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Folhas de árvore, folhas de livro

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Por Antônio Xerxenesky
Atualizado em 13 ago 2018, 21h32 - Publicado em 12 Maio 2012, 10h09

Alardeado como uma das vozes mais instigantes da novíssima literatura latino-americana, o chileno Alejandro Zambra, nascido em 1975 em Santiago, tem seu romance de estreia, Bonsai (tradução de Josely Vianna Baptista, Cosac Naify, 64 páginas, 23 reais), publicado agora no Brasil. O livro obteve diversos prêmios importantes e foi adaptado para o cinema por Cristián Jiménez, em 2011. Mais importante do que repassar o currículo da obra, porém, talvez seja observar como nela Zambra parece seguir caminhos abertos por Roberto Bolaño, escritor que também é de origem chilena e se tornou um verdadeiro fenômeno editorial na América Latina.

Costuma-se dizer que a Europa e os Estados Unidos “adotam” um escritor latino a cada década, e o último a ser assimilado, sem a menor dúvida, foi Bolaño. Na América Latina, o nome do chileno se converteu em algo fantasmagórico – espera-se que as obras dos novos narradores e poetas dialoguem, de certa forma, com a produção do autor de 2666 e Noturno do Chile.

Publicado em 2006, Bonsai conta a história de um casal jovem, Julio e Emilia, que estudam literatura e têm uma relação amorosa e sexual intensamente conectada com o ato de ler e com a formação literária e intelectual dos dois. O relacionamento se desdobra com a aparição e intervenção de outros personagens secundários e é pontuado por referências literárias, constantes em todos os capítulos do livro.

O narrador de Bonsai não cria suspense em relação à trama nem apela para métodos tradicionais de contar uma história de amor. Desde o início do livro, ele anuncia o final, e a cada começo de capítulo deixa o máximo possível às claras, destruindo qualquer possibilidade de criar uma narrativa que empolgue o leitor e o obrigue a folhear com voracidade as páginas. Pelo contrário: o narrador de Zambra é distante e esquarteja a própria história que conta com a frieza de um agente funerário. Apesar da brevidade do romance (que, não fosse por questões mercadológicas, poderia ser chamado de novela ou mesmo de conto), o texto é construído aos poucos, como quem poda uma árvore de bonsai uma folha por vez.

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Em muitos sentidos, a trama remete a Os Detetives Selvagens, romance icônico de Roberto Bolaño. Assim como na primeira parte de Os Detetives Selvagens, observamos em Bonsai uma união entre descobertas amorosas e achados literários. A formação literária dos protagonistas se dá juntamente com as suas formações eróticas. Mais do que isso: com o desenrolar da narrativa de Bonsai, surgem vários indícios de que parte da história pode ser interpretada como uma metáfora sobre o ato de escrever. Assim como em Roberto Bolaño, no universo de Zambra, literatura e vida estão indissociavelmente unidas.

Isso não quer dizer, de modo algum, que Alejandro Zambra não tenha voz própria ou que seja um mero descendente de outro autor chileno de maior destaque. É apenas um sinal de que o escritor está ligado a certa tendência contemporânea – metaliterária, pode-se dizer – de usar o espaço ficcional para pensar o próprio fazer literário, nem que seja ao contar a história de amor de um casal no Chile dos dias de hoje. Assim como o espanhol Enrique Vila-Matas, outro autor de amplo destaque entre os literatos de língua hispânica, Zambra dá vida a personagens que estruturam seu mundo como se este fosse mediado pela literatura, pelos romances que devoram e que leem em voz alta para a namorada.

O resultado, em Bonsai, é uma narrativa incomum, que se mostra desmistificadora — explicitando recursos narrativos e anunciando eventos na trama muito antes de acontecerem — ao mesmo tempo em que está envolta em uma atmosfera de estranheza e obscurece certos ângulos da trama. Pode-se especular que a concisão de Zambra seja decorrente de sua experiência com a poesia. Por enquanto, com apenas um trabalho publicado no Brasil, o autor chileno seguirá para os brasileiros enigmático como seu romance.

 

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