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Eleição EUA: capacidade cognitiva, violência pacífica, SMAGA

Estes são alguns termos do momento tumultuado de uma disputa em que Joe Biden parece estar com tudo, menos a plena capacidade mental

Por Vilma Gryzinski 29 jul 2020, 08h30

Sabem o que é SMAGA? Secret Make America Great Again. Ou seja, o exército silencioso ou secreto que, como em 2016, não abriu o voto nas pesquisas, mas saiu de casa para cravar o nome de Donald Trump.

Faltam 96 dias para a eleição de 3 de novembro, com o coronavírus bombando e as equipes dos dois candidatos tentando explorar todos os defeitos do adversário.

O acrônimo SMAGA e a ideia por trás dele são divertidos, mas refletem a alta ansiedade vivida na campanha de Trump, que trocou recentemente de diretor.

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Diante das pesquisas que constantemente dão uma vantagem de 4 a 12 pontos para Joe Biden, apelar para a descrença nesses levantamentos é um indício de sufoco. Se as pesquisas fossem a favor de Trump, claro, estariam sendo propagadas como a voz da verdade.

Sem a economia pujante da era pré-coronavírus, e com 150 mil mortes na conta da doença, é como se Trump estivesse entrando na disputa com os dois braços amarrados.

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Excetuando-se o apoio quase unânime dos políticos republicados, de boa vontade ou sob pressão das bases, Trump chega aos três meses decisivos da campanha como em 2016: contra tudo e contra todos, muitas vezes até contra ele mesmo, se forem incluídas na conta as frequentes explosões de autossabotagem, ao vivo ou pelo Twitter.

Do lado de Biden, a batalha é contra o clima de “já ganhou”.

Todos sabem que Trump tratorou Hillary Clinton em 2016 por causa de apenas 80 mil votos que “viraram” os estados-chave e lhe deram a vitória no Colégio Eleitoral, embora ela tivesse a maioria na votação direta.

E todos sabem que, até o último minuto, Hillary era dada como vencedora incontestável, com discurso da vitória e ministério prontinhos no bolso do blazer.

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As pesquisas que erraram em 2016 podem estar certas em 2020?

Muitos republicanos alegam que a amostragem das pesquisas atuais tende muito a consultar eleitores fieis do Partido Democrata, ignorando a razoável parcela de indecisos. Ou a turma do SMAGA, os eleitores que se sentem excluídos por gostarem de Trump e desprezados pelas elites.

A certeza da vitória de Biden é tanta que ele está se dando ao luxo de escolher uma candidata a vice-presidente mais “política” e menos “eleitoral”, no sentido que conquiste a ala mais à esquerda – tipo uma política negra alinhada com o radicalismo da atual onda de protestos – e dispense o papel de contrapeso.

O próprio Biden exerceu este papel quando Barack Obama foi candidato pela primeira vez: um senador centrista capaz de apelar aos democratas que desconfiavam das intenções daquele que viria a ser o primeiro presidente negro e também o mais à esquerda.

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Bem, Joe Biden não é Barack Obama. Não tem o carisma, o brilho e o gosto de novidade do ex-presidente. Sem contar que Obama tinha 47 anos e Biden está com 77.

Uma ex-diretora da campanha de Bernie Sanders fez uma comparação escatológica entre o que Joe Biden representa para o eleitorado do senador socialista que hoje está botando fogo nas ruas ou apoiando fortemente a “violência pacífica” – outro termo do momento para ironizar jornalistas e políticos que constantemente falam em protestos pacíficos enquanto atos de agressão em massa são cometidos.

“É como se alguém dissesse ‘Você tem um prato de m**** na sua frente e não precisa comer tudo, só a metade’”, comparou Nina Turner.

“A coisa continua a ser m****”.

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A idade e as constantes derrapadas verbais de Biden, que já apresentou a irmã como se fosse sua mulher e falou que 100 milhões de americanos tinha morrido de Covid-19, introduziram na campanha presidencial a expressão capacidade cognitiva.

Embora Trump não seja nenhum garotão – 74 anos -, jacta-se de ter pleno comando de suas habilidades mentais. E desafia Biden a apresentar um exame médico comprovando o mesmo.

Idealmente, os chefes de campanha manteriam Biden trancado no porão onde passou o isolamento, comunicando-se apenas através de entrevistas a jornalistas mais do que dispostos a fazer o papel de escada do que um embate real.

Como é impossível, o candidato terá que se expor mais. E o primeiro debate já está marcado: 24 de agosto, em Cleveland, Ohio.

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Os debates podem trazer o melhor – e também o pior – de cada candidato.

Num dos momentos memoráveis da história dos debates presidenciais, Ronald Reagan, então com 73 anos, disse em 1984 ao adversário democrata, Walter Mondale: “Não vou explorar, por motivos políticos, a idade e a inexperiência de meu oponente”.

Todo mundo deu risada, inclusive Mondale, posteriormente massacrado nas urnas.

A equipe de Joe Biden deve ter preparado dezenas de respostas tão boas quanto essa quando o assunto é idade.

Só falta ele se lembrar delas.

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