Sabem o que é SMAGA? Secret Make America Great Again. Ou seja, o exército silencioso ou secreto que, como em 2016, não abriu o voto nas pesquisas, mas saiu de casa para cravar o nome de Donald Trump.
Faltam 96 dias para a eleição de 3 de novembro, com o coronavírus bombando e as equipes dos dois candidatos tentando explorar todos os defeitos do adversário.
O acrônimo SMAGA e a ideia por trás dele são divertidos, mas refletem a alta ansiedade vivida na campanha de Trump, que trocou recentemente de diretor.
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Clique e AssineDiante das pesquisas que constantemente dão uma vantagem de 4 a 12 pontos para Joe Biden, apelar para a descrença nesses levantamentos é um indício de sufoco. Se as pesquisas fossem a favor de Trump, claro, estariam sendo propagadas como a voz da verdade.
Sem a economia pujante da era pré-coronavírus, e com 150 mil mortes na conta da doença, é como se Trump estivesse entrando na disputa com os dois braços amarrados.
Excetuando-se o apoio quase unânime dos políticos republicados, de boa vontade ou sob pressão das bases, Trump chega aos três meses decisivos da campanha como em 2016: contra tudo e contra todos, muitas vezes até contra ele mesmo, se forem incluídas na conta as frequentes explosões de autossabotagem, ao vivo ou pelo Twitter.
Do lado de Biden, a batalha é contra o clima de “já ganhou”.
Todos sabem que Trump tratorou Hillary Clinton em 2016 por causa de apenas 80 mil votos que “viraram” os estados-chave e lhe deram a vitória no Colégio Eleitoral, embora ela tivesse a maioria na votação direta.
E todos sabem que, até o último minuto, Hillary era dada como vencedora incontestável, com discurso da vitória e ministério prontinhos no bolso do blazer.
As pesquisas que erraram em 2016 podem estar certas em 2020?
Muitos republicanos alegam que a amostragem das pesquisas atuais tende muito a consultar eleitores fieis do Partido Democrata, ignorando a razoável parcela de indecisos. Ou a turma do SMAGA, os eleitores que se sentem excluídos por gostarem de Trump e desprezados pelas elites.
A certeza da vitória de Biden é tanta que ele está se dando ao luxo de escolher uma candidata a vice-presidente mais “política” e menos “eleitoral”, no sentido que conquiste a ala mais à esquerda – tipo uma política negra alinhada com o radicalismo da atual onda de protestos – e dispense o papel de contrapeso.
O próprio Biden exerceu este papel quando Barack Obama foi candidato pela primeira vez: um senador centrista capaz de apelar aos democratas que desconfiavam das intenções daquele que viria a ser o primeiro presidente negro e também o mais à esquerda.
Bem, Joe Biden não é Barack Obama. Não tem o carisma, o brilho e o gosto de novidade do ex-presidente. Sem contar que Obama tinha 47 anos e Biden está com 77.
Uma ex-diretora da campanha de Bernie Sanders fez uma comparação escatológica entre o que Joe Biden representa para o eleitorado do senador socialista que hoje está botando fogo nas ruas ou apoiando fortemente a “violência pacífica” – outro termo do momento para ironizar jornalistas e políticos que constantemente falam em protestos pacíficos enquanto atos de agressão em massa são cometidos.
“É como se alguém dissesse ‘Você tem um prato de m**** na sua frente e não precisa comer tudo, só a metade’”, comparou Nina Turner.
“A coisa continua a ser m****”.
A idade e as constantes derrapadas verbais de Biden, que já apresentou a irmã como se fosse sua mulher e falou que 100 milhões de americanos tinha morrido de Covid-19, introduziram na campanha presidencial a expressão capacidade cognitiva.
Embora Trump não seja nenhum garotão – 74 anos -, jacta-se de ter pleno comando de suas habilidades mentais. E desafia Biden a apresentar um exame médico comprovando o mesmo.
Idealmente, os chefes de campanha manteriam Biden trancado no porão onde passou o isolamento, comunicando-se apenas através de entrevistas a jornalistas mais do que dispostos a fazer o papel de escada do que um embate real.
Como é impossível, o candidato terá que se expor mais. E o primeiro debate já está marcado: 24 de agosto, em Cleveland, Ohio.
Os debates podem trazer o melhor – e também o pior – de cada candidato.
Num dos momentos memoráveis da história dos debates presidenciais, Ronald Reagan, então com 73 anos, disse em 1984 ao adversário democrata, Walter Mondale: “Não vou explorar, por motivos políticos, a idade e a inexperiência de meu oponente”.
Todo mundo deu risada, inclusive Mondale, posteriormente massacrado nas urnas.
A equipe de Joe Biden deve ter preparado dezenas de respostas tão boas quanto essa quando o assunto é idade.
Só falta ele se lembrar delas.