Assine VEJA por R$2,00/semana
Mundialista Por Vilma Gryzinski Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Inglaterra: o sistema parlamentarista mostra vantagem na hora da crise

Governo desastroso é rapidamente eliminado, numa prova de que parlamentarismo é mais rápido em momentos perigosos - e já tem até um substituto à espera

Por Vilma Gryzinski 20 out 2022, 11h31
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O mercado venceu, diriam esquerdistas. Graças a Deus, diria o outro lado.

    Publicidade

    Graças também ao sistema parlamentarista foi possível encerrar os 45 dias de governo de Liz Truss, a breve, sem que a crise empurrasse a Grã-Bretanha para o abismo.

    Publicidade

    Relembrando: ela foi escolhida em setembro por 81 326 membros registrados do Partido Conservador, depois que os políticos profissionais “tiveram uma conversa” com Boris Johnson, explicando que sua situação estava insustentável.

    A mesma “conversa”, em condições muito mais críticas, foi tida com Liz Truss, levando-a a renunciar.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    O que ela fez de errado será discutido por muito tempo – visto que não mentiu, não roubou e não se envolveu em escândalos. O fator mais arrasador foi a reação do mercado ao programa econômico que cortava receitas, via diminuição de impostos na casa dos 70 bilhões de dólares, e não criava ingressos fora dos papéis pintados que os governos compram para se bancar quando não têm outros recursos. 

    A credibilidade é a alma desse negócio – e as propostas heterodoxas de Liz Truss não passaram no teste.

    Publicidade

    O derretimento foi rápido e incontrolável. A libra caiu, o banco central teve que interferir para salvar fundos de pensão, a cabeça do ministro da Economia foi ofertada em sacrifício, as reformas foram jogadas foras, as dissensões internas entre conservadores chegaram ao ponto de gritos e empurrões numa fatídica sessão parlamentar ontem.

    Continua após a publicidade

    Jeremy Hunt foi imposto à primeira-ministra como responsável pela economia, mas teve tempo apenas de rasgar o programa rejeitado. 

    Publicidade

    O próprio Hunt gosta de dizer que “os governos não controlam os mercados”. E os menos crédulos concluíram que nem mesmo ele, escalado estava dominando a dinâmica. “Estava sendo guiado pelas instituições do Estado às quais se credita um entendimento melhor dos mercados”, escreveu, eufemisticamente, James Forsith na Spectator. Entre elas, o Banco da Inglaterra, matriz de todos os bancos centrais, e o Departamento de Responsabilidade Fiscal. 

    O caso Truss ilustra, de forma extremamente didática, as vantagens e desvantagens do sistema parlamentarista, uma criação inglesa que se propagou pelo mundo. Entre as desvantagens, o chefe do partido que tem maioria no Parlamento pode chegar ao governo sem a força do voto popular, como foi o caso de Liz Truss. Isso o enfraquece intrinsecamente. 

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Em países com múltiplos partidos, pode ser impossível formar uma maioria, como acontece com Israel, levando a eleições sucessivas cada vez que um ou dois parlamentares saem da coalizão no poder. 

    Na Itália, desde Silvio Berlusconi não havia um primeiro-ministro amparado pelo voto popular. E não é impossível que Giorgia Meloni, a candidata da direita nacionalista, não consiga formar governo. O próprio Berlusconi, que voltou ao Senado e integra da coalizão de direita, está sabotando a sua aliada. “Teimosa, prepotente, arrogante e ofensiva”, escreveu ele num papel ostensivamente mostrado às câmeras, depois que Giorgia Meloni não aceitou o nome que indicou para ministro das Relações Exteriores.

    Adjetivos muito parecidos foram empregados para descrever Liz Truss e seu programa – “jihadista” ou ingênuo, escolham o pior – de incentivo ao crescimento econômico sem levar em conta todos os fatores envolvidos.

    Continua após a publicidade

    A rapidez com que foi riscada do mapa mostra a vantagem do parlamentarismo. Quando a crise é grande demais, o próprio partido no poder consegue resolvê-la, pelo menos teoricamente. Não é preciso impeachment nem acordo com o Centrão, formas conhecidas pelo presidencialismo brasileiro.

    A intervenção é movida pelo instinto de sobrevivência. Os parlamentares conservadores não só estavam vendo o governo levar o país para o abismo, como suas próprias carreiras acabarem. As pesquisas mais recentes davam 51% dos votos para a oposição do Partido Trabalhista na próxima eleição, em 2024, e abissais 23% para os tories, como os conservadores são chamados. Com espaço para cair mais.

    Diante do tamanho da crise, a eleição do novo líder do Partido Conservador, que se torna automaticamente primeiro-ministro, será num prazo recorde, possivelmente de uma semana.

    Continua após a publicidade

    O mais cotado é Rishi Sunak. Ele era o preferido dos políticos profissionais, mas Liz Truss encantou as bases falando o que mais gostam de ouvir: menos taxação e menos intervenção do Estado.

    Rishi, ao contrário, disse, como ministro da Economia e como candidato, que os impostos tinham que subir para compensar o rombo causado pela pandemia e outras despesas criadas pelo efeito Ucrânia.

    Quem gosta de ouvir que vai ter que contribuir mais? E ainda por cima falado por um milionário que usa mocassins Prada para visitar um canteiro de obras?

    Rishi Sunak fez fortuna no mercado financeiro e se casou com a filha de um bilionário – ambos são de origem indiana. O que era um ponto contra pode ter virado um ponto a favor.

    Se os parlamentares conservadores se unirem em torno de um só candidato, a questão estará resolvida mais rapidamente. Já aconteceu antes.

    Se Boris Johnson, como se especula no momento, quiser voltar à arena, a novela vai ficar mais animada.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.