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Péter Esterházy: ‘O escritor deve ser político mesmo quando não pode falar de política’

Considerado um dos autores europeus mais importantes da atualidade, o húngaro Péter Esterházy vem ao Brasil participar da Flip e lançar Os Verbos Auxiliares do Coração, pela Cosac Naify, mesma editora que publicou, dele, o aclamado romance Uma Mulher. Em entrevista a VEJA Meus Livros, direto de Paraty, ele fala de literatura, política e feijoada. Para […]

Por Da Redação Atualizado em 31 jul 2020, 11h25 - Publicado em 7 jul 2011, 14h02


Considerado um dos autores europeus mais importantes da atualidade, o húngaro Péter Esterházy vem ao Brasil participar da Flip e lançar Os Verbos Auxiliares do Coração, pela Cosac Naify, mesma editora que publicou, dele, o aclamado romance Uma Mulher. Em entrevista a VEJA Meus Livros, direto de Paraty, ele fala de literatura, política e feijoada. Para Esterházy, o escritor deve ser político mesmo quando não pode falar de política.

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Depois do elogiado Uma Mulher, onde você descreve em 97 capítulos as relações entre um homem e uma mulher, sai no Brasil Os Verbos Auxiliares do Coração, sobre a morte de uma mãe, a relação com o luto e a perda. Ambos percorrem o mundo do afeto. Gostaria que você falasse do peso dos sentimentos na sua obra.
Dos sentimentos, não consigo falar. Na língua húngara, não existem verbos auxiliares, então, no título eu me referi a algo que não existe, porque é algo de que não se fala. Por mais que se fale da perda, do luto, nada irá melhorar essa dor. Nada, nem se esse livro tiver sucesso. Quando se obtém sucesso, a vontade primeira é contar para a mãe. Como a mãe não está viva, isso perde o valor. No meu último romance (Nenhuma Arte, de 2008), eu nego o que fiz nesse. Escrevo sobre a relação com uma mãe que está viva e com noventa anos.

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O senhor nasceu na década de 1950, viveu sob o regime socialista e participou do declínio dessa forma de governo, que culminou na dissolução do Pacto de Varsóvia. Qual a relação da política com a sua obra?
Numa ditadura, tudo é político. As relações humanas são muito politizadas, o amor é politizado. Feijoada também é política. Numa sociedade totalitária, o poder está presente o tempo todo, em todas as relações. Nem a literatura consegue falar da falta de liberdade, mas é através dela que se pode silenciar sobre a liberdade com tamanha precisão que, ao se ler, vê-se que se está falando dela. Em 1990, terminou a ditadura na Hungria e a literatura mudou. No início daquela década, eu escrevi artigos políticos que criticavam a linguística. O escritor deve ser político mesmo quando não se pode falar de política.

A sua formação foi em matemática, ciência que exercita o pensamento lógico. Esse tipo de raciocínio o auxiliou na montagem de seus romances?
Formalmente, só poderia responder a essa questão de uma maneira não lógica. A matemática trabalha com as formas e eu penso no livro como um espaço, um território. Nesse espaço, há várias formas, várias relações que interagem entre si. Conclui-se que a literatura e a matemática são parecidas porque são como um jogo, com as suas regras. No futebol, por exemplo, a regra é não colocar a mão na bola, mas isso não vale se você está jogando handebol. Então, cada jogo tem regras específicas. O que aprendi com a matemática foi isso: cada coisa tem as próprias regras.

Apesar de ter se dirigido para a matemática, durante a sua vida você foi um bom leitor?
Sim, um leitor talentoso e perfeito. Um bom leitor não lê de cima para baixo, lê por prazer. O leitor tem tanto prazer em ler que ele perdoa os erros do escritor. O bom leitor lê pela mesma razão que respira.

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No romance Harmonias Celestiais, você narra a história da sua família, desde o Império Austro-Húngaro. Escrever esse livro lhe fez pesquisar sobre o seu passado? Terá sido uma forma de, através da literatura, ir em busca de si próprio?
Minha família teve grande importância na história da Europa, então, tudo está bem documentado, não precisei fazer pesquisa. Quanto a mim, não escrevi para me conhecer, mas para conhecer o mundo ao meu redor. Eu não queria saber a verdade sobre a minha família, eu queria recriar uma família e foi essa família ficcional que eu quis conhecer.

Em entrevista sobre o livro A Mulher, você diz que em sua vida foi apaixonado pelo menos por uma mulher e que muitas das suas frases cresceram dessa experiência. Onde entram na sua obra a ficção e o relato autobiográfico?
Para mim, a ficção entra pela mesma porta pela qual entra o relato autobiográfico. Não faço distinção entre uma coisa e outra. Os romances estão sempre brincando de ser relatos autobiográficos. No livro Verbos Auxiliares do Coração, pude pensar sobre a morte de uma mãe. No outro, Nenhuma Arte, o contrário: penso que ela está viva.

O Leste Europeu sempre nutriu a humanidade de grandes romances. Dentre escritores mais recentes, eu gostaria de citar Elias Canetti (Nobel de 1981), Imre Kertész (Nobel de 2002) e Sándor Márai. Qual a importância desses escritores para a literatura europeia?
Eu preferiria falar de Kertész, de seus bons romances. Nele, podemos ver melhor o que se pode criar a partir da experiência de vida do Leste Europeu. Ele consegue, através da literatura, levar essa experiência pesada para um cosmo transcendente.

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Lilian Fontes

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