O presidente Jair Bolsonaro até tentou ouvir os conselhos para se concentrar em sua campanha e ser mais moderado em suas atitudes e ataques contra autoridades e instituições. Mas a postura durou pouco e, no último fim de semana, o presidente voltou a ofender aquele a quem elegeu como seu rival, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
No mesmo evento no qual perguntou se as mulheres preferiam sacar a lei Maria da Penha ou uma pistola – mais um de seus devaneios armamentistas -, o presidente chamou de “vagabundo” quem ouviu a conversa entre os empresários golpistas alvos de busca e apreensão por mensagens no WhatsApp.
Não só isso. Chamou de “vagabundo” também quem deu a “canetada” para que os mandados fossem cumpridos.
“Nós vimos, há pouco, empresários tendo sua vida devassada, tendo a visita da Polícia Federal. Estavam privadamente discutindo assunto, não interessa qual seja o assunto, eu posso bater um papo num canto qualquer. Não é porque tem um vagabundo atrás da árvore ouvindo a nossa conversa, que vai querer roubar a nossa conversa. Agora, mais vagabundo que esse ouvindo a conversa é quem dá canetada após ouvir o que ouviu esse vagabundo”, disse o presidente.
Além de usar palavras baixas, o presidente ataca de forma clara o responsável por assinar os mandados de busca e apreensão. A “canetada” à qual ele se refere foi a decisão de Moraes contra os empresários. O “vagabundo” ouvindo atrás da árvore também é uma mensagem ofensiva do presidente.
Ou seja, em alguns segundos, Bolsonaro conseguiu jogar no ralo todo o discurso de pacificação que vinha sendo construído por seus auxiliares mais próximos nas últimas semanas. Durante sua sabatina no Jornal Nacional, por exemplo, o líder da extrema-direita fez questão de mudar de assunto ao ser perguntado sobre as ofensas que já proferiu contra Moraes, como quando o chamou de “canalha”.
“Até você deve ter visto, por ocasião da posse do senhor Alexandre de Moraes, um certo contato amistoso nosso lá; e, pelo que tudo indica, está pacificado”, disse na sabatina, fazendo referência à sua presença na posse de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Bem, não estava “pacificado”. E era uma questão de tempo para que Bolsonaro voltasse a ser Bolsonaro. Esta coluna já defendeu que o remédio amargo adotado por Moraes é, na verdade, uma tentativa de reverter um erro cometido décadas atrás, após o fim da ditadura.
Mais uma vez, o presidente ameaça a democracia ao xingar um ministro que está tentando colocar a Constituição Federal acima de vontades pessoais e de rebeldias daqueles que não concordam com as decisões que são tomadas por quem foi escolhido para isso.