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Começam sinais de radicalismo de rebeldes que derrubaram regime sírio

Para não deixar dúvidas sobre o que acha dos novos donos do poder, Israel destrói completamente armas e equipamentos do país vizinho

Por Vilma Gryzinski 12 dez 2024, 08h08

O caixão de Hafez Assad, o fundador da dinastia derrubada na Síria, foi tirado do mausoléu e incendiado. Uma reação compreensível diante do meio século de atrocidades, mas que não deixou de acender sinais amarelos. Que ficaram vermelhos quando um grupo rebelde mantido pela Turquia fez vídeos de combatentes feridos da minoria curda sendo fuzilados em leitos de hospital – são tratados como inimigos mortais do regime turco. Os sinais de radicalismo islâmico atingiram nível máximo quando um pequeno grupo de rebeldes ouviu de seu líder, numa mesquita da capital, a seguinte mensagem: “Esta é a terra do Islã, esta é Damasco, a fortaleza muçulmana. Daqui, a Jerusalém. Paciência, povo de Gaza, paciência”.

A mensagem não poderia ser mais clara. Fortalecidos pelas estarrecedora queda do regime, rebeldes sírios já estão planejando a nova etapa, condizente com sua atitude fundamentalista: atacar Israel.

A composição religiosa e ideológica dos novos donos do poder obviamente foi diagnosticada por Israel. E seguida por uma das mais arrasadoras campanhas militares da história do Estado judeu. Sem nenhuma oposição, num momento de transição entre o regime que se foi e o que está chegando, a Força Aérea israelense destruiu cerca de 80% de todos os arsenais, fábricas de armamentos, centros de pesquisas bélicas, aviões, helicópteros e navios de guerra. Nunca se viu algo assim, mesmo em tempo de guerra.

Se os rebeldes agora no poder quiserem atacar Israel, vão ter que começar do zero.

“INIMIGO FEROZ E MORTAL”

Achar oportunidades na crise é o nome do jogo. Para Israel, não era totalmente ruim ter o regime de Bashar Assad enfraquecido, sem capacidade de reagir a bombardeios cirúrgicos contra comandantes iranianos e combatentes do Hezbollah que operavam seu seu território. Agora, seus dois grandes adversários estão fora do jogo na Síria, o eixo xiita foi detonado e os novos radicais não têm mais Forças Armadas para tomar. Toda a estrutura física delas foi simplesmente pulverizada.

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“Catorze meses depois que o Hamas invadiu o país, no pior dia da história moderna de Israel, é o ‘Eixo da Resistência’ do Irã que está caindo as pedaços e o Estado de Israel que está se aprumando”, escreveu David Horovitz no site Times of Israel,

Horovitz, que em várias ocasiões pediu a renúncia de Benjamin Netanyahu, reconheceu que as espantosas guinadas foram fruto da posição do primeiro-ministro ao não negociar um cessar-fogo em Gaza – ao preço terrível, obviamente, da continuidade do cativeiro dos reféns tomados pelo Hamas.

“A Síria foi uma poderosa ameaça para Israel no passado, um inimigo feroz e mortal na Guerra do Yom Kippur, com pretensões a potência nuclear até que Israel interferiu para destruir seu reator construído pela Coreia do Norte em 2007. Até a semana passada, tinha a maior concentração de sistemas de defesa antiaérea do mundo. Tinha também vastos estoques de armamentos, infraestrutura de armas químicas e substanciais instalações para a produção de material bélico”, anotou Horovitz.

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A destruição de todos estes sistemas é uma vitória tremenda para Israel, mas o mais importante no futuro é que rumo tomará o novo regime na Síria.

FORÇA PODEROSA

Quem conhece de perto o Oriente Médio também sabe que as forças podem se reequilibrar rapidamente. O Irã deixou a Síria com o rabo entre as pernas, mas quem passa a ter uma influência enorme no país é a Turquia, um país importante, com mais fôlego econômico do que o Irã e pretensões ambiciosas de seu líder, Recep Tayyip Erdogan, que se vê como uma nova versão dos sultões otomanos. O ódio por Israel é o mesmo.

A Turquia certamente tem um papel na versão moderada e conciliadora que os líderes rebeldes agora no poder estão apresentando, o que incentiva o clima de comemoração e otimismo que tomou conta do país com o desmanche da velha ordem.

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Mas não existem milagres: o fundamentalismo é uma força poderosa e não existem na Síria outros grupos organizados, com capacidade para se contrapor a ele e liderar um projeto secular, não autoritário e abrangente, com inclusão de todas as complexas forças religiosas e étnicas que compõem o país.

É triste, mas essa é a realidade.

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