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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O que diz o climatologista mais importante sobre o Rio Grande do Sul

… e o futuro! Com a palavra, o brasileiro Carlos Nobre, criador do Cemaden, e uma sumidade neste tema

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 14h59 - Publicado em 7 Maio 2024, 17h37

Um dos mais brilhantes cientistas brasileiros na História, o climatologista Carlos Nobre deu uma longa entrevista à coluna sobre a tragédia no Rio Grande do Sul e também sobre como diminuir os efeitos de eventos extremos que, segundo ele, serão cada vez mais frequentes na vida dos brasileiros.

Carlos Nobre é parte importante do IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU, e idealizou e dirigiu o Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, que tem salvado vidas Brasil afora.

Para o cientista, estamos em um caminho sem volta. Serão cada vez mais comuns essas tragédias ambientais. E o culpado? O homem! Ele mesmo. São os efeitos do aquecimento global que, ano passado, elevou a temperatura da terra em 1,5 graus.

“É a temperatura mais alta do planeta desde o último período interglacial, 125 milhões de anos atrás. Então, veja o que nós estamos impondo ao planeta, se a gente considerar civilizações que surgiram talvez há 10 mil anos atrás. Nunca o planeta passou por nada parecido. Somos 8 bilhões de habitantes. É um risco gigantesco”, afirma ele.

O que pode ser feito agora, de acordo com Nobre, é trabalhar para dirimir os danos. A coluna dividiu a entrevista em duas. Leia abaixo a primeira parte dela, que já é assustadora sobre o que viveremos como sociedade, mas também reveladora sobre como podemos enfrentar esse novo momento imposto à humanidade por nós mesmos. São nossos próprios erros.

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Por que eventos extremos como o do Rio Grande do Sul tem aumentado

A ciência já tem alertado sobre o risco do aquecimento global que está tornando o planeta bem mais quente. O ano passado bateu o recorde e de 1,5 graus mais quente. É a temperatura mais alta do planeta desde o último período interglacial, 125 milhões de anos atrás. Então, veja o que nós estamos colocando no planeta, se a gente considerar civilizações que surgiram talvez há 10 mil anos atrás… nunca o planeta passou por nada parecido. Somos 8 bilhões de habitantes. É um risco gigantesco. E esse ano continua quente como no ano passado. Em todo mundo esses eventos extremos estão acontecendo. São eventos que antes podiam acontecer uma vez a cada década. Agora acontecem uma vez a cada um ano, a cada dois anos. E eventos que podiam talvez acontecer a cada 100 anos, 200 anos, agora estão acontecendo a cada década. Então, tudo isso é aquecimento global e algumas coisas, como essas chuvas no Rio Grande do Sul. O registro histórico nunca mostrou chuva dessa dimensão de agora. E vai voltar a chover provavelmente amanhã ou hoje à noite. Isso é no mundo inteiro. E a ciência tem dito, não é? Se você aquece o planeta, se os oceanos ficam mais quentes, o registro de temperaturas mais quentes da história, de temperaturas oceânicas, isso não para mais porque essa é uma resposta do sistema climático, os oceanos, a atmosfera, o gelo, tudo isso responde. Os oceanos mais quentes evaporam muito mais água, essa água toda gera muita chuva, gera tempestades e o vapor d’água dos oceanos também é trazido para dentro dos continentes, que alimenta os sistemas de chuva. Isso somado ao continente mais quente também, tem mais vapor d’água na atmosfera. Quando sobe e forma nuvem, nuvens mais fortes e chuva mais forte. A ciência sabe muito bem, vamos dizer assim, as explicações físicas desse fenômeno. 

Os alertas já feitos sobre tragédias ambientais e a busca de uma solução complexa

O painel intergovernamental sobre Mudança do Clima [IPCC] vem alertando isso há muito tempo, há décadas. E principalmente o último relatório de 2021, 2022, sobre o aumento desses eventos extremos do planeta: chuvas intensas que causam deslizamentos, enxurradas e inundações, aumento do nível do mar, as marés de tempestade – nós chamamos de ressacas – as ondas de calor que levam um gigantesco número de mortes por doenças e também secas. Tudo isso está acontecendo de uma forma muito mais frequente e quebrando recordes, como esse do Rio Grande do Sul. Nunca choveu tanto, nunca choveu tanto em duas horas como em Petrópolis em fevereiro de 2022, que matou duzentas quarenta pessoas. Nunca choveu tanto como naquelas 24 horas do final de maio passado, em Recife. Então, tudo isso está sendo quebrado no mundo inteiro. E isso é o aquecimento global. A ciência deixa claro que isso não é um evento raro. Vamos supor que fosse um evento que acontece uma vez a cada cem, duzentos anos. Aconteceu tudo isso, destruiu milhares e milhares de residências, aquela coisa toda. E isso nunca mais vai acontecer, vai ser  a cada duzentos anos. Pode reconstruir tudo. Não, não. Esses eventos vão voltar a acontecer. Então, não tem sentido nenhum não buscar uma solução bem complexa, mas que tem que ser buscada. 

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Número de brasileiros em áreas de risco e o que fazer primeiramente 

As pessoas que vivem em áreas de risco, de chuvas intensas, deslizamentos, inundações, enxurradas, não podem mais continuar nessas áreas de altíssimo risco. Vai ser concluído brevemente o estudo baseado no censo do IBGE 2022, mostrando certamente – aqui eu tô estimando – mais de três milhões de brasileiros serão considerados como estando em áreas de altíssimo risco e outros 8 milhões em arsenal de risco. Esse estudo agora com mais de 1900 municípios, inclusive todos esses do Rio Grande do Sul que não estavam no primeiro estudo. A maioria desses que houve inundação do rio Taquari, outros rios não estavam no primeiro estudo, agora estão no segundo. Eles vão mostrar mais de três milhões de brasileiros em áreas de altíssimo risco, que não podem continuar ali. A gente até viu todas aquelas casas na beira daqueles rios muito próximos do nível do rio e o nível do rio, em alguns lugares, chegou a subir vinte metros. Tomou conta! Então, essas pessoas não podem voltar para essas áreas de altíssimo risco. A reconstrução dos locais para milhões de brasileiros não pode mais ser nessas áreas de altíssimo risco. E isso não é uma coisa que dá pra fazer em um ano. 

Outras medidas que podem ajudar a melhorar a situação

O que tem que ser feito também é o sistema de alerta. O Cemaden [criado pelo próprio Carlos Nobre] tem feito excelentes alertas baseados sempre no risco desses eventos extremos, avisando com dias antecedentes às defesas civis. O que tem que acontecer agora? As populações têm que ser alertadas quando há risco de deslizamento e inundações, vão para determinados locais muito bem acolhidos e ficam ali. Os sistemas de segurança apoiam para levar alimentos, remédios – tudo para esses locais. A região serrana já tem os melhores exemplos também, várias áreas de risco do Rio de Janeiro, de Salvador e até, por exemplo, não longe de onde eu vivo aqui no vale do Paraíba, São José dos Campos, Campos de Jordão. Tem que ter um sistema de alerta, sirenes. Praticamente não existia nenhuma sirene no Rio Grande do Sul, igual já tem nesses outros lugares. Tem que ter um sistema de alerta super avançado com sirenes. Não só comunicação do risco no celular da pessoa, porque às vezes, como a gente viu, cai a eletricidade e não tem mais celular, então tem que ter sirenes e as pessoas têm que ser muito educadas para quando os alertas forem disparados. As pessoas têm que imediatamente sair das áreas de risco e saber para onde vai, que são esses lugares que já falei.

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