O futuro de Pazuello
O general quer ficar na ativa, ter um cargo no governo e joga ponte para a política. Atira para todos os lados para tentar se blindar na CPI
A imagem é impressionante. O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, sem máscara, de bermuda, num shopping em Manaus e, quando perguntado pela máscara, ele respondeu: “Pois é. Sabe onde tem para vender?”
São muitos os caminhos possíveis para o futuro do militar de alta patente, que, na avaliação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, manchou a imagem das Forças Armadas com a catastrófica gestão à frente do Ministério da Saúde durante a pandemia.
No evento do fim de semana em Manaus, na companhia do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, Pazuello já deu um dos sinais. O lançamento de uma etapa do Centro de Convenções de Manaus foi uma forma de testar a sua viabilidade eleitoral. Um grupo da plateia amestrada já gritava “Pazuello governador” para chamar a atenção das câmeras.
O movimento é, no mínimo, esquisito porque ele permanece na ativa do Exército. Contudo, não deve demorar muito a se aposentar, quando estará apto a uma candidatura. Pazuello será alvo direto da CPI da Covid, e tem que procurar provas para se defender.
O fato é que ele parece querer manter o vínculo com o Exército durante a investigação, mas lançar uma ponte para a política para tentar se blindar na CPI. É assim que se joga em Comissões Parlamentares de Inquéritos: na politicagem.
No único país onde crimes da ditadura (1964-1985) não levaram um general para a cadeia, Pazuello pode ser o primeiro militar de alta patente que vai enfrentar de fato a Justiça. Independentemente da jogada política, com o objetivo de se blindar, o avançar nas investigações na CPI pode levar o Ministério Público a denunciar o general.
O passeio indecoroso dele, sem máscara, desrespeitando a mais banal das medidas protetivas após 390 mil mortos na pandemia, é apenas mais um dos graves erros do general Pazuello.