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Guerra fria: vai mal a relação entre Biden e Netanyahu e só tende a piorar

Líderes americanos e israelenses já tiveram muitos atritos no passado e, dessa vez, a deterioração ide ficar pior com o dilema de Gaza

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 11h22 - Publicado em 14 mar 2024, 06h34
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  • “Quem elege os primeiros-ministros de Israel são os cidadãos de Israel e ninguém mais”. A declaração de uma “alta fonte” foi feita, em off, sem intermediários: Benjamin Netanyahu, reagindo a um relatório da inteligência americana que punha em dúvida a sua capacidade política de continuar na chefia do governo, mais uma pedrada retórica de um processo em que o presidente Joe Biden já disse que o primeiro-ministro está fazendo mais mal do que bem a Israel.

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    “Israel não é um protetorado dos Estados Unidos, mas um país democrático e independente cujos cidadãos são quem elege o governo. Nós esperamos nossos amigos trabalhar para derrubar o regime de terror do Hamas e não o governo eleito de Israel”.

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    O tom duro e sem firulas diplomáticas expõe uma realidade: os dois lados têm boa dose de razão.

    Biden, depois das demonstrações notáveis de apoio a Israel em seguida ao ataque de 7 de outubro, está falando num tom agressivo – acentuado pela perspectiva de que a oposição à campanha de Gaza vire uma versão moderna da Guerra do Vietnã num momento em que sua candidatura à reeleição já enfrenta uma questão complicada, a da sua idade.

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    CONFIANÇA PERDIDA

    Só para lembrar: em 31 de março de 1968, Lyndon Johnson surpreendeu os Estados Unidos ao anunciar que não seria candidato à reeleição. “Existe divisão na casa americana agora”, disse, sobre os protestos contra a guerra. Gaza não envolve americanos, mas as cenas de vítimas inocentes vão ficando insuportáveis, aumentando as pressões sobre Biden. Para ele, obviamente, não existe assunto mais importante do que a reeleição.

    Netanyahu, como diz a inteligência americana, realmente está ameaçado e as pesquisas de opinião confirmam que perdeu a confiança da maioria dos israelenses., justificada, considerando-se o despreparo que causou tantas vítimas em 7 de outurbro.

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    E também é muito provável que o Hamas vá “continuar a luta armada por muitos anos”. Para erradicá-lo, Israel teria que usar de violência muito maior, o que seria insustentável politicamente.

    A avaliação dos serviços de inteligência corresponde, curiosamente, à feita por Donald Trump logo depois do ataque do Hamas, quando disse que “Netanyahu foi muito prejudicado. Ele não estava preparado e Israel também não”.

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    “MUITA PREOCUPAÇÃO”

    Trump guarda uma bronca tremenda contra Netanyahu por ter sido o primeiro a cumprimentar Biden pela eleição, em 2020. Trump tem dessas coisas, mas é uma tradição da política americana administrar correntes conflitantes: o apoio a Israel e, ao mesmo tempo, a necessidade de cuidar de seus interesses como superpotência, preservando os aliados árabes.

    Parece difícil de acreditar, mas em 1956 o presidente Dwight Eisenhower, com o peso das cinco estrelas conquistadas como comandante aliado durante a II Guerra, promoveu uma votação da da ONU para exigir que Israel, Grã-Bretanha e França se retirassem imediatamente do Canal de Suez, uma aventura tresloucada.

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    E ainda escreveu para o primeiro-ministro David Ben Gurion: “Declarações atribuídas a seu governo, no sentido de que Israel não pretende se retirar do território egípcio foram levadas ao meu conhecimento. Francamente, senhor primeiro-ministro, os Estados Unidos veem tais relatos, se verdadeiros, com muita preocupação”.

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    Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Os três países se retiraram de Suez, Gamal Abdel Nasser ficou com o canal e, eventualmente, o Egito acabou saindo da esfera soviética e se aliando aos Estados Unidos. Houve algumas guerras no caminho, mas também assinou um tratado de paz com Israel.

    DESAFORO

    No meio de negociações vitais com a União Soviética para ter garantias de controle da corrida nuclear, outro presidente, Richard Nixon reclamou com Henry Kissinger dos judeus americanos que pediam que a emigração de judeus soviéticos entrasse no pacote. “Se torpedearem essa cúpula, vou colocar a culpa neles e vou fazer isso às nove horas da noite diante de 80 milhões de pessoas. Não podem colocar os interesses dos judeus acima dos interesses da América”, disse a Kissinger que, como sabemos, era judeu.

    O que não o impediu de reclamar em termos nada contidos do governo do primeiro-ministro Yitzhak Rabin pela resistência a fazer concessões ao Egito, com quem o secretário de Estado americano fazia a intermediação para a paz, depois da Guerra do Yom Kippur, em 1973. “Eles são a pior droga do mundo”, reclamou Kissinger com o substituto de Nixon, Gerald Ford. Não usou exatamente a palavra droga.

    Barack Obama tinha relações péssimas com Netanyahu e, no último dia de governo, liberou a votação no Conselho de Segurança da ONU exigindo que Israel suspendesse imediatamente todos os assentamentos em territórios palestinos. Netanyahu tinha feito o desaforo de falar ao Congresso americano diretamente, sem um convite de Obama e torpedeou o acordo nuclear com o Irã. A realidade provou que tinha razão: o regime iraniano fingiu que queria negociar, mas continuava com seu programa pois o objetivo geopolítico é ter artefatos nucleares.

    Para Israel, seja quem for o primeiro-ministro, os problemas atuais são existenciais e conflitantes: não pode conviver com o Hamas e a ameaça de sofrer novas atrocidades, não pode lançar um ataque total em Gaza sob risco de provocar mais vítimas ainda entre a população civil, não pode fazer uma operação que provoque a morte em massa de reféns, não pode arruinar a relação com os Estados Unidos e não pode acabar isolado na comunidade internacional.

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    Netanyahu ou qualquer um que esteja no lugar dele, tem que administrar isso. E ainda não provocar Joe Biden. Para ele, talvez o mais difícil de tudo.

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