Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Em nome de fazer o bem, até universidades de elite distorcem o ensino

Quem quer ser professor de matérias científicas em Yale tem que comprovar engajamento com o trio diversidade, equidade e inclusão

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 27 Maio 2024, 07h51 - Publicado em 27 Maio 2024, 07h51

Se fosse um país, a Universidade de Yale seria o quinto maior do mundo pelo critério de número de Prêmios Nobel: 65 (atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França).

Ainda está longe dos 150 de Harvard e provavelmente vai continuar assim. Ao politizar o ensino da ciência, Yale inevitavelmente entra na lista das instituições que, por vontade própria, deixam a categoria em segundo plano.

“Quer ser um biólogo molecular em Yale? Garanta que você tem um plano de dez etapas para desmantelar o racismo sistêmico”, escreveu o acadêmico John Seiler no The Free Press.

“Ao fazer contratações para o departamento de biofísica molecular ou bioquímica de Yale, os professores são instruídos a colocar o DEI ‘no centro de todas as decisões’”.

O conceito de DEI promove critérios de raça, gênero, orientação sexual e outros itens da pauta identitária. Os candidatos a cargos no corpo docente levam zero pontos de “não tiverem conhecimento e conscientização das questões relacionadas à DEI”, “não se sentirem pessoalmente responsáveis por ajudar a promover um ambiente de equidade e inclusão”, “não se envolverem em atividades que promovam a DEI” e “não tiverem objetivos ou planos para promover a DEI”.

Continua após a publicidade

Os que fizerem o oposto, obviamente, ganharão a qualificação “excepcional”.

COMISSÁRIO CULTURAL

Yale não é, com certeza, a única universidade de elite com esses critérios, mas chama a atenção pela rigidez. É certo procurar ampliar o leque da diversidade em todos os ambientes de ensino e trabalho? Com certeza. É certo colocar o critério do conhecimento em segundo plano?

Essa é uma discussão constante. A interferência de critérios políticos nas atividades artísticas e científicas tem um histórico de erros fenomenais, especialmente na antiga União Soviética.

O ápice desse absurdo foi representado por Andrei Jdanov, transformado por Stálin no supercomissário cultural, encarregado de formatar tudo aos conceitos ideológicos. Músicos como Shostakovich e Prokofiev foram “instruídos”sobre a maneira politicamente correta de compor. Ele deu nome até a uma doutrina, chamada Jdanovshchina, que vigorou entre 1946 e 1953. Artistas, cientistas e intelectuais tinham que enquadrar tudo, de obras de arte a pesquisas, na linha do partido.

Continua após a publicidade

“Em 24 de junho de 1947, Andrei Jdanov ampliou a política para incluir os campos da astronomia e da cosmologia, argumentando que deveriam ser expurgados das ideias burguesas, baseadas em mentiras e ilusões”, escreveu o jornalista italiano Piergiorgio Pescali. “Entre essas ideias estavam o Big Bang, a mecânica quântica e a teoria da relatividade de Einstein”.

“A teoria quântica foi rejeitada porque não descrevia a matéria como uma estrutura única e real, aparentemente negando o materialismo”.

PERIGO BÍBLICO

A rejeição ao Big Bang, que ainda era discutido por cientistas ocidentais, também tinha critérios políticos. “A cosmologia stalinista declarava que o universo é infinito (sem limite de espaço e matéria), eterno (nunca começou, nunca acabará), a matéria é apenas a manifestação material do movimento e da energia (não se contempla a dualidade das partículas de onda)”.

“Todas as teorias devem se enquadrar na filosofia materialista e dialética”.

Continua após a publicidade

O Big Bang tinha o perigo adicional de teorizar “uma criação que poderia ser comparada ao Gênesis da Bíblia”.

Problema: Igor Kurchatov, o pai da bomba atômica soviética, disse ao monstro Beria, chefe da política política e encarregado de comandar o programa nuclear, para contrabalançar a vantagem americana, que se a teoria da relatividade e a mecânica quântica fossem rejeitadas, a bomba atômica teria que ser também.

Beria relatou a “vacilada” a Stálin, mas a conferência de físicos nucleares convocada com o objetivo de rejeitar esses conceitos “antimaterialistas” acabou cancelada. Cinco meses depois foi testada a primeira bomba nuclear soviética. Kurchatov, um comunista dedicado, morreu com um retrato de Stálin ao lado da cama, mesmo depois que o grande ditador já havia mudado de plano e sido postumamente expurgado.

Jdanov, que era co-sogro de Stálin (seu filho Yuri era casado com Svetlana), caiu em desgraça antes e morreu em 1948.

Continua após a publicidade

PONTOS SOCIAIS

Estarão os grandes centros de pesquisa do país com o mais bem sucedido conjunto de conquistas científicas da história da humanidade ameaçando seu notável desempenho com políticas como a DEI, na prática o estabelecimento de cotas para as minorias? O critério da meritocracia está permanentemente eliminado ou haverá uma conciliação com as duas preocupações, a performática e a inclusiva?

Irão universidades e empresas abandonar os critérios politicamente corretos ou estes se tornarão uma prática permanente?

É importante lembrar que as empresas ganham pontos sociais, como na China, quando aplicam a DEI – e também podem se proteger de eventuais processos por discriminação se comprovarem que tinha um engajamento ativo com as políticas inclusivas.

O Citigroup, por exemplo, anunciou seus objetivos para 2025: ter 43,5% de mulheres nos seus quadros em escala global, 11,5% de negros e 16% de hispânicos e latinos no ramo americano, além de 10% de pretos e pardos no Brasil (pardos, essa invenção local, usado no original).

Continua após a publicidade

Há pelo menos um outro grande banco exigindo que funcionários brancos assinem declarações que reconhecem seus “privilégios” em relação a minorias raciais.

Os soviéticos deixaram um legado de bom ensino de matemática, física e astronáutica, depois que abandonaram as loucuras ideológicas, mas nunca se destacaram na alta tecnologia como os Estados Unidos. Estarão estes, num momento em que a competição da China cria uma concorrência jamais enfrentada, abrindo mão de sua hegemonia científica e tecnológica?

Terá Yale as respostas ou tudo já está perdido?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.