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Hora ‘daquela’ decisão: ir ou não para ventilação artificial?

Não são apenas os médicos que decidem; doentes idosos também podem escolher não ser internados em UTIs e receber tratamento longos ou inúteis

Por Vilma Gryzinski 31 mar 2020, 07h47
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  • Morrer sozinho em casa ou morrer sozinho no hospital?

    O novo coronavírus está criando condições mais difíceis ainda para os que esperavam, mesmo se não manifestassem explicitamente, um fim o menos traumatizante possível.

    Para pessoas em idade avançada e com várias complicações de saúde, ser internadas e entubadas por causa da pneumonia causada pelo vírus pode significar não apenas cerca de três semanas de tratamento agressivo e inútil.

    Implica também em ocupar leito, equipamento e recursos médicos que poderiam ir para outros pacientes com mais chances.

    Segundo pesquisa feita num hospital inglês, cerca de 50% dos pacientes com Covid-19 conseguem sair da intubação e se recuperar. Outros centros dão um índice mais baixo ainda, de 40%.

    Atenção: ser idoso e positivo não significa uma sentença de morte, como tantos estão temendo. Estamos tratando aqui de casos extremos, com pessoas já muito comprometidas.

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    No geral, a mortalidade verificada na Grã-Bretanha é parecida com a de outros países: 9% para os acima de 80 anos, 5% na faixa dos 70 aos 79.

    A médica britânica Rachel Clarke, especialista  em medicina paliativa, foi bem direta: “Se você é muito idoso e tem muitas doenças, provavelmente nunca será apropriado ser colocado na ventilação artificial”.

    “Se conversar antecipadamente sobre isso, poderá concluir que é melhor ficar em casa”.

    A nova epidemia está despertando debates urgentes sobre como tratar do fim da vida, um assunto no qual os Estados Unidos foram pioneiros, com enormes quantidades de pessoas subscrevendo há muito tempo os documentos que proíbem ser submetidas a medidas extremas conhecidas como DNRs (Do not Resuscitate).

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    No Brasil, o equivalente é o testamento vital.

    Todo mundo provavelmente já testemunhou como a medicina tem recursos extraordinários para salvar vidas que, há não muito tempo, seriam perdidas.

    Ao mesmo tempo, estes recursos podem acabar sendo empregados para prolongar, inutilmente, o sofrimento de manter por semanas, meses e até anos, vidas que na prática já se apagaram, mas são sustentadas por aparelhos.

    As decisões individuais no caso do Covid-19 muitas vezes já estão sendo atropeladas pela realidade dos hospitais lotados e sem equipamentos para todos os que estão com a pneumonia já avançada.

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    Além da triagem dos pacientes, existe um outro fator sendo levado em consideração: o risco para médicos e equipes quando precisam fazer aquelas intervenções extremas, conhecidas por leigos através de filmes.

    Uma equipe grande começa a aplicar ao paciente com parada cardíaca ou respiratória uma série de procedimentos de emergência máxima para a ressuscitação.

    É aí, justamente, que são maiores os riscos de contaminação.

    A grande quantidade de fluídos corporais envolvidos nesse processo tem probabilidade maior de “atravessar” as camadas de proteção.

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    Médicos e profissionais de saúde já vivem num ambiente onde circulam altas cargas virais – e os primeiros estudos parecem indicar que a intensidade da doença pode depender da maneira como é adquirida.

    Contato direto com infectados, por tosse, espirro e outras formas de transmissão pessoa a pessoa, é a pior.

    Na Itália, no centro da tragédia, já morreram mais de 60 médicos.

    O mundo se aproxima de um milhão de infectados confirmados. Nos países onde o pico parece estar próximo, há pequenos indícios de esperança na leve diminuição de casos positivos.

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    “Podemos esperar que Espanha e Itália estejam perto desse ponto?”, perguntou Michael Ryan, diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde.

    “Sim. Mas todo mundo fala da curva ascendente e de estabilização. A pergunta é como baixar a curva. E para isso não basta o confinamento. Para reduzir os números, é preciso duplicar os esforços do sistema de saúde”.

    Na solidão do confinamento especial, muitos idosos sequer conseguem olhar o complicado quadro geral da pandemia. 

    O grande fantasma do Alzheimer foi substituído pelo vírus. O individual ganhou um aspecto coletivo e uma urgência sem precedentes.

    Como é comum, muitos idosos não querem dar trabalho para a família ou sofrer mais do que o necessário. 

    Falar sobre isso pode até funcionar como uma forma de alívio

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