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‘Alvo Noturno’, o mais – e menos – policial de Ricardo Piglia

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Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2018, 22h02 - Publicado em 27 ago 2011, 11h30

Uma coisa é certa: Alvo Noturno (tradução de Heloisa Jahn, Companhia das Letras, 256 páginas, 45 reais), romance do argentino Ricardo Piglia que acaba de chegar ao Brasil, é o mais policial de todos os seus livros. Outra coisa é igualmente correta: a obra, recentemente agraciada com o Prêmio Hammet de romance noir, não é um livro policial.


Vídeo: Ricardo Piglia fala a VEJA Meus Livros sobre Alvo Noturno

Não se quer aqui entregar o final, mas basta citar o que se desenvolve antes dele para compreender. O livro tem início com a história de Tony Durán, um alto e belo porto-riquenho radicado nos Estados Unidos, de onde embarca para a Argentina após conhecer as irmãs Ada e Sofia. São as gêmeas e ruivas filhas do patriarca dos Belladona, clã que fundou e comanda um povoado na província de Buenos Aires.

O envolvimento de Tony com as gêmeas choca a cidade, que valoriza mais as próprias notas do que o noticiário do país, mergulhado numa ditadura militar – o período é 1970, época dileta de Piglia. O choque é logo substituído por outro, no entanto: poucos meses após desembarcar no povoado, Durán é assassinado no quarto do hotel onde está hospedado. O segurança noturno do lugar, um japonês que remete ao segurança do hotelzinho de A Cidade Ausente, é logo apontado como suspeito, pela grande amizade criada com o morto. Em seu quarto, encontram emoldurada uma foto de Tony seminu. Yoshio é preso, acusado de crime passional.

Mas, assim como a imagem que na cidade se tem do campo, visto como lugar pacato, tedioso e atrasado, e na verdade um composto de “camadas geológicas”, como anota Piglia, a história rompe a superfície e se desdobra. Um novo assassino, um crime contratado, um esquema de lavagem de dinheiro e de empresas, corrupção, intrigas familiares, sexo e drogas são componentes que surgem especialmente a partir do ponto em que o honesto mas amalucado detetive Croce cruza com o repórter Emilio Renzi, alter-ego do qual Piglia já revelou querer escrever uma biografia.

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Enviado de Buenos Aires para cobrir a morte de um gringo no interior da província, Renzi demora um pouco a chegar. Sua entrada acontece por volta da página 40. Mas, quando chega, passa a rivalizar com o narrador – boa parte dos capítulos terminam com anotações do jornalista, destacadas em itálico – e com o investigador Croce pelo papel de protagonista da história. Seja qual for o narrador ou o protagonista do trecho, Piglia mantém o humor irônico que pontua todo o romance e compensa o fato de ele ser menor que, por exemplo, Respiração Artificial, do mesmo Piglia e do mesmo Renzi.

Compensa também, e muito, o fato de Alvo Noturno ser marcado por um clima noir em que as incertezas se acentuam – daí se ter menos um romance policial que um romance no sentido mais amplo, de possibilidades irrestritas. Clima detetivesco que é caro não apenas a Piglia, mas a toda uma tradição da literatura argentina, que sabe com ele brincar, não apenas incorporá-lo, dando à obra esse formato multifacetado.

O próprio título corrobora com a proposta. Alvo noturno, explica uma nota de rodapé no meio do livro – feito de notas com funções variadas, como a de complementar um dialogo com falas –, eram as lebres com que os motoristas do povoado tinham de tomar cuidado ao dirigir no escuro, e que os ingleses liquidaram sem problemas, na Guerra das Malvinas, por contar com um visor para enxergar à noite. A imagem da faceira da lebre e a oposição entre o local e o estrangeiro e entre quem vê e quem não vê na noite – noir – ajudam não a explicar o romance, mas a ampliá-lo em termos de saídas. Difícil é escolher uma só delas. Afinal, aqui nada é o que parece ser.

 

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