Desde que tomou posse como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no longínquo 1975, Luiz Inácio Lula da Silva brilha no mundo político. Naquele momento, em meio à ditadura militar, ele era apenas uma pequena lâmpada – um mini bulbo – em meio às trevas.
Três décadas depois, em 2003, cercado por mais de 1800 repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e auxiliares de jornais, rádios, TVs de todo mundo, virou a estrela da democracia brasileira – com uma luz intensa – ao receber a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso.
Mal sabia o presidente do Brasil que ainda viveria algo maior.
Neste 1º de janeiro de 2023, quase 50 anos depois do dia em que tomou posse no sindicato – notícia registrada apenas pelo Diário do Grande ABC – Lula inicia seu terceiro mandato presidencial vencendo o retrocesso dos últimos quatro anos para se tornar o maior político da História da América Latina.
Só depende dele. Faltam poucos passos.
E por que digo isso?
Hoje o Brasil renasce para o mundo após ter virado pária sob Bolsonaro. E Lula, se fizer um bom governo – combatendo a desigualdade, o desmatamento e recuperando a economia brasileira – se transformará no maior político de uma das regiões mais sofridas do mundo.
Essa luz não vai parar de brilhar. Já tentaram apaga-lá mais de uma vez e não conseguiram. O país testemunhou isso de novo.
Ovacionado por milhares de pessoas (emocionadas) na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, o líder brasileiro que passou por tragédias pessoais e políticas das mais intransponíveis sabe que já fez o impossível possível algumas vezes. Da miséria para à presidência, da prisão à volta por cima numa eleição.
Hoje, o inexequível, o impraticável, o irrealizável não existe mais para Lula.
“Cidadania é o outro nome da nossa querida democracia. Negar a política, desvaloriza-la e criminaliza-la é o caminho da barbárie e das tiranias”, disse, lembrando do que a Lava Jato fez com ele, ao assinar o termo de posse no Congresso Nacional.
Ainda assim, após subir a rampa sem rancor, Lula deu início ao processo de pacificação do país afirmando categoricamente: “A disputa eleitoral acabou. Não existem dois ‘Brasis’. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”.
Antes, o presidente escolheu a música “trenzinho do caipira” da Bachianas Nº 2, de Heitor Villa-Lobos, para ser tocada antes do discurso e da subida da rampa.
Bachianas Brasileiras retrata sonoramente o Brasil dentro de uma linguagem universal. Descreve também sonoramente um trem saindo da estação e entrando no Brasil profundo.
“Assumimos hoje, diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade no nosso país. Desigualdade de renda, de gênero e de raça. Desigualdade no mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado, no acesso á saúde, à educação e a demais serviços públicos”, disse, garantindo que o combate à pobreza será uma de suas principais agendas.
O ex-torneiro mecânico pensava na desigualdade dos grandes centros, mas também das profundezas do nosso Brasil.
E o novo ex-presidente do país?
De forma covarde, Bolsonaro, um neofacista, descumpriu o dever cívico de transferir a faixa e o cargo para o sucessor.
Corajosamente, Lula, que acabou recebendo a faixa presidencial do povo, quebrou o protocolo da posse para escrever democraticamente o futuro com uma grandeza que um amante de ditadura militar jamais conhecerá.