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A mulher que matava bebês: hospital demorou para descobrir

Lucy Litby é a própria encarnação do mal, mas também contou com a negligência da instituição onde conseguiu matar sete recém-nascidos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 21 ago 2023, 07h34 - Publicado em 21 ago 2023, 07h32

Uma mulher comum. Nem feia nem bonita, maquiada só quando ia para a balada, morando num sobradinho simples do tipo que existem tantos nas Inglaterra e anotando seus sentimentos numa agenda com um cachorro de pelúcia na capa.

Talvez os olhos digam alguma coisa. Vemos nele um traço da insolência desafiadora dos psicopatas? Ou será por que agora sabemos a extensão de sua perversidade, os sete bebês mortos e os seis que escaparam por pouco?

Ela mesma tinha noção do que fazia. “Eu sou o mal”, anotou na agenda de cachorrinho. Escritas em letras maiores sobre os textos, palavras como “ÓDIO” e “SOCORRO” indicam seu estado mental.

Mulheres psicopatas que matam inocentes são menos comuns do que homens, mas existem e têm a mesma compulsão por matar. Geralmente vão, como Lucy, para profissões onde têm poder de vida ou morte. No universo de profissionais tão dedicados que nos atendem quando estamos mais vulneráveis, numa cama de hospital, surge eventualmente uma Lucy.

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Seu campo de atuação era a unidade neonatal do Countess of Chester Hospital. Ela injetava ar ou insulina em bebês prematuros. Depois, fazia ar compungido ou escrevia cartas de pêsames aos pais. Só deixou entrever o que deveria ser um vulcão de demônios que ocultava por trás da aparência inocente quando tentou matar  gêmeos que haviam nascido sete semanas antes do prazo. O pai das crianças que conseguiram escapar contou que de prestativa, ela se tornou agressiva e até raivosa – depois ele interpretou isso como frustração por não ter conseguido fazer o que queria, eliminar as mais indefesas das criaturas.

Muitas das vítimas eram gêmeos ou trigêmeos que, com os tratamentos atuais de fertilidade, são mais frequentes, mas também nascem prematuramente, exigindo internação.

Lucy Letby matou sete recém-nascidos e tentou eliminar outros seis num período curto, entre 2015 e 2016. Ela tinha pouco mais de vinte anos.

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Como é possível que num hospital pequeno do interior, em Cheshire, não tenha chamado atenção o fato de que a letalidade aumentava tanto quando ela estava de plantão? Onde estavam os controles obrigatórios?

O fato é que chamou e vários médicos falaram com a direção do hospital. Nada foi feito. Ou melhor, um membro da direção administrativa, Tony Chambers, exigiu que os médicos envolvidos escrevessem uma carta de desculpas a Lucy. Outro executivo disse que a reputação do hospital seria arruinada se as denúncias avançassem.

Lucy só foi presa em 2018. Renegou a confissão feita e foi levada ao julgamento que terminou na semana passada. A sentença ainda não saiu. Nada, obviamente, aliviará a dor de mães e pais que perderam seus filhinhos recém-nascidos.

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O que move um psicopata é um assunto que fascina a humanidade por revelar aspectos psíquicos desconhecidos, ou encobertos, como o desejo de matar “por nada”, pelo puro exercício do poder de vida e morte.

Ou talvez um motivo morbidamente fútil, como acreditam os promotores: Lucy queria chamar a atenção e ocupar o centro da vida de um médico casado com quem tinha um relacionamento nada profissional.

Lucy Letby já ganhou o título de maior assassina em série de bebês da Inglaterra. Talvez tenha feito mais vítimas. Os pais da menina Felicity, hoje com nove anos, acreditam que ela só escapou de uma complicação pulmonar gravíssima depois que foi transferida para a UTI neonatal de outro hospital. O caso de Felicity não foi comprovado nem incluído na lista das vítimas de Lucy. 

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No começo dos anos noventa, a enfermeira Beverly Allitt tentou matar 25 bebês e a coincidência entre as quatro mortes e outros casos gravíssimos em seus plantões acabou despertando suspeitas. Até hoje é incompreensível como Allitt, que tinha problemas mentais e simulava doenças imaginárias, pode ser colocada no comando da ala que mais cuidados inspira em qualquer hospital.

Como é possível que um caso tão parecido tenha se repetido?

“Mamãe, nós vamos puxar o cabelo dela”, disse a filhinha, hoje com sete anos, de um casal que pede para não ser identificado, mas conta que vão revelando aos poucos a seus gêmeos que foram vítimas de Lucy e escaparam por pouco. 

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Os pais não querem que as crianças saibam por outras pessoas que estão na lista da mulher que matava bebês e anotava tudo na agenda com capa de cachorrinho de pelúcia. “Fui eu quem fez isso”, escreveu ela. 

Um grupo de pais quer uma investigação mais ampla sobre as responsabilidades dos que deveriam ter prevenido crimes assim. 

Na justiça inglesa, as vítimas são convidadas a falar ao final de um julgamento e alguns pais fizeram isso no caso Letby

“O trauma daquela noite viverá conosco para sempre”, disse a mãe de um dos bebês identificados apenas por letras maiúsculas. “Saber que você estava nos olhando o tempo todo transforma tudo num filme de terror”.

Lucy Letby não compareceu para esta espécie de catarse que precede a sentença pela qual viverá presa até o fim de seus dias sem possibilidade de progressão de pena.

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