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Como homem mais poderoso da mídia no mundo demitiu Tucker Carlson

Aos 92 anos, Rupert Murdoch continua em cena no seu império de comunicações e ainda aprova as decisões mais complicadas

Por Vilma Gryzinski 28 abr 2023, 06h25

Tucker Carlson foi demitido de surpresa e pelo telefone: na sexta-feira passada apresentou seu programa ao vivo na Fox e na segunda recebeu a chamada da CEO, Suzanne Scott.

A decisão foi tomada por Lachlan Murdoch, o herdeiro presuntivo – nunca nada é definitivo, como sabem os que acompanham a série Succession – do império de notícias, entretenimento e o que mais estiver no meio dessas categorias.

Mas é impossível que não tenha passado pelo crivo do pai, Rupert Murdoch. Apenas poucas semanas antes, o bilionário – 22 bi – de 92 anos havia jantado com o apresentador que metade dos Estados Unidos ama odiar e a outra metade simplesmente ama.

Enfiar a faca, pelas costas ou pela frente, praticamente vem no currículo dos que saem do quase nada – um jornal deixado pelo pai no interior da Austrália – e chegam ao topo. Não existe nenhum outro empresário de mídia tradicional que chegue perto dele em matéria de influência, com seu colar de jornalões e jornaizinhos, nos Estados Unidos e na Inglaterra: Wall Street Journal, Times e Sunday Times de Londres, The Sun, New York Post, além de várias dezenas de publicações na Austrália.

Em junho do ano passado, Murdoch terminou a união de quatro anos com Jerry Hall através de um email bem sucinto: “Jerry, infelizmente eu decidi pôr um fim no nosso casamento”.

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“Nós certamente tivemos bons momentos, mas eu tenho muito a fazer. Meu advogado de Nova York entrará em contato com os seus imediatamente”.

A ex de Mick Jagger ficou pasma. Não tinha percebido nenhum sinal de que alguma coisa não ia bem. “Amigos” contaram para a New York Magazine que Murdoch mandou seguranças vigiarem quando ela deixou a casa principal do casal, obrigando-a a mostrar recibo de objetos de valor. No acordo de divórcio, ficou estabelecido que ela não pode “dar ideias” aos roteiristas de Succession.

Agora, ela mais do que desconfia que Murdoch já estava tendo um relacionamento com Ann Lesley Smith, a mulher com quem ele anunciou um noivado breve, com o obrigatório anelão de diamante, e igualmente cancelado a seco.

A revista especula que Jerry Hall tinha ideias progressistas demais e Ann Lesley, ao contrário, inclinava-se muito para a direita evangélica, tendo chegado a dizer que Tucker Carlson era um mensageiro de Deus.

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A demissão do apresentador, transformada no assunto mais comentado dos Estados Unidos e comemorada em todas as redações rivais (e também na da Fox, onde ele era uma figura detestada por muitos), se sobrepôs ao acordo sem precedentes de estarrecedores 787,5 milhões de dólares para encerrar o processo por difamação aberto pela Dominion, por alegações feitas pela turma linha dura da Fox de que a vitória de Joe Biden em 2020 havia sido fraudada.

Outros fornecedores de urnas eleitorais podem entrar com processos similares, agora que o caminho foi aberto – um caminho perigoso, considerando-se os valores punitivos envolvidos. A Dominion, por exemplo, pedia indenização de 1,6 bilhão de dólares.

Processos por difamação ou calúnia são o modo correto de retificar erros jornalísticos graves e propositais e a Fox pode bancar acordos estratosféricos que arruinariam outros veículos.

E se o precedente começar a valer para esses outros também? Estará instaurado um clima de medo prejudicial ao espaço livre em que os jornalistas devem se mover.

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Murdoch também está no centro das atenções na Inglaterra por causa do processo que o príncipe Harry e uma coleção de artistas estão movendo contra a News Corporation, o seu conglomerado britânico, pela prática repugnante de interceptar telefones de celebridades.

