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A misteriosa religião que teve doze crianças mortas pelo Hezbollah

Os drusos são árabes e têm uma cultura parecida com a dos muçulmanos, mas seguem práticas esotéricas e secretas; agora, clamam por vingança

Por Vilma Gryzinski 30 jul 2024, 07h26
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  • Maria Corina Machado
    Morte no campo de futebol: de luto, comunidade drusa do Golan exige vingança contra o Hezbollah // (Amir Levy/Getty Images)

    “Na nossa opinião, o que acontece no norte de Israel é a mesma coisa que deveria acontecer em Beirute e no Parlamento de lá”, disse o presidente do conselho de comunidades drusas, Yasser Ghadban.

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    O clamor por vingança é explicado pelo resultado horripilante do foguete iraniano disparado, do Líbano, pelo Hezbollah contra o campo de futebol de uma escola na cidade fronteiriça de Majdal Shams. Doze menores de dez a dezesseis anos – nove meninos e três meninas – foram despedaçados pelo foguete com uma carga explosiva de mais de cinquenta quilos. Nove estão internados em estado grave.

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    A fila de pequenos caixões brancos passando pela cidadezinha em meio a multidão é uma das imagens do horror que está sendo vivido no local.

    Ajuda saber que a cidade é habitada por “drusos do Golan”, a região montanhosa que pertencia à Síria e foi ocupada na Guerra dos Seis Dias, quando múltiplos exércitos árabes tentaram exterminar Israel.

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    Alguns territórios tomados na espantosa contraofensiva israelense foram devolvidos, outros são habitados por palestinos, constituindo um problema permanente, e áreas como o Golan, com tradicional população drusa, jamais voltarão a um país como a Síria: são uma plataforma natural de invasão de Israel.

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    GENERAL ÁRABE

    Os drusos das montanhas de Golan são diferentes dos drusos israelenses, embora todos sigam a mesma religião, nascida de um dos ramos xiitas do Islã, o ismailismo, misturado a elementos cristãos, gnósticos e até budistas, entre um apanhado de crenças locais. É uma crença esotérica e vai sendo ensinada à medida que determinados seguidores avançam em idade.

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    É proibido revelar quaisquer de seus princípios religiosos, mas publicamente os drusos, como minoria perseguida, seguem o mandamento de lealdade ao governo do país onde habitam, seja qual for.

    Por isso, os drusos do Golan continuaram fiéis ao regime ditatorial da família Assad, da Síria, por muito tempo, embora a guerra civil tenha provocado mudanças nisso. Os drusos israelenses têm cidadania plena, servem o exército e são tradicionalmente integrantes de forças policiais e penitenciárias de Israel – ao contrário dos árabes israelenses, muçulmanos e cada vez menos, cristãos, que só excepcionalmente prestam serviço militar.

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    Os mais incautos levam sustos quando deparam com cidadãos que falam árabe (e hebraico, claro) ocupando postos de comando nas Forças de Defesa de Israel ou no serviço diplomático. O druso de patente mais alta é o general Ghasan Alian.

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    Ao atacar a comunidade drusa de Majdal Shams, o Hezbollah matou crianças árabes – daí os desmentidos, ao contrário do que o grupo xiita libanês costuma fazer, confirmando ou exagerando as baixas que provoca em Israel.

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    Os pequenos corpos das vítimas do Hezbollah ainda não haviam sido recolhidos quando múltiplos governos e órgãos de imprensa começaram a “avisar” Israel a não retaliar em grande escala para não provocar uma nova guerra no Líbano. Fontes do governo disseram que a resposta será dura, mas não generalizada – o que certamente não satisfaz os drusos que querem ver Beirute em chamas.

    METAMORFOSE AMBULANTE

    O maior grupo de seguidores da religião drusa é justamente do Líbano – são cerca de 250 mil, compondo o complexo mosaico religioso do país. Seu líder é Walid Jumblatt, que mora num castelo na idílica região de Chouf, cercado por seu próprio exército e alguns exemplares remanescentes de cedros do Líbano, a árvore bíblica que os fiéis das religiões monoteístas acreditam ter sido usada para fazer a arca de Noé.

