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Bonecas russas: a vida sacrificada das meninas que fazem milagre no gelo

Patinadoras como Kamila Valieva são veneradas na Rússia, que tem sua própria escola de proezas físicas, mas pagam um preço pesado

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 19 fev 2022, 09h52 - Publicado em 16 fev 2022, 07h49

Nem guerra na Ucrânia nem fila de visitantes estrangeiros no Kremlin, para muitos russos o assunto é Kamila Valieva, retratada em outdoors com emotivas mensagens de apoio.

A história de Kamila, que começou a participar de competições internacionais há apenas quatro meses, virou o principal assunto da Olimpíada de Inverno na China.

Será que a menina de apenas 15 anos, capaz de dar um salto quádruplo e aterrissar sobre um único pé como se fosse a coisa mais natural do mundo – e não com o peso corporal aumentado em até dez vezes -, precisava mesmo tomar um remédio para angina para turbinar um desempenho prodigioso?

Nunca nenhuma das hipóteses poderá sem comprovada. Mesmo que Kamila consiga outros feitos com ficha limpa, ficará sempre a sombra do doping olímpico – e da desculpa patética de que ela poderia ter se “contaminado” ao tomar água no mesmo copo que o avô, cuja saliva com traços de trimetazidina teria passado traços da substância para a neta.

Outras duas substâncias usadas como remédios para o coração foram encontradas na amostra de Kamila, segundo revelou o New York Times, mas não estão na lista dos proibidos. Evidentemente, a patinadora revelação não tem problemas cardíacos.

“Doping” e “Rússia”, infelizmente, viraram sinônimos. Com atletas fabulosos, a reputação do país foi arrastada para a lama depois da Olimpíada de Sochi, a cidade perto da qual Vladimir Putin tem o seu mais luxuoso palácio. Lá foi foi montado o esquema industrial de doping  revelado por ninguém menos do que Grigori Rodchenkov, o diretor do laboratório onde mais de cem amostras de urina de atletas russos “turbinados” foram escandalosamente trocadas.

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O castigo risível do Comitê Olimpíco Internacional – os atletas russos competem sem bandeira nem hino nacional – possivelmente é uma das causas da repetição da malandragem. A decisão de manter Kamila na competição, embora sem cerimônia de medalhas, também causa repulsa mesmo entre as pessoas que se compadecem da situação da adolescente, obviamente incapaz de decidir sozinha tomar uma substância proibida. Seu choro depois de mais uma apresentação sublime, com primeiro lugar absoluto, foi de dar pena.

Kamila é uma das “bonecas russas” de Eteri Tutberidze, a técnica de cacheados cabelos loiros que já foi chamada de Cruella de Vil da patinação.

Eteri é um cadinho de etnias (georgiana, armênia, russa) e uma personalidade dominante do tipo visto em espores como a patinação e a ginástica olímpica, onde os técnicos viram quase objeto de culto por parte de meninas dedicadas e perfeccionistas, o tipo de personalidade ideal para os sacrifícios enormes exigidos por modalidades em que, como no balé, todo mundo tem que sofrer para alcançar o impossível, sempre com uma expressão de naturalidade e graça.

A técnica também seleciona suas “bonecas” pelo  tipo físico: corpos quase pré-pubescentes, ainda com quadris estreitos que dão um tipo específico de centro de gravidade. Começa as experiências na infância, construindo a base de força e agilidade que permitirá sua marca registrada, os saltos quádruplos.

Segundo os críticos, as meninas de Eteri têm prazo de validade: duram dos 15 aos 17 anos. Depois, nem os corpos prodigiosamente treinados aguentam. Cedem às contusões e fraturas por esforço repetitivo. As placas de crescimento também se fecham, diminuindo a flexibilidade, o corpo amadurece e a combinação disso tudo encerra precocemente carreiras que poderiam avançar pelos vinte e poucos anos.

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O técnico francês Benoît Richaud, uma estrela da categoria, comentou para o Business Insider: “Eteri foi brilhante em sua abordagem ao ser a primeira a encontrar um método para ensinar os saltos quádruplos para as meninas, e o método funciona, mas só até os 17 anos. O que as patinadoras fazem depois disso?”.

A Rússia tem uma escola própria em matéria de balé, ginástica e patinação, famosa pelo atleticismo, a combinação de força e flexibilidade que permite os saltos mais altos, as piruetas mais elaboradas e os espacates mais negativos.

Os melhores viram estrelas fixas, cobertos de honrarias e admiração muito além das Olimpíadas. Ou até mais do que isso, como aconteceu com Alina Kabaeva, a medalhista olímpica de ginástica rítmica que se tornou, segundo as fofocas, extremamente próxima de Putin. Tenha ou não tido um relacionamento com ele, do qual nasceram filhos gêmeos, a linda Alina mostrou flexibilidade suficiente para se tornar  presidente do conselho do National Media Group, um grupo privado de televisão.

Em todos os lugares, os sacrifícios exigidos por modalidades como ginástica ou patinação são quase incompreensíveis para as pessoas fora desse mundo. As exigências podem causar distúrbios não apenas físicos como emocionais. O caso de Simone Biles, na Olimpíada de Tóquio, mostrou isso. 

Simone, a ginasta mais medalhada do mundo, ficou noiva ontem de Jonathan Owens, um jogador de basquete com o dobro de seu tamanho. Está feliz da vida e pronta para se aposentar das competições. Tem 24 anos.

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