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A mulher que fala a verdade para Putin: economia vai de mal a pior

Elvira Nabiullina, a presidente do Banco Central que acumulou muitos créditos no passado recente, faz um retrato funesto do efeito das sanções

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 abr 2022, 06h13 - Publicado em 20 abr 2022, 06h11

“Esta é a mulher mais cara da história do nosso país”. O ano era 2014, Elvira Nabiullina tinha acabado de queimar 70 bilhões de dólares em divisas para segurar o rublo e o deputado comunista Viacheslav Tetiokin, apesar do machismo, tinha alguma dose de razão.

Bons tempos aqueles. Agora, além da missão impossível de segurar uma economia brutalmente ferida pelas sanções de mais de trinta países desenvolvidos contra a Rússia, a presidente do Banco Central está na posição nada confortável de única integrante da elite dirigente a falar a realidade dos fatos, publicamente, para Vladimir Putin.

E falar sem meias palavras – embora estas tenham sido criteriosamente medidas. O alerta que ela fez no começo da semana foi simplesmente espantoso, uma vez que Putin colocou a si mesmo na posição de rei incapaz de ver que está nu, cercado por sicofantas que dizem só o que ele quer ouvir.

“O período em que a economia conseguiu viver das reservas terminou”, disse Nabiullina à Duma, o congresso da Federação Russa. “Já no segundo trimestre ou começo do terceiro, entraremos numa etapa de mudança estrutural”.

Até agora, acrescentou, as sanções afetaram principalmente o mercado financeiro, mas daqui em diante “começarão a prejudicar cada vez mais setores da economia real”.

E não adianta esperar que o Banco Central interfira no aumento dos preços – 17% de inflação em março -, decorrentes das dificuldades para a importação de componentes porque isso “impediria que as empresas se adaptem”.

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A mulher que fala como um Milton Friedman redivivo tem um extraordinário crédito de confiança com Putin: ela controlou a inflação no passado, reorganizou a economia russa, alinhou a política monetária com a dos bancos centrais de países desenvolvidos, formou reservas de mais de 600 bilhões de dólares e fechou mais de 400 bancos podres. Aguentou firme quando setores atingidos reagiram de forma torpe, divulgando um vídeo do marido dela, Yaroslav Kuzminov, diretor  da Escola Superior de Economia, com outra mulher. 

Quando Putin começou a guerra e o rublo desabou, conseguiu virar o jogo. Muita gente diz que ela quis renunciar, mas Putin não só não deixou como agora indicou Nabiullina para mais um mandato de cinco anos. 

Na primeira vez que falou em público depois do início da invasão, estava vestida de preto, o que foi interpretado como uma forma de luto. Provavelmente é um exagero, mas Nabiullina usa broches para mandar mensagens implícitas, uma tática que remete a Madeleine Albright, a recentemente falecida ex-secretária de Estado americana.

Há apenas cinco anos, quando a Rússia já havia anexado a Crimeia e estava sob a primeira onda de sanções, Nabiullina foi eleita a presidente de banco central do ano, na Europa, pela revista britânica The Banker. Em 2018, foi convidada como palestrante de destaque pelo Fundo Monetário Internacional e coberta de elogios por sua presidente, Christine Lagarde.

“Elvira e eu somos grandes fãs de ópera”, disse Lagarde, ressaltando que a convidada tem “todas as qualidades” dos grandes maestros, incluindo “personalidade, intuição e liderança”.

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É claro que Nabiullina, que é de origem tártara, tem sido criticada por ajudar Putin a formar o “tesouro de guerra” e no passado fez concessões como deixar que o poderoso Igor Sechin refinanciasse a dívida externa da Rosneft, a gigante do petróleo. “Um presidente de banco central independente teria recusado, mas Nabiullina não é independente”, criticou o Moscow Times, um site independente de notícias sobre a Rússia.

Poucas horas depois que ela fez sua análise sombria para a Duma, Vladimir Putin a desmentiu, dizendo que “a estratégia de blitzkrieg contra a economia russa fracassou e a situação está se estabilizando”.

É claro que ele está errado e ela está certa. Putin também já avisou que pretende fazer o governo gastar mais para estimular a economia. Como conciliar isso com a taxa de juros que Nabiullina elevou, emergencialmente, para 20% (agora 17%, com mais uma redução em vista)? E como – e até quando – dizer ao rei que, se não está despido, pelo menos deixou de vestir várias peças de roupa?

Nem no Brasil ser presidente de banco central poderia ter se tornado uma atividade tão dramática.

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