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Em pleno paraíso, a primeira-ministra da Nova Zelândia não aguenta tranco

Muitos gostariam de ter os problemas dela, mas Jacinda Ardern resolveu que “não tem mais combustível” para continuar no governo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 jan 2023, 08h01 - Publicado em 20 jan 2023, 08h00

Se você achar que está sonhando ao andar em paisagens idênticas às dos filmes de O Senhor dos Anéis, não, você está na Nova Zelândia. Ou se sente tão seguro que esquece as precauções nas quais somos tristemente escolados? Não, está no país que ocupa o segundo lugar – apenas um resquício depois da Islândia – no Índice Global de Paz. E se esbarrar num milionário da estirpe de Elon Musk ou Peter Thiel, não é por acaso: ricaços dos Estados Unidos escolheram a Nova Zelândia como Plano B, o lugar onde mandam construir bunkers do fim do mundo, para o caso de uma catástrofe climática ou guerra global.

Renda per capita de quase 50 mil dólares, menos de quatro mil mortos por covid, o sistema jurídico solidamente plantado na autonomia individual legado pela common law dos ingleses, mas sem a rigidez social da ilha original, e até o direito de dançar um haka sem ser chamado de apropriador cultural. Bom, já deu para ter uma ideia da coisa.

O que nos leva à pergunta: por que Jacinda Ardern, a primeira-ministra tratada como uma sumidade internacional, anunciou com lágrimas nos olhos que não tem mais gasolina no tanque para enfrentar outros quatro anos de governo e estará fora do poder em breve?

Uma dica: talvez esteja desconfiando que não vá mais ganhar eleitores com muita facilidade. Ao contrário, as pesquisas atuais dão apenas 33% de popularidade a seu partido, o Trabalhista, que já esteve perto de 50%. A oposição, mais conservadora, está com 39%.

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Quando foi eleita, Jacinda se tornou, aos 37 anos, a mulher mais jovem a governar um país em todo mundo. Ter uma filhinha e levá-la para amamentar numa sessão do parlamento contribuiu para a mística de que mulheres fariam governos diferentes, mais sintonizados com o mundo real do que os homens de terno que tantas vezes parecem desconectados do povo em nome do qual exercem o poder.

Houve muito de exagero, ou de wishful thinking, principalmente depois que Jacinda Ardern decretou o mais completo e total lockdown, só possível num país insular, quando o coronavírus mostrou sua carantonha para o mundo. Os rigores do isolamento, a obrigatoriedade da vacina e até um certo prazer sádico em exercer estes poderes de exceção provocaram protestos nunca vistos numa ilha de calma, literalmente, como a Nova Zelândia.

Da mesma forma que a Suécia se transformou em sinônimo de métodos menos inflexíveis para enfrentar a pandemia, a Nova Zelândia virou o seu oposto. Em ambos os casos, houve algum exagero nas interpretações. Também não foram nada simpáticos os apelidos dados a Jacinda pelos adversários do confinamento em massa, indo de Bruxa Má do Leste e inúmeras variações em torno de aparência equina – uma idiotice que só acontece com mulheres.

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O progressismo apaixonado de Jacinda colocou muita ênfase nas questões identitárias e podou algumas das vantagens competitivas da Nova Zelândia. “Somos uma sociedade de fronteira, um lugar onde as pessoas vêm morar em busca de oportunidades. Mas ela, ao contrário, produziu políticas punitivas para quem quer progredir. Tornou muito mais difícil ser produtor rural ou locador”, criticou o líder de um pequeno partido, David Seymour.

Com menos cuidado, Ross Clark escreveu no Telegraph que Jacinda “acreditou no próprio mito, de que era a pessoa mais virtuosa no poder em todo o mundo”, mas pesou a mão nas restrições durante a pandemia, entrou em conflito com os produtores rurais para arrancar na marra uma redução nas emissões de carbono e facilitou a vida de criminosos (em termos neozelandeses, evidentemente). Num país que chegou a ter setenta ovelhas por habitante, restringir a pecuária é um assunto muito sério.

Durante um curto período, Jacinda Ardern pareceu representar um certo alívio no narcisismo extremado que é uma característica inelutável dos políticos homens e do vício que têm em promover a si mesmos como ungidos para salvar seus povos. Perdeu um pouco dessa aura quando foi a uma recepção real na Inglaterra usando um manto de penas típico dos maoris. Aí, sim, pareceu apropriação.
A era Jacinda durou pouco e mostrou que mulheres podem cometer tantos erros quanto homens e que a sombra poderosa da China não tem preocupação de gênero quando se trata de atrair para sua órbita países do Pacífico.

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O que não elimina o fato de que continuamos a morrer de inveja dos problemas da Nova Zelândia.

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