    Jumblatt é uma metamorfose ambulante: já combateu ou se aliou a praticamente todos os grupos libaneses, incluindo cristãos, sunitas, xiitas e, na época da ocupação, os sírios – que mandaram matar seu pai. Muda de lado conforme lhe convém e foi “cooptado” pelo Hezbollah.

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    Antes do terrível ataque contra as crianças de Majdal Shams, Jumblatt havia criticado o líder espiritual dos drusos em Israel, xeque Mowafaq Tarif, por se reunir com o primeiro-ministro Benjamiin Netanyahu e não condenar suficientemente “a agressão contra o povo palestino”.

    Tarif deu uma resposta irônica: “Quando você resolver os problemas do Líbano, e só então, poderemos discutir a maneira de ajudar nossos irmãos palestinos”.

    Em outras palavras, no Dia de São Nunca.

    ÓDIO FANÁTICO

    Os problemas sectários do Líbano ficaram mais prementes com a hegemonia do Hezbollah sobre todas as outras forças políticas e religiosas. O Líbano não tem nenhuma disputa territorial com Israel, ao contrário dos palestinos. Nem nenhum motivo para provocar uma guerra destruidora, fora o fanatismo xiita do Hezbollah.

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    Alinhados e bancados pelo Irã, os adeptos do Hezbollah seguem a mesma linha de ódio fanático a Israel por ousar ter uma presença em terras árabes e muçulmanas – nem vamos entrar aqui no processo de invasão e ocupação que redundou na islamização do Oriente Médio.

    Esse fanatismo pode arrastar o Líbano inteiro para uma guerra de proporções arrasadoras, fora a possibilidade de envolvimento direto do Irã.

    O regime fundamentalista iraniano já transpôs o tabu de atacar território israelense, com uma barragem de drones e mísseis, em 14 de abril. Foram todos derrubados em razão da coalizão de forças tendo os Estados Unidos à frente, mas não existe a menor dúvida de que planeja dia e noite como transpor as barreiras defensivas israelenses e desfechar o próximo ataque.

    LÓGICA DA VINGANÇA

    Israel tem feito bombardeios dirigidos para eliminar líderes do Hezbollah. Já acertou mais de 500, aproveitando as vantagens do terreno e de inteligência, como não tem em Gaza, onde os líderes do Hamas vivem literalmente debaixo da população civil e não há como atingi-los sem provocar baixas terríveis, que solapam o apoio moral e político ao país.

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    Agora, pela lógica inflexível da região, Israel tem que atender ao clamor por vingança e dar uma resposta mais brutal pela morte das crianças drusas – “Nossos filhos também”, nas palavras de Netanyahu ao visitar o local da carnificina. Todos os partidos políticos israelenses aprovaram represálias.

    Muitos integrantes do alto comando militar têm certeza que haverá uma guerra em grande escala com o Hezbollah. Alguns acham melhor partir logo para o ataque, muitos prefeririam evitar um conflito generalizado.

    Todos os libaneses – e muitos israelenses – pagarão o preço por um conflito assim.

    CÓDIGO DE HONRA

    Detalhe: os drusos não têm hierarquia religiosa e os xeques, identificados pelo uso do fez branco – o chapeuzinho turco; as mulheres usam véu branco –, são os iniciados nos segredos da seita, ao contrário dos “ignorantes”, os que não têm acesso às escrituras sagradas e outros segredos cuja revelação é punida com a morte.

    Foi o que aconteceu com o único caso conhecido de um druso que escreveu um livro sobre a religião.

    Em Israel, seus seguidores são designados pela palavra que usam em relação a si mesmos, “unitários”, pela crença num Deus único, sendo Jesus Cristo reconhecido como salvador da humanidade. Não aceitam conversões desde o ano de 1043.

    E também têm um código de honra que exige vingança às ofensas recebidas. Inexoravelmente.

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