Harry alega que o próprio pai fez um acordo espúrio com o grupo Murdoch: os processos seriam suspensos em troca de cobertura favorável a Camilla e a ele, quando subissem ao trono.

Murdoch teve que fechar o tabloide mais comprometido, o News of the World. Enfrentou sessões constrangedoras na justiça e o momento “tiger wife”, quando sua esposa na época, a chinesa Wendy, pulou para defendê-lo de um manifestante.

O casamento acabou, também sem muita cerimônia, quando Murdoch descobriu que Wendy se encontrava com o ex-primeiro-ministro Tony Blair numa das mansões do casal nos Estados Unidos.

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Segundo o Wall Street Journal, colocado na sempre constrangedora posição de escrever sobre o dono, Tucker Carlson ficou mal perante a família Murdoch por causa de emails com termos grosseiros sobre executivas da empresa e outras mulheres.

A própria família também era criticada. No processo da Dominion, apareceu uma mensagem em que Tucker diz que “odeia Trump apaixonadamente” – e nem mesmo isso demoveu o público fiel do apresentador que, evidentemente, só defende o ex-presidente em público.

Segundo os tais “amigos”, um dos motivos do espanto de Jerry Hall com o fim brusco do casamento foi que ela tinha sido uma fiel “enfermeira”, cuidando do marido idoso quando pegou uma Covid brava e também quando sofreu uma fratura complicada num tombo no iate do filho. Outros problemas enfileirados na reportagem da New York Magazine: convulsões, duas pneumonias, arritmia cardíaca, ruptura do tendão de Aquiles e sequelas de uma fratura de coluna, sofrida quando a ex, Wendy, o empurrou em cima de um piano.

Ter muito dinheiro e resolver quem vai ficar com os negócios da família depois que a natureza seguir o seu curso com figuras titânicas como Rupert Murdoch são o modo mais garantido de sizânias familiares. Bernard Arnault, o francês do conglomerado de luxo atualmente na posição de homem mais rico do mundo (235 bilhões, dez vezes mais do que Murdoch) tem almoços de trabalho com os cinco filhos em que coloca questões empresariais específicas e anota as respostas, como num episódio do antigo Aprendiz, para decidir quem vai ficar com o quê.

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James Murdoch, um dos filhos do patriarca, rompeu com o pai por causa das posições conservadoras da Fox, uma das criações mais brilhantes da história da mídia: um canal a cabo, concebido por Roger Ailes, para atender a parcela do público americano que simplesmente não tinha representação nos grandes veículos, cada vez mais inclinados a ideias progressistas. James seria um dos que “dão ideias” aos roteiristas de Succession.

Ailes e outros nomões da Fox, como Bill O’Reilly e, agora, Tucker Carlson, rodaram por assédio sexual ou atitudes discriminatórias contra mulheres. Uma ex-produtora de Carlson está processando a Fox, acusando o apresentador de criar um ambiente de trabalho tóxico, com uso de termos chulos contra mulheres, inclusive colegas que aparecem diante das câmeras, e até antissemitismo.

Segundo o New York Times, os Murdoch, com Lachlan à frente, decidiram fazer o pesadíssimo acordo com a Dominion para impedir que os emails comprometedores de Carlson ou até dele próprios fossem revelados. Talvez o novo processo tenha que ser decidido, também, com um acordo.

Como é o dono, Murdoch paira acima disso tudo. O poder e o dinheiro o blindam de uma forma difícil de entender para os mortais comuns. Até a língua viperina de Tucker Carlson terá efeito apenas passageiro – e muito dinheiro provavelmente selará um acordo com cláusulas de confidencialidade.

“Agora, estou convencido da minha imortalidade”, disse Murdoch depois de se curar de câncer de próstata, em 1999. Quem, em seu entorno, diria o contrário?

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