O Brasil continua sendo um país polarizado. Grupos diferentes vêem coisas opostas no mesmo evento. Quem ouve os diversos lados pode ouvir frases assim sobre o julgamento do primeiro réu dos atos golpistas do 8 de Janeiro: “Alexandre de Moraes parecia o acusador, e não um juiz”. “Nunes Marques parecia o advogado de defesa e não um magistrado.”. O advogado do primeiro acusado — Aécio Lucio Costa Pereira — “parecia um acusador do STF e não o defensor de um réu”. Sebastião Coelho da Silva chegou a afirmar, da tribuna da Corte, que os ministros “são as pessoas mais odiadas do país”.
Eu sei, o Brasil está assim. A esperança é que no futuro seja possível voltar-se a avaliações mais inteligentes e complexas. Por isso, a coluna ouviu os dois lados da polarização que divide o Brasil em duas nações distintas sobre a sessão desta quarta-feira, 14, no Supremo.
No julgamento, Alexandre de Moraes votou por condenar Aécio Pereira a 17 anos de prisão — 15 deles em regime fechado. Nunes Marques a dois anos e meio em regime aberto. Eles divergiram sobre a pena e sobre os crimes que foram cometidos naquele dia. Nunes Marques não viu três dos cinco atos criminosos enxergados por Alexandre. Não viu por exemplo a tentativa de golpe de Estado.
A diferença nos votos entre os colegas de toga é gritante.
Moraes acredita na condenação do réu por dano qualificado, por deterioração de patrimônio, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação criminosa. Nunes Marques quer absolvição da maioria desses mesmos crimes.
Bolsonaristas-raiz e esquerdistas, que preferiram não se identificar nesta coluna, testemunharam julgamentos totalmente diferentes. Pareciam mais torcida organizada de time — um de Alexandre de Moraes, outro de Nunes Marques.
Nesta quinta, 14, os outros 9 ministros da Corte retomam o julgamento. O primeiro a votar — após o divergência entre Moraes e Marques — será Cristiano Zanin, que tomou posse recentemente.
Duro é perceber que a polarização é cega. Como muito bem contou a reportagem de capa de VEJA (edição 2849), “dependendo do observador, os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 podem ser vistos, interpretados e mensurados de ângulos e maneiras diferentes. Uma constatação, porém, é inegável à luz dos fatos: a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes passaram para a história como o dia em que a democracia brasileira foi insultada e afrontada em sua essência por bárbaros agindo sob o impulso de mentes perturbadas que se escondiam — e ainda se escondem — nas sombras”.
A expectativa entre os magistrados — ou de parte deles, ao menos — é de que sejam trazidos à luz. A coluna também acredita que será o melhor para o Brasil.