O presidente que desagrada a todos
Ideologicamente, Bolsonaro inferniza todos os grupos de centro, da centro-esquerda e até parte da direita, que apostou no discurso liberal de Paulo Guedes
O presidente Jair Bolsonaro está conseguindo uma proeza incomparável: desagrada os verdadeiros liberais da política – os democratas – com suas constantes declarações contra as liberdades e em defesa da ditadura militar (1964-1985). E desaponta cada vez mais os liberais econômicos, com sua veia populista intervencionista, que rasga todos os manuais.
Assim, ideologicamente, ele inferniza todos os grupos políticos do centro e da centro-esquerda e até parte da direita democrática, além de conseguir desacreditar também a direita econômica, que apostou no discurso do liberalismo do ministro Paulo Guedes.
Pois nesta segunda-feira, 22, as ações desabaram e a Petrobras perdeu R$ 100 bilhões em valor de mercado em dois pregões. Isso, após o movimento de interferência política na estatal. Nesta terça, 23, há uma recuperação, mas o recado do intervencionismo foi dado por Bolsonaro.
É uma questão que fica para os “Chicabo Boys” brasileiros, pioneiros do pensamento ultra liberal no país após o sucesso da escola chilena e da Inglaterra de Margaret Thatcher. Vale a pena o sacrifício de uma agenda se ela não está funcionando neste governo?
Alguns integrantes da equipe liberal já saíram do governo Bolsonaro, como o ex-secretário Especial de Desestatização e Privatização Salim Mattar, que deixou a gestão do presidente dizendo que não teve êxito nos 18 meses de sua participação.
O mesmo aconteceu com o ex-secretário de Desburocratização Paulo Uebel, com o ex-presidente do Banco do Brasil Rubem Novaes, sem contar o ex-presidente do BNDES Joaquim Levy, que foi demitido por Bolsonaro. Mas Paulo Guedes mesmo, e outros economistas com esta linha de pensamento, permanecem na canoa, que parece cada vez mais furada.
Se os remanescentes integrantes da área econômica do governo Bolsonaro perguntarem aos lavajatistas que aderiram ao governo após a conturbada eleição de 2018, eles certamente vão dizer que não vale o sacrifício. O capital político da operação, construído durante anos na sociedade, foi parcialmente desfeito com a ida de Sérgio Moro e de delegados para o Ministério da Justiça.
Deu no que deu. O final desse filme a gente sabe. Tentativa de intervenção na Polícia Federal, a agenda anticorrupção estagnada e Sérgio Moro com um desgaste em sua imagem pessoal. Agora, o fim da Lava Jato, decretado pelo procurador-geral de Bolsonaro, Augusto Aras.
Se os liberais econômicos continuarem a apostar suas fichas em um político com o histórico de Bolsonaro, agora com mais um capítulo populista e estatizante, vão terminar sem o capital político que tanto almejam para as reformas estruturantes no país.