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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Por que a desistência de Biden não significa que tudo mudará? 

Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Vicente Silva afirma que eventos extremos em campanhas eleitorais não são definidores do resultado

Por Rodrigo Vicente Silva
Atualizado em 22 jul 2024, 10h17 - Publicado em 22 jul 2024, 09h30

Fatos marcantes, como a desistência de Biden, atraem holofotes. Foi assim com a facada em Bolsonaro ou como tem sido com o atentado contra Trump. Fato é que eleições presidenciais são muito mais complexas que situações pontuais.

Logo que as notícias sobre o atentado contra Donald Trump saíram no domingo retrasado foi imediata a comparação com a facada sofrida por Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018. Se você curte uma pegada conspiracionista e acha que estamos falando de “fakeada” e de “fake atentado “, peço que passe a página porque, como diz o meme, nós não estamos vivendo no mesmo mundo. 

De antemão, vale lembrar que não foi a facada que mudou a eleição brasileira em 2018, provavelmente não será o atentado contra Trump, assim como não será a desistência de Biden o determinante para a eleição americana deste ano. O que sabemos é que Biden não será o candidato. Se a sucessora – se Kamala, de fato, for a indicada – será eleita, é difícil dizer.

O que é possível cravar é que assim como os republicanos, que ganharam os holofotes no domingo passado e surfaram ao longo de toda semana, esta é a vez dos democratas que, provavelmente, terão a narrativa da eleição. Mas é só um momento entre tantos outros que devem vir pela frente. E Trump continua no jogo. 

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Meu ponto diante destes fatos todos é a controversa ideia de que um único elemento seja definidor para uma eleição presidencial. Minha defesa é a de que um episódio, um atentado, por exemplo, não possa ser visto como condição fundamental para mudar o rumo de algo tão complexo e com múltiplas variáveis como um pleito nacional, seja nos Estados Unidos ou aqui. Não é, perceba, leitor, que estes fenômenos não sejam importantes e criem barulho e ajeitem o caminho da corrida, mas não são capazes de mudar todo o processo. 

Candidatos como Bolsonaro ou Trump representam normalmente períodos de disrupção política e social. Ambos trilharam seus postos dessa forma e obtiveram suas vitórias calcados em um processo que não caiu no colo deles da noite para o dia. Se em 2016 Trump venceria Hillary contra todas as expectativas, em 2018, Bolsonaro o faria da mesma forma, deixando todos atônitos e sem respostas. Se no dia da vitória de ambos ninguém sabia explicar o porquê de tudo aquilo, aos poucos foram ficando claro os motivos. 

No caso brasileiro, para focar apenas em nossa realidade, estava tudo lá, desde 2015 – talvez até um pouco antes – se formando para que um candidato anti-establishment vencesse a corrida pela presidência. Bolsonaro vinha se consolidando como o candidato do que muitos chamaram de “partido da lava-jato”, ou seja, aqueles eleitores descontentes com “tudo aquilo que estava ali” e que queriam mudanças, algumas delas já pedidas desde as manifestações de 2013. Trump era o típico disruptivo de uma geração exausta com uma década de crise, envolvimento em guerras, perda de emprego e migração. Encapou o discurso nacionalista e conseguiu  vencer o pleito. 

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Sobre a eleição de Bolsonaro, lembro de um livro que reuniu esses dados de forma magistral, intitulado “A eleição disruptiva: por que Bolsonaro venceu?” A obra lançada logo depois da eleição de 2018 trouxe dados robustos que valem ser lembrados. Dentre eles as pesquisas de opinião ao longo dos meses que antecediam as eleições, mostrando que estatística e conjunturalmente dificilmente Bolsonaro não seria o vitorioso, de acordo com os autores, com ou sem facada. Talvez sem o atentado tivesse mais tempo de vidraça, tivesse de ir aos debates, mas um “espírito” de mudança era claro. E Bolsonaro venceria, e venceu.

Achar que fatos isolados mudam todo processo serve muitas vezes para deixar de lado uma reflexão mais densa acerca daquilo que muda o rumo da história. E certamente estas mudanças são gestadas ao longo de grandes períodos. Entender as eleições de Bolsonaro e de Trump, apenas para ficar nesses exemplos, é algo essencialmente complexo, longe, portanto, de ser explicado de modo simplista. O ex-presidentes americano e brasileiro, assim como outros tantos líderes populistas são frutos de longo processo e gestados a conta gotas e resultantes de múltiplos fatores.  Acreditar no contrário é negar a própria ciência social e política que mostra o trajeto dos acontecimentos com base em dados robustos. 

Saber se os Estados Unidos estarão dispostos a mudar o curso e não permitir a volta de Trump à Casa Branca e tudo o que ele significa é algo que está muito além do atentado contra o candidato republicano ou da desistência de Biden hoje. 

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* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com a coluna

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