Após criar uma sequência de agendas positivas com o Auxílio Brasil, a diminuição dos preços de combustíveis e a aprovação da PEC Kamizaze, na qual o presidente foi ao parlamento e fez um raro discurso como outros líderes (conservadores) ao redor do mundo, Jair Bolsonaro está – novamente – acuado.
Ao mentir sobre as urnas eletrônicas para embaixadores estrangeiros nesta terça, 19, o presidente conseguiu unir a cúpula da Justiça Eleitoral a investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal, aos presidentes do Senado e do Supremo, aos principais órgãos da imprensa internacional e a redes sociais, como Youtube.
Como Bolsonaro fez isso?
Transformando o dia de ontem em um novo tiro no pé – digo novo porque no 7 de setembro de 2021 o presidente conseguiu a mesma “proeza” -, o político manteve-se fiel à sua trajetória de amante de ditadura e de líder de uma extrema-direita com ideário golpista, que teve seu momento mais importante no país em 1964.
O saldo negativo do ataque de Bolsonaro às urnas eletrônicas e a idoneidade do sistema eleitoral brasileiro começou com o seguinte: um pedido de investigação feito por vários subprocuradores-gerais da República, que também escreveram uma carta com inúmeros recados ao presidente e às Forças Armadas.
Depois, se juntou a eles um grupo de delegados e policiais federais que, através de entidades representativas, não deixaram por menos os arroubos autoritários de Bolsonaro.
Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, e Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado, engrossaram (e muito) o coro contra o presidente da República, já que sentam nas cadeiras mais importantes do poder judiciário e do poder legislativo.
Por tratar de mentira requentada de Bolsonaro – agora a diplomatas estrangeiros -, os jornais ao redor do mundo cobriram o evento mostrando em detalhes as, pelo menos, 20 falácias do político brasileiro, contadas há meses sobre as urnas eletrônicas e a segurança do sistema eleitoral.
Ao fim do dia, o presidente ainda recebeu a notícia de que o YouTube, uma rede social que ele conta para poder virar o quadro eleitoral – hoje bastante desfavorável -, derrubou um vídeo que estava no ar desde de 2021, com as mesmas mentiras que foram contadas aos diplomatas.
Com apenas o presidente da Câmara, Arthur Lira, ao seu lado – que, sim, tem um peso enorme para dar vitórias ao governo na Câmara -, o presidente voltou ao isolamento político, com o termo “crime de responsabilidade” de volta à pauta. Se fosse uma partida de futebol no dia de ontem, como acontece em inúmeras terças do calendário ao longo do ano, o placar seria algo como um 7 a 1.