O presidente Lula avisou que não vai usar o critério de gênero e raça na escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal. Mas deveria. E por várias razões.
Primeiro, porque os números são impressionantemente tristes. Revelam a natureza do Brasil. Foram 168 homens nomeados e apenas três mulheres nomeadas para a mais alta corte do país, em 132 anos.
Segundo, porque o petista foi eleito com a expectativa de mudar essa estrutura de poder brasileira – masculina e branca – tendo participação importante nesse processo.
É preciso lembrar que Lula foi votado majoritariamente pelas mulheres e majoritariamente pelos negros. A expectativa em relação ao petista e as ideias que ele defende é justamente a de mais mulheres e negros nas estruturas de poder.
Há uma inércia no poder no Brasil que se reproduz ao longo dos anos.
Quem está no poder acaba indicando alguém parecido. Homens indicam homens, brancos indicam brancos. Por isso também, o poder se perpetua desta forma.
Só que o talento é distribuído igualmente entre as pessoas – brancos, negros, homens, mulheres. Não existe um grupo mais competente que o outro.
E democracia, como sabemos, exige que haja mais representatividade.
Jair Bolsonaro não acreditava nisso e dizia que isso era “mimimi”. Lula venceu a eleição dizendo exatamente o oposto.
É bom que o presidente escolha uma pessoa que possa atender as expectativas do Brasil, como ele mesmo diz. Mas por que tem que ser homem? Essa é a pergunta que fica. Uma mulher não tem como atender as expectativas do Brasil?