros países árabes, Israel escapou quase miraculosamente do enxame de drones e mísseis disparados pelo Irã no dia 13. Num ato de contorcionismo militar e político, o governo de Benjamin Netanyahu conseguiu o inevitável – responder ao ataque -, com um bombardeio pontual, detonando o sistema de defesa antiaérea do complexo nuclear de Isfahan. A crise foi contida. Para alívio do resto do mundo, não degenerou para uma guerra de consequências horripilantes.

Quem não gostou nada foi o homem que detém o poder de manter Netanyahu no governo – e sabe muito bem disso. “Frouxa”, tuitou Itamar Ben Gvir sobre a reação israelense.

Ele achava que estava na hora de Israel “partir para a loucura”. E as pressões dos Estados Unidos, que fizeram Netanyahu retroceder de um bombardeio mais nutrido? “Não somos mais uma estrela da bandeira americana”, costuma dizer.

Ben Gvir é da turma chamada em Israel de “kipá de tricô”, ultranacionalistas reunidos sob a bandeira do sionismo religioso, hostis a qualquer concessão territorial aos palestinos em troca de um futuro entendimento – infelizmente, bastante longe da realidade atual.

Continua após a publicidade

Já defendeu a a expulsão da população de Gaza e a pena de morte como alternativa para o excesso de população prisional depois do tsunami de detidos que a guerra atual provocou. Mora num dos lugares mais contestados, um assentamento em Hebron, que os judeus chamam de Kiryat Arba. O clima de hostilidade é constante e sua mulher já foi fotografada com uma pistola na cintura do vestido longo, seguindo normas religiosas, durante um encontro com Sarah Netanyahu.

BIOMA CULTURAL

Quem acha que Netanyahu é linha dura levaria um duro choque de realidade se soubesse o que Ben Gvir diz.

O estilo populista e agressivo tem um público, mesmo que minoritário – mas suficiente para eleger os deputados que garantem a maioria ao governo Netanyahu. Muitos são judeus mizrahi, provenientes de países do Oriente Médio, frequentemente inclinados ao radicalismo de direita, decorrente do bioma cultural e da experiência traumatizante de suas famílias. O pai de Ben Gvir era do Iraque, a mãe do Curdistão. Ambos seculares. O filho começou a se inclinar pela mistura sempre volátil de política e religião na adolescência.

Ben Gvir tem o cargo de ministro da Segurança Interna, o que lhe dá controle sobre forças policiais e um palco privilegiado para incendiar uma situação já explosiva – a guerra em Gaza, obscurece, para o público externo, o que acontece na Cisjordânia, com confrontos diários que já deixaram quase 290 mortos.

Israel tem meios excepcionais de vigiar e interceptar combatentes armados, mas uma insurreição popular drenaria forças e ampliaria mais uma frente de conflito.

Continua após a publicidade

Para a turma de Ben Gvir, os palestinos jamais aceitarão a existência de Israel e não adianta negociar territórios em troca de uma pacificação impossível. A única alternativa é o uso maciço da força. Para ilustrar suas ideias, ele criticou o general da reserva Benny Gantz, ex-ministro da Defesa e único oposicionista a integrar o gabinete de guerra, como exemplo perfeito das concessões que, em vez de abrir caminho a um entendimento, acabaram levando ao traumatizante ataque de 7 de outubro, com seus 1 200 mortos, o gatilho da guerra – ou guerras – atual.

REALIDADE PARALELA

“A pessoa que prejudicou a segurança do Estado de Israel, que promoveu o conceito de contenção e rendição ao Hamas, trouxe trabalhadores de Gaza, abriu os postos de controle na Cisjordânia, fechou as equipes de reação rápida e recebeu (Mahmoud Abbas, o líder da Autoridade Palestina) em sua casa foi Gantz”, disparou ele. “Na minha opinião, uma pessoa como ele não deveria ter um lugar no gabinete”.

Gantz seria o primeiro-ministro se houvesse eleições hoje, embora Netanyahu esteja diminuindo a diferença, nas pesquisas.

Para onde olhe, quando o gabinete de crise se reúne, Netanyahu vê candidatos a tomar o seu lugar e talvez não fique muito infeliz com as críticas de seu incendiário e circunstancial aliado ao adversário.

Para sorte de Israel, seus adversários também vivem numa espécie de realidade paralela. O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, prevê que Israel deixará de existir em 2040. Ele também acha que a operação em que todos os 350 drones e mísseis foram derrubados foi um sucesso. “O que importa é que o Irã demonstrou sua força de vontade”, disse o aiatolá. Segundo ele, o ataque fracassado “criou uma sensação de esplendor e magnificência em torno do Irã islâmico aos olhos do mundo”.

Continua após a publicidade

Ben Gvir não é dessa escola de alucinação, mas em vários aspectos não está muito longe dela. Uma Grande Israel em todos os territórios bíblicos originais sem população árabe também é um desejo altamente irreal, por mais que seus defensores cuspam fogo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.