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Imprensa mundial seguiu a brasileira – e acreditou em vitória esmagadora

De “grandissíssimo favorito” que corria o risco de enfrentar rios de sangue de um golpe avassalador, Lula foi transportado para a realidade

Por Vilma Gryzinski 3 out 2022, 07h32

A torcida apaixonada pela vitória do ex-presidente Lula talvez tenha influenciado muitas cabeças do jornalismo tradicional, que pintou um quadro onde um presidente Bolsonaro humilhado chamaria as Forças Armadas – assim, num clique – ou “seus partidários armados”.

O banho de sangue criado na imaginação jornalística não aconteceu, embora a “a campanha tenha sido literalmente coalhada de tiros e esfaqueamentos, perpetrados quase que exclusivamente por bolsonaristas fanáticos” – essa a interpretação algo delirante dada por Euan Marshall para o Telegraph, um jornal, note-se, conservador.

Entre os jornais mais à esquerda, nem se fala. A torcida substituiu os métodos jornalísticos tradicionais e correspondentes estrangeiros fizeram uma coisa muito usada por jornalistas brasileiros, que é ouvir especialistas que apenas confirmem o que eles já concluíram que vai acontecer. O resultado está aí.

Mesmo plantado nessa categoria, o El País, fez uma manchete sintética: “Bolsonaro contradiz todos as pesquisas eleitorais no Brasil”.

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Atenção, não erraram as pesquisas, mas o candidato que teimou, imaginem só, em contradizê-las.

No Figaro, onde Lula era “o grandíssimo favorito”, Bolsonaro “criou o elemento surpresa” – embora as pesquisa brasileiras mencionadas o deixem com 38% dos votos no segundo turno, o que o colocaria na situação de ter menos votos na segundada rodada do que na primeira.

O jornal também foi um dos poucos a registrar que “o resultado foi uma decepção para o campo do ex-presidente Lula”, depois de “apostar tudo nos últimos dias por uma vitória no primeiro turno”.

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“Foi uma vitória com gosto de derrota” para Lula, disse a Economist,  com um resultado muito mais apertado do que as pesquisas previam, o que dá um certo impulso a Bolsonaro no segundo turno. A Economist também tinha feito campanha acelerada contra Bolsonaro, chamando-o de “ameaça para a democracia brasileira”.

“Brasileiros temem que ele possa incitar uma insurreição, talvez como a que a América sofreu quando uma horda de seguidores de Donald Trump invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 – ou talvez pior”, prognosticou sombriamente a revista. Note-se que o sujeito indefinido – “brasileiros temem” –  pode justificar qualquer coisa.

Uma votação tranquila, com participação importante, resultado mais apertado do que o antecipado pelas pesquisas, embora amplamente reconhecido entre as partes? Ah, falar em coisas normais não tem o mesmo charme.

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O New York Times também maneirou na torcida, com uma manchete direta: “Bolsonaro supera pesquisas e força segundo turno contra Lula”.

“Pesquisadores parecem ter se enganado sobre a força de candidatos conservadores no país. Governadores e congressistas apoiados pelo senhor Bolsonaro superaram as pesquisas, ganhando muitas disputas no domingo”.

O único dos grandes jornais a não apresentar uma imagem não apenas negativa, mas até maligna, de Bolsonaro foi o Wall Sreeet Journal, num editorial publicado antes da eleição.

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“O estilo impetuoso e politicamente incorreto e confrontos com o Supremo Tribunal ativista o tornaram um defensor dos tradicionalistas e alvo da poderosa imprensa esquerdista do país”, disse o editorial, trazendo à tona “surpresas positivas”, como o crescimento de 2,4% no primeiro semestre, controle de gastos e melhora do clima de investimentos. Lula, ao contrário, pode aumentar o papel do Estado e insuflar o protecionismo.

Mas o que é isso diante da imagem de incinerador de florestas, o rótulo que pegou em Bolsonaro, por inépcia de uma política externa entregue, em sua primeira fase, a um comando dado ao fabulismo conspiracionista?

“A verdade é que o abjeto e desequilibrado Bolsonaro surpreendeu por como obteve resultados especialmente positivos em todo o país”, escreveu no Página 12, o jornal esquerdista argentino, o colaborador brasileira Eric Nepomuceno. “Excetuando-se o Nordeste pobre, Bolsonaro ganhou em todas as demais regiões. Com exceção de Minas Gerais, o ultradireitista desmentiu todas as pesquisas que indicavam uma vantagem de Lula entre razoável e grande”.

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Comparada à primeira eleição, o erro das pesquisas parece até menos grave. Nem se fale na eleição de Donald Trump em 2016. Alguns dos prognósticos que deixaram os apresentadores de televisão engasgado quando a realidade das urnas foi exposta: o Consórcio Eleitoral de Princenton dava a Hillary Clinton 99% de probabilidade de vitória; o Huffington Post, 98%; O New York times, 95%. O FiveThirtyEight, o mais modesto de todos, dava “apenas” 71%.

Lula ganhar com menos do que o esperado e Bolsonaro perder com mais do que o previsto são fato que criam uma realidade que seria interessante para os jornalistas explorarem o que os eleitores de cada parte enxergam de positivo em cada um deles, sem clichês. 

É uma esperança praticamente vã. Contra argumentos, não há fatos. E não se deve esperar que a maioria da imprensa tradicional ofereça algo sequer parecido com eleitores normais que optaram por votar em Bolsonaro. O choque do erro nas pesquisas passa em um dia e a torcida será retomada imediatamente, com perda, infelizmente, para os que tentam entender o que está acontecendo.

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