Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Heróis ucranianos: adolescentes, gays, amputados e, claro, o presidente

A propaganda de guerra praticamente se produz sozinha e divulga histórias de alegrar os corações mais empedernidos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 jun 2022, 16h58 - Publicado em 8 jun 2022, 07h53

Andri Pokrasa é um perito em drones que ajudou a salvar Kiev. Recebeu, através de uma associação civil, o apelo de forças ucranianas numa área perto da capital: precisavam das coordenadas de uma coluna russa que avançava na estrada de Zhitomir. 

Respondeu à altura. Escondido numa área rural, avistou as luzes da coluna, pôs o drone no ar e passou não só a geolocalização como até fotos dos invasores.

Detalhe: Andri tem 15 anos e, se seu país não estivesse em guerra, provavelmente preferiria andar de skate em vez de virar um heroico espião do inimigo – que o deixou “muito, muito assustado”, mas não o suficiente para fugir, como seria a reação natural de qualquer humano com juízo.

Histórias assim alimentaram diariamente a máquina de informação que dá de dez a zero na propaganda russa.

Uma das principais fontes é Anton Gerashchenko, que se apresenta assim no perfil do Twitter: “Patriota ucraniano. Assessor do Ministério do Interior da Ucrânia. Fundador do Instituto para o Futuro. Inimigo oficial da propaganda russa”.

Continua após a publicidade

E que inimigo. Gerashchenko que escapou de uma tentativa de assassinato em 2017, domina perfeitamente a arte de fornecer histórias comoventes para alimentar o patriotismo dos cidadãos sujeitos às incontáveis dificuldades de um país em guerra e o entusiasmo dos estrangeiros que apoiam a causa ucraniana.

Uma amostra de seus tuítes inclui Valeria, a linda adolescente que vestiu um longo vermelho para comemorar a formatura do segundo grau entre as ruínas da sua escola. Tem também um vídeo do voluntário da vizinha Belarus que perdeu a perna esquerda e faz flexões de braço na barra para se fortalecer – um dos muitos amputados que imploram para voltar ao front. 

“Obrigado por defender a Ucrânia, herói”, tuitou Gerashchenko. 

Mais: Roman, mostrado numa foto da parada gay com o namorado, morreu em 31 de maio na batalha por Kharkiv. “Descanse em paz, Roman”.

Continua após a publicidade

Persh, codinome de um soldado fotografado faltando vários pedaços, mas com um sorriso de alegria total, alinhou os seguintes feitos: perseguiu num carro velho e roubou um blindado russo, dominou um helicóptero de ataque e, quando estava evacuando onze soldados ucranianos feridos, sofreu múltiplos traumas.

“Super-heróis são nada comparados a você”, disse Gerashchenko, enquanto o público pedia em coro que Persh tenha direito a seu próprio Great Theft Auto.

Outra fonte importante de propaganda são telefonemas interceptados de soldados russos que mostram seus maus desígnios – o que conversa tranquilamente com a mãe sobre as torturas que vê e pratica é de arrepiar – ou as dificuldades na frente de batalha.

Numa conversa vazada, dois coronéis, Maksim Vlazov e Vitali Kovtun, soltam as feras. Eliminando-se os nada surpreendentes palavrões, Vlazov diz: “Nosso pessoal está sofrendo perdas terríveis. Eu conheço um pouco de história da guerra e comparo isso com a Guerra da Finlândia, de 1939-1940. É a mesma coisa”.

Continua após a publicidade

As forças soviéticas perderam mais de 120 mil homens nesse conflito, ocorrido em paralelo à II Guerra Mundial.

Vlazov também se dedica a uma das principais atividades dos militares, falar mal dos escalões superiores. Sergei Shoigu, o ministro da Defesa que usa farda de general, mas nunca serviu em nenhuma força, é “um civil incompetente”, além de “um *****” que não manda nada.

Kovtun responde com seus próprios impropérios e ridiculariza a ideia de que todos os combatentes russos são militares profissionais. “Eles pagam 30 mil rublos, onde vão arranjar profissionais?”, pergunta. A quantia equivale a 490 dólares.

Os coronéis também criticam Vladimir Putin – mais palavrões – por não mandar destruir Kiev e não bombardear, por exemplo, o Verkhovna Rada, o parlamento ucraniano.

Continua após a publicidade

Outra interceptação mostra um militar russo contando à esposa que um general apareceu no front, de revólver na mão, ameaçando atirar em quem não cumprisse a ordem de avançar. Um jovem soldado tirou o pino de uma granada e desafiou o general a ir até ele. “Vamos explodir juntos”, avisou.

“Os caras das forças especiais começaram a apontar suas armas para nós. Então, nós apontamos nossas armas para eles. Basicamente, quase nos matamos”.

O pior só não aconteceu porque o general entrou no seu veículo e foi embora.

Todo mundo sabe que a maior arma de propaganda da Ucrânia é Volodymyr Zelensky, o presidente que se recusou a salvar a própria pele quando tudo parecia perdido.

Continua após a publicidade

Zelensky agora acrescentou uma atitude à sua aura heroica: visitas a áreas conflagradas muito próximas das forças russas.

Na mais recente, chegou quase à fronteira com a potência inimiga, em Lisichansk. Para levantar o moral da tropa, distribuiu condecorações e vigorosos apertos de mão – as imagens mostram que o presidente, que sofre de insônia, pode passar horas em branco, mas continua a levantar peso e reforçar os braços.

Enquanto isso, a televisão russa mostra apresentadores e convidados que sistematicamente ameaçam o resto do mundo com as armas atômicas de seu poderoso arsenal.

“Eu não vou pedir autorização de voo para os covardes búlgaros”, escreveu o chefe do programa espacial russo, Dmitri Rogozin, referindo-se ao Sarmat, chamado no Ocidente de Satã 2, o belzebu hipersônico que é o mais devastador míssil nuclear russo. 

Rogozin incluiu na ameaça, além da Bulgária, a Romênia e Montenegro. Os três países negaram a Sergei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores, permissão para sobrevoá-los, numa viagem para a Sérvia, o único aliado europeu de Moscou.

Continuem assim. Ameaçar países com a aniquilação nuclear completa é certamente uma ótima maneira de fazer amigos e influenciar pessoas.

Enquanto isso, a propaganda ucraniana adora mostrar soldados brincando com cachorrinhos ou gatos abandonados por donos em fuga.

É só comparar o que funciona mais.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.