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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Por que a juventude brasileira está se tornando cada vez mais evangélica

Teólogo Rodolfo Capler analisa o fenômeno da adesão de grande parte dos jovens brasileiros ao segmento evangélico de corte pentecostal

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 31 jan 2022, 17h39 - Publicado em 31 jan 2022, 07h45

Conforme a pesquisa do Instituto DataFolha, publicada em dezembro de 2016, “três em cada dez brasileiros com 16 anos ou mais atualmente são evangélicos”. Já os dados da pesquisa de 2020 do DataFolha revelam que há aproximadamente 12,4 milhões de jovens entre 16 a 24 anos que se declaram evangélicos –  13,7 milhões de jovens na mesma faixa etária se identificam com o catolicismo. Levando em conta que a proporção geral de católicos é maior (105,5 milhões), que a de evangélicos (65,4 milhões), e que os evangélicos não param de crescer em números, tornando-se uma “uma vasta nuvem” (segundo definição do pesquisador e pastor Davi Lago), a interpretação dos dados mencionados, nos permite concluir que a juventude brasileira caminha a passos largos para se tornar predominantemente evangélica.

 A adesão dos jovens brasileiros ao segmento evangélico se dá prevalentemente entre aqueles que fazem parte das classes mais baixas do país e que massivamente se filiam as igrejas pentecostais e neopentecostais. De acordo com o Censo Brasileiro, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, 60% (25,3 milhões) dos evangélicos eram pentecostais. 

O antropólogo Juliano Spiyer em “Povo de Deus” (primorosa pesquisa sobre os cristãos-evangélicos no Brasil) analisa os dados demográficos observando o sucesso da fé evangélica (sobretudo a de corte pentecostal) entre os mais novos. “Considerando-se a faixa etária dos fieis, enquanto o catolicismo é mais popular entre pessoas com 40 anos ou mais, os evangélicos pentecostais atraem mais crianças e adolescentes”, observou Spiyer. 

Essa massa de jovens se associa às igrejas evangélicas por influência de alguns fatores que se tornaram objetos de estudo entre sociólogos, antropólogos, teólogos e cientistas da religião. Um dos fatores é contextualização da mensagem da fé, que se adapta à realidade sociocultural de grande parte da juventude. 

O jovem brasileiro se sente atraído pela pregação dos pastores pentecostais – que lançam mão de estética e linguagem contextualizadas – como também pela música gospel, que desde a sua gênese, incorpora os mais variados subgêneros musicais populares. Nas igrejas evangélicas, canta-se rap, funk, samba, sertanejo e rock – o que se constitui elemento de apropinquação com as novas gerações. 

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Outro aspecto que aproxima os jovens brasileiros da fé evangélica é a forte ênfase discursiva no indivíduo. Segundo os apontamentos das mais recentes pesquisas geracionais realizados no mundo, os membros das gerações Y e Z são muito individualistas e narcisistas. Por essa razão, a mensagem centrada no indivíduo (que é lugar-comum no evangelicalismo brasileiro), cativa boa parte dos fiéis mais jovens.  

Por fim, a presença social das igrejas nas periferias e rincões do Brasil, designa um dos pontos fulcrais de conexão da juventude com a religião evangélica. Conforme o antropólogo Maurício de Almeida Prado, as igrejas evangélicas oferecem às populações mais precarizadas, uma espécie de serviço social informal, ocupando os espaços abandonados pelo poder público, ou seja, elas intermediam conflitos familiares, doam cestas básicas, assistem os dependentes químicos, cuidam dos doentes e promovem a aculturação de uma massa de miseráveis. Esse processo de abraçamento dos mais vulneráveis pelos evangélicos, talvez seja o principal fator ocasionador das conversões da juventude brasileira ao segmento evangélico.

Diante desse cenário religioso que se descortina em nosso país, surge uma importante questão: nos próximos anos o jovem brasileiro continuará se identificando com a fé evangélica? Ao que tudo indica, o crescimento do número de jovens evangélicos tende a aumentar nas próximas décadas não só nas classes mais pobres, como também nos estratos econômicos mais elevados. Os desdobramentos disso serão sentidos não somente na cultura popular – que, emblematicamente, já substituiu bordões católicos outrora correntes como “Nossa senhora” e “Vixe Maria”, por expressões do mundo evangélico tais quais “Só Jesus na causa” e “O sangue de Jesus tem poder” – mas também na organização social da nação, com a promoção de maior igualdade de gênero (visto que entre os pentecostais o número de mulheres é 20% maior do que o de homens), e com o aumento da escolarização da população em virtude da disciplina da leitura conquistada a partir do convívio dentro da igreja.

* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP

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