Filho de libaneses, o professor da USP Mamede Mustafa Jarouche nasceu no Brasil, mas sempre conviveu com o árabe, idioma com que se relacionava já cedo em casa em que estudou em viagens pela Arábia Saudita, Iraque, Líbia e Egito, onde fez um pós-doutorado. Um dos principais pesquisadores e tradutores do idioma no Brasil, ele concluiu no ano passado a tradução do Livro das Mil e Uma Noites, uma edição monumental publicada em quatro volumes pela Globo Livros. Foi sobre essa tradução e sobre o tema da mesa que vai dividir com o poeta palestino Tamim al Barghouti na Flip 2013, “Literatura e Revolução”, que Jarouche falou ao blog VEJA Meus Livros.
Na Flip, o senhor vai estar na discussão sobre literatura e revolução. Ao descrever a mesa, os organizadores da Flip falaram em uma “conexão inesperada entre ação política e criação literária”. O senhor acha mesmo que seja inesperada? Inesperado é usarem a palavra inesperada. Pelo contrário. Os momentos de ebulição revolucionária são também períodos de ebulição literária. Você pode pesquisar todas as revoluções e a quantidade de textos que foram escritos em cada uma delas. A tormenta política é apontada também na tormenta no campo das ideias. Nada mais natural que se escreva muito quando se vive um momento assim. É quase que uma regra.
O senhor acha que a chamada Primavera Árabe pode ter despertado o interesse dos brasileiros pela literatura árabe? O interesse sempre existiu, ainda que de forma difusa, não apenas pelo que se produz hoje. Mas esses eventos ajudam a cristalizar o conceito de que se trata de uma literatura com ampla tradição. É uma literatura que tem uma existência contínua de dois mil anos. O maior problema para que ela seja conhecida no Brasil é a falta de profissionais capazes de traduzir os textos diretamente dos originais. São poucas as pessoas que traduzem do árabe no país. Você conta nos dedos das mãos. As traduções que existem, na maioria das vezes, são indiretas, feitas a partir de traduções para outros idiomas.