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A Argentina de Milei vai bem ou vai mal? Resposta depende de quem olha

A semana passada trouxe várias boas notícias para o governo, mas os problemas estruturais - e o histórico - ainda não permitem bater o martelo

Por Vilma Gryzinski 15 out 2024, 06h40

A Argentina é como o gato de Schroedinger: pode ir, simultaneamente, muito melhor do que o esperado ou pode estar afundada numa crise que não tem jeito, como tantas vezes já aconteceu em sua história.

Na semana passada, Javier Milei teve os melhores dias desde que tomou posse (e não faz nem um ano, acreditem), mas choveram prognósticos negativos. Queda da inflação para o menor patamar desde setembro de 2021 e também declínio do dólar e do risco país causaram um efeito quase eufórico entre os mileinaristas. Por causa disso, os que o abominam multiplicaram a pancadaria.

+ Com a renda em queda e a miséria aumentando, os argentinos vão às ruas contra Milei

Manter uma atitude objetiva em relação a nosso vizinho exige sangue frio, especialmente porque, freudianamente, quando Pedro fala de Paulo, sabemos mais de Pedro do que de Paulo.

Ou seja, fala mal de Milei quem deseja que ele, com seu modelo ultralibertário, se estrepe e que o atual governo brasileiro prove a superioridade das velhas ideias sobre crescimento movido a gastos públicos. O inverso é, claro, igualmente verdadeiro.

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LENTES IDEOLÓGICAS

São questões apaixonantes porque envolvem a eterna tensão entre o papel do estado e a iniciativa dos indivíduos e a melhor maneira de conduzir um governo, com resultados benéficos para a maior quantidade possível de pessoas

O El País, que se deixa dominar pelas lentes ideológicas – uma tristeza para um jornal tão bom – resumiu assim os dez meses de governo Milei:

“Fechou 13 ministérios, despediu 30 mil funcionários públicos, equivalentes a quase 10% do total nacional; paralisou as obras públicas e cortou o dinheiro destinado à educação, saúde, ciência e aposentadorias. O corte na execução orçamentária foi particularmente duro em infraestrutura (-74%), educação (-52%), trabalho (-65%), desenvolvimento social (-60%), saúde (-28%) e assistência às províncias (-68%).

O jornal não explica como, sem fazer nenhum desses cortes, o governo que antecedeu Milei foi um desastre de ponta a ponta, arrastando o país para mais perto da pobreza e da hiperinflação. Sem contar a profunda desmoralização a posteriori do ex-presidente Alberto Fernández, contumaz espancador da esposa.

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“NUNCA ANTES”

Milei, obviamente, não precisa de ninguém para defendê-lo, faz isso muito bem sozinho. Sobre a inflação finalmente abaixo dos 4% ao mês, um processo angustiosamente demorado, ele exaltou como chegou lá:

  1. Sem passar antes por uma hiper.
  2. Sem expropriação de ativos.
  3. Sem fixar o tipo de câmbio.
  4. Sem controlar preços.
  5. Recompondo os preços relativos.

“Nunca antes se viu lutar contra a inflação assim. Demora um pouco, mas é verdadeiro”.

Também foi comemorado no governo o artigo no Financial Times do presidente do BID, Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central durante os governos Rousseff e Temer.

“O país conseguiu avanços notáveis na restauração do equilíbrio fiscal, que tanto necessitava, ao converter um déficit primário de 2,9% do PIB ao final 2023 em um superávit de 1,5% do PIB em fins de agosto deste ano”, elogiou Goldfjan, notando, com a contenção obrigatória para seu cargo, que “não foi um processo fácil”.

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Também como é obrigatório, exaltou a necessidade de “continuar melhorando a eficiência do gasto e redirecionando os recursos para apoiar melhor os argentinos mais vulneráveis”.

EMPURRAR O PÊNDULO

Essa, obviamente, é a questão chave. Irá a Argentina de Milei, submetida às propostas maximalistas de um economista exótico a quem os inimigos chamam de “anão da motosserra”, sacudir séculos de vícios econômicos e ciclos de euforia e depressão? Irá superar índices péssimos como o do aumento da pobreza e retração do PIB e passar a crescer a partir de 2025?

O experimento sem precedentes terá tempo de começar a mostrar resultados, fora do campo da inflação, ou as carências explodirão antes, implodindo o projeto de Milei?

“Milei está tentando empurrar o pêndulo. E o mais provável é que não chegue ao extremo que ele queria, mas ao menos conseguirá uma melhora,” avaliou para o La Nación o economista Alberto Ades.

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“Já experimentamos o protecionismo durante décadas e foi muito ruim para nós. Nunca experimentamos o livre mercado absoluto. Tampouco sabemos se vai funcionar”.

Bem, já sabemos que dentro de sua caixa o gato de Schroedinger canta uma milonga vitoriosa ou fica no silêncio dos que se foram.

“ALGO QUE NÃO EXISTE”

Não dá para fazer uma fezinha?

Espertamente, o economista levanta uma série de condicionantes, sem cravar uma opção. Quem tem coragem de apostar no comportamento de alguém que sofre de bipolaridade acelerada?

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“O que está claro é que não dá mais o modelo argentino de protecionismo que gera rendas ou quase rendas distribuídas por um poder central, que ao mesmo tempo geram oportunidades enormes de corrupção e distorções”.

“Se finalmente vamos terminar em algo que não existe em país nenhum do mundo ou alguma coisa intermediária, ainda não sabemos”.

É uma novela de proporções mundiais, com Milei terminando como um profeta do terceiro mundo que inspira reformistas libertários no planeta dos países ricos, numa inversão sem precedentes, ou foge de helicóptero da Casa Rosada.

Miau.

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