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Este soldado foi decapitado e a cabeça colocada à venda. É possível paz?

Aumentam as pressões do governo americano para Israel aceitar um acordo incluindo Estado palestino, mas atrocidades foram horríveis demais

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 22 jan 2024, 18h52 - Publicado em 22 jan 2024, 06h36

O cabo Adir Tahar tinha apenas 19 anos quando foi morto por terroristas do Hamas que invadiram comunidades fronteiriças israelenses em 7 de outubro. Seu pai, David, recebeu o corpo e não seguiu o conselho dos militares que o entregaram. Meia hora antes do enterro, abriu o caixão e viu que, além de destroçado por granadas, o corpo também estava sem cabeça. “Um pai precisa saber tudo sobre os filhos”, argumentou.

Em vez de se fechar no luto indescritível que uma morte assim provoca, David Tahar começou a fazer de tudo para tentar recuperar e dar enterro digno à cabeça desaparecida. Viu horas e mais horas de vídeos hediondos, a maioria feita pelos terroristas. Num deles, aparecia o corpo decapitado do filho.

Em dezembro, aconteceu um “milagre”, segundo ele: um terrorista preso revelou em interrogatório que havia decapitado um soldado e tentado vender a cabeça por 10 mil dólares. Uma unidade especial do exército foi ao local em Gaza indicado pelo preso. Lá, num freezer horizontal, num saco cheio de bolas de tênis, estava a cabeça. Depois de exames de DNA, David Tahar recebeu a cabeça mutilada do filho para um segundo enterro.

“É simplesmente uma barbárie ensandecida”, tentou resumir ele.

A história é horripilante, mas precisa ser contada, inclusive porque ajuda a entender a grande virada que aconteceu em Israel depois das atrocidades praticadas pelo Hamas.

TEMPESTADE PERFEITA

Numa pesquisa feita em 2012, 61% dos israelenses apoiavam a criação de um Estado palestino e 30% eram contra. A mesma pergunta, feita no mês passado, foi respondida com uma guinada completa: 65% são contra e 25% a favor.

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Qual político israelense teria condições de defender a criação desse Estado, mesmo que em troca fossem libertados os reféns levados para Gaza, a Arábia Saudita normalizasse relações com Israel e todo um processo de garantias de segurança fosse implantado?

A resposta, no momento, é que nenhum líder conseguiria fazer isso. Muito menos, claro, Benjamin Netanyahu, que sempre foi contra. De maneira terrível, as atrocidades de 7 de outubro convenceram muitos israelenses de que ele tinha razão: uma entidade palestina armada vizinha a Israel é um risco existencial que o país não pode correr. “Em todos os lugares em que nos retiramos, só tivemos terror em troca”, disse o primeiro-ministro.

Israel “precisa ter o controle de segurança de todo o território a oeste do rio Jordão; isso colide com a ideia de soberania, o que eu posso fazer? Eu digo a verdade para nossos amigos americanos”, repetiu ele diante das novas pressões do secretário de Estado americano, Antony Blinken, para que seja montada uma rota de paz com concessões mútuas.

Muitos analistas consideram que Netanyahu já era e não vai aguentar a tempestade perfeita que se acumulou em torno dele: a responsabilidade final pelo despreparo do 7 de outubro, as tensões internas do gabinete de guerra, a rejeição da opinião pública e as pressões dos Estados Unidos para que aceite uma Autoridade Palestina “revigorada” assumindo a jurisdição civil de Gaza e, claro, um “horizonte”, como diz Blinken, sobre um futuro Estado.

Só para dar uma ideia de como as coisas vão mal com “nossos amigos americanos”: Joe Biden passou 27 dias sem falar com Netanyahu.

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RACHAS INTERNOS

E quem vai tomar conta do governo de Gaza em matéria de manter serviços públicos, pagar funcionários, vacinar as crianças e outras atividades administrativas que precisarão ser retomadas quando a guerra amainar? Netanyahu também não quer discutir a respeito — principalmente porque, no caso de qualquer concessão, perderia o apoio da ultradireita com a qual fez a coalizão que o sustenta.

Os rachas internos estão aumentando, em especial com os dois únicos oposicionistas que aceitaram integrar um governo de emergência, Benny Gantz e Gadi Eiseinkot, ambos ex-chefes do estado-maior das forças armadas. Eisenkot, que perdeu um filho e um sobrinho quase ao mesmo tempo em Gaza, já disse que o país tem que fazer eleições ainda este ano. Ele também afirmou que é “uma ilusão” achar que os reféns serão libertados vivos através da pressão militar.

Gantz aparece nas pesquisas como o favorito para ser primeiro-ministro. Ele é um centrista que poderia ter mais flexibilidade em relação a um grande acordo para superar os impasses quase impossíveis do momento, mas conquistar a opinião pública é outra coisa.

“Nenhum israelense em seu juízo perfeito está pensando em processos de paz agora”, disse em Davos o presidente Isaac Herzog. Sem poder quase nenhum, mas com autoridade moral, Herzog, de tradição de centro-esquerda, resumiu o estado de espírito da maioria da nação depois do 7 de outubro: “Todo israelense quer saber se não será atacado da mesma maneira pelo norte, pelo sul ou pelo leste”.

Ou seja, se barbaridades como o caso do soldado decapitado cuja cabeça foi colocada à venda não se repetirão.

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Sem o controle total, ninguém pode garantir isso. Com o controle total, não existe “horizonte” para acordos de paz e o ciclo da violência tenderá a se repetir. Esta é a dura realidade.

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