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É certo proteger obras de arte como estátua de Davi de uso ‘degradante’?

Lembrancinhas turísticas focadas nos genitais da sublime escultura de Michelangelo são contestadas na justiça por museus italianos

Por Vilma Gryzinski 29 mar 2024, 06h49

Deus criou Michelangelo, Michelangelo criou Davi e o resto da humanidade inundou as cercanias do museu onde o mais perfeito dos homens desfila sua beleza há mais de quinhentos anos com reproduções e lembrancinhas de mau gosto horripilante.

Problema desse Gêneses alternativo: mau gosto não é crime e pode ser visto como livre exercício de diversas prerrogativas universais.

Mesmo quando os souvernirs, de imãs de geladeira a aventais de cozinha, focam nos órgãos genitais da estátua, com seu pênis pequeno e quase inteiramente coberto pelo prepúcio, tal como era o ideal grego herdado por Michelangelo – uma prova do triunfo da razão sobre entes animalescos como os sátiros, estes sim retratados como protagonistas de filmes para adultos.

A alemã Cecilie Holberg, diretora desde 2015 da Galleria dell’Academia em Florença, não está nem aí para os defensores do mau gosto por questão de princípios. Luta na justiça italiana, que tem dispositivos a favor da proteção do maior patrimônio histórico do mundo, para defender a imagem de Davi de exploração “degradante”.

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Já conseguiu indenizações de centenas de milhares de euros, uma “vitória única” que provocou “grande regozijo no mundo da arte”, segundo disse para a agência AP.

A reportagem informa sobre dispositivos jurídicos italianos que permitem direitos perpétuos a museus e outras instituições italianas sobre as obras de arte sob sua proteção, contrariando as regras internacionais do domínio público, vigente a partir dos setenta anos da morte do artista.

Proporções alteradas

A aura lendária acompanha a escultura desde quando estava sendo feita, em sigilo total, por um Michelangelo consciente de sua grandeza e perfeição, tão esmagadoras que até o gênio concorrente, Leonardo da Vinci sugeriu colocá-lo num lugar menos destacado do que a praça em frente ao Palazzo della Signoria (onde ficou até 1873, tendo escapado com apenas um braço quebrado, depois reconstituído, numa das convulsões florentinas envolvendo os Medici e algum papa, quando estes não eram simultaneamente a mesma coisa).

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Desde a inauguração, em 1504, o mundo se deslumbra diante do corpo nu e da serenidade do herói bíblico pouco antes do combate com o gigante que a funda sobre seu ombro derrubaria.

Ironicamente, o gigante é ele, com 5,17 metros de mármore num único bloco. Também não passam despercebidas proporções alteradas de propósito, como a enorme mão direita, em contraste, de novo, com o pênis reduzido e, para desgosto de sumidades como Cecilie Holberg, tão amplamente reproduzido.

Que mal fazem os aventais com Davi, os panos de prato com a Monalisa e as camisetas com os girassóis de Van Gogh? Muitas vezes, refletem o primeiro contato com grandes obras de arte e os narizes torcidos para as imitações que provocam podem ser uma manifestação de esnobismo dos que nunca, jamais seriam pegos com uma miniatura da Torre Eiffel abandonada na estante.

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Os esnobes e os adeptos de quinquilharias da família kitsch passarão, Davi, como “símbolo excelso do triunfo da civilização moderna”, como já foi definido, sobreviverá, talvez até quando não existam mais geladeiras para colocar imãs.

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