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Igreja: nem Jesus escapa do catolicismo segundo Francisco

Papa vai para a briga com sínodo amazônico, cerimônia celebrando sincretismo, fim do celibato e até comentário sobre a natureza humana de Cristo

Por Vilma Gryzinski 11 out 2019, 07h14

A olhos brasileiros, mais habituados ao sincretismo religioso, não foi assim nada escandaloso. Mas a “escultura” de Pachamama – uma grávida representando a mãe terra, meio quinquilharia de turista -, reverenciada pelo papa Francisco, justamente no dia de seu santo padroeiro, deixou os tradicionalistas em pânico.

Idolatria e politeísmo foram algumas das palavras invocadas. Por esta ótica, a fase da heresia já ficou para trás.

Como se fosse pouco o sínodo sobre a Amazônia que Francisco convocou como uma espécie de entronização da religião da Terra, uma mensagem que faz muito sucesso por motivos óbvios, a presença de bispos loucos pelo fim do celibato, indígenas variados e discussões de extrema importância – na verdade, tudo já está acertado -, o papa ainda entrou no terreno altamente explosivo da cristologia.

O sínodo de Pachamama coincidiu, se é que se pode falar em coincidências, com mais um artigo de Eugenio Scalfari, um grande amigo italiano do papa.

Fundador do jornal La Reppublica, que caminhou do fascismo (o verdadeiro, italiano, da época de Mussolini) para o socialismo, Scalfari tem longas conversas com Francisco e depois escreve sobre elas.

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Sobre a última, disse, literalmente: “Quem teve, como tocou a mim em muitas ocasiões, a forte de encontrá-lo e falar com ele com a máxima confiança cultural, sabe que o papa Francisco concebe Cristo como Jesus de Nazaré, homem, não Deus encarnado.”

“Quando me coube discutir estas frases, o papa Francisco me disse: ‘São a prova provada que Jesus de Nazaré, uma vez tornado homem, mesmo sendo um homem de virtude excepcional, não era na verdade um Deus.”

Nem é preciso lembrar que a religião cristã foi construída sobre o fundamento total, absoluto e inegociável da divindade de Jesus.

Se Scalfari, totalmente aceito e até publicado pelo Vaticano de Francisco, tivesse cometido um engano gravíssimo, sobre um assunto de semelhante dimensão, qual deveria ser a reação?

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Certamente, não o enrolado e constrangido desmentido do diretor da sala de imprensa. Feito nos seguintes termos:

“As palavras que o doutor Eugenio Scalfari atribui, entre vírgulas, ao Santo Padre, durante os colóquios com ele mantidos, não podem ser consideradas como uma reprodução fiel de tudo que foi efetivamente dito, mas representam uma representação pessoal e livre do que ouviu.”

Não é preciso nem ser tradicionalista – ou sequer católico – para entender que a natureza humana e divina de Jesus Cristo é um assunto vital.

E mais importante do que o aquecimento global, a incorporação de rituais e crenças indígenas à doutrina da Igreja ou o culto a Pachamama.

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Aliás, coisa que nem existia na época dos exigentes e cruéis deuses pré-colombianos, pelo menos não na presente e maternal versão da mulher grávida. Embora sacrificar umas lhamas aqui e ali ainda continue a ser uma prática comum.

Ressalta-se também que o papa ficou sentado ao lado de dom Cláudio Hummes enquanto convidados indígenas e religiosos de menor hierarquia curvavam-se em torno da toalha redonda onde repousavam os objetos cerimoniais (ídolos, ídolos, desesperam-se os tradicionalistas).

“Capetalismo”

É claro que o papa argentino, os bispos brasileiros e outros latino-americanos presentes no sínodo em princípio creem nos fundamentos da religião católica.

As reformas modernizadoras, acreditam, vão aproximar a Igreja do “povo de Deus” – os que eles acham merecedores de ser considerados cristãos de verdade, as vítimas do “capetalismo”, a única versão que conhecem e admitem.

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Muitos dos presentes ao sínodo também vivem ou viveram de perto a realidade, a pobreza e a religiosidade simples dos rincões distantes.

Acham pouco cristão fazer como os missionários do passado e cortar as culturas locais de suas crenças originais, imaginando uma mistura benéfica para todos.

Também sabem que a maioria dos padres tem suas esposas não-oficializadas, ainda mais quando expostos às distâncias e tentações dos trópicos.

Acham que o fim do celibato, especialmente para os que não têm mais idade para encantar-se com as cunhãs, aumenta a presença da Igreja e até atrai vocações.

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Nada a fazer, claro, diante da energia, o fervor, a maleabilidade, o código de conduta claro e a oferta de experiências religiosas poderosas das igrejas evangélicas.

Querem ficar quietinhos no seu espaço diminuído, sem fazer nenhuma loucura como converter os gentios ou pregar que só existe um caminho para a salvação.

A Igreja está encolhendo em ritmo acelerado e eles são as principais testemunhas disso. Estão no lugar certo, com o papa certo.

O momento em que o milenarismo ecológico também propicia uma espécie de novo pastoralismo, com a denúncia ao consumo, o ódio ao progresso industrial e a crença de que só uma vida desprovida dos confortos modernos vale ser salva.

Ou nem isso. Sem a natureza divina Daquele cujo sacrifício conferiu aos homens o dom de escapar do pecado original, nem Jesus salva.

Pobres dos católicos comuns, que não gostam nem dos tradicionalistas extremados nem dos bispos progressistas, foram criados para reverenciar o papa e talvez até concordem com exceções ao celibato, mas não acham Nossa Senhora nada parecida como Pachamama.

Estes estão encrencados.

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