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Os púlpitos em favor do governo

Teólogo Rodolfo Capler denuncia processo de instrumentalização da fé cristã para fins políticos, encampado por lideranças evangélicas no Brasil

Por Rodolfo Capler
18 set 2021, 14h08

Na semana que antecedeu o 7 de setembro, o processo de instrumentalização da fé cristã para fins políticos tornou-se muito mais evidente em nosso país. Uma parcela significativa dos pastores das mais variadas denominações evangélicas utilizaram o púlpito de suas igrejas para estimularem a participação dos fiéis nas manifestações pró-governo que ocorreram no último feriado.

Ancorando-se na pauta da defesa da família, dos bons costumes e em posicionamentos contrários à aprovação de leis antagônicas aos valores cristãos, líderes evangélicos organizaram caravanas para pontos centrais das cidades onde ocorreram as manifestações. Figuras de renome no cenário nacional evangélico, como Silas Malafaia, Marcos Feliciano, Renê Terra Nova, Samuel Câmara, Cesar Augusto, Estavam Fernandes… e presidentes de conselhos de pastores municipais por todo o país, declararam apoio ao presidente da República e as suas pautas (muitas antidemocráticas), sendo recebidos no Palácio do Planalto.

O problema do apoio irrestrito das lideranças evangélicas a Bolsonaro e do incitamento que fizeram aos fiéis para que se integrassem às manifestações do último feriado se encontra no processo de instrumentalização da fé para fins políticos. A instrumentalização da fé é todo e qualquer ato de utilização da crença religiosa para fins escusos que fogem da natureza própria da religião. Quando isso acontece a fé é atacada e enxovalhada. A religião precisa ter uma boa convivência com o Estado, porém nunca deve se entrelaçar com ele em relações de conluio como tem acontecido atualmente no Brasil. Quando a religião se pactua com o Estado, necropolíticas são gestadas em nome de Deus. A História, com seus tristes episódios já corroborou os efeitos nefastos da associação entre religião e política partidária.

Assim, o ponto em questão na participação dos evangélicos nas manifestações a favor de Bolsonaro no último feriado não é o direito constitucional dos evangélicos de protestarem favoravelmente ou contrariamente a qualquer governo – eles têm o direito inalienável de se manifestarem. A questão que se impõe é a seguinte: qual é o limite da influência das autoridades religiosas em relação aos fiéis? Um líder espiritual pode fazer qualquer coisa, ancorando-se em símbolos religiosos, como a Bíblia Sagrada? Infelizmente, muitos pastores de nossa nação estão se arvorando na autoridade religiosa que possuem em suas comunidades de fé locais para moldar a perspectiva política dos fiéis.

A instrumentalização da fé para fins políticos além de ser um ultraje à essência da fé é um grande risco para democracia. Como a religião é um aspecto constitutivo e formativo dos indivíduos, em nome da fé pessoas religiosas podem ser manipuladas, influenciadas e sugestionadas a apoiar qualquer causa e/ou projeto políticos, sem o menor olhar crítico. Um exemplo disso foi o modo como clérigos cristãos protestantes e católicos apoiaram o nazismo na Alemanha na década de 1930, influenciando uma massa de fiéis a fazerem o mesmo. Segundo Frank McDonough, em sua obra prima “Gestapo”, em 1933, “40% dos clérigos protestantes eram membros do partido nazista”. Ou seja, Hitler subiu ao poder na Alemanha com o apoio irrestrito dos cristãos, por influência direta dos pastores alemães que haviam estabelecido uma aliança com o nacional-socialismo.  

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Fatos históricos como esse comprovam que quando a fé é instrumentalizada para fins políticos, ela é restringida como um meio para se conseguir um fim, quando não muito, se torna apenas mais uma commoditie do Mercado.

Assim, urge aos homens e mulheres de fé de nossa nação a denúncia de qualquer processo de instrumentalização da religião. Não podemos aceitar – em nome de Deus – a corrupção da fé cristã em prol de quaisquer projetos políticos.

* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Mídia e Comportamento da Fundação São Paulo/PUC-SP

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