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Marielle: é preciso olhar para os agentes e não só para as instituições

Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Silva defende o olhar com lupa em todos os envolvidos no brutal assassinato

Por Rodrigo Silva
Atualizado em 25 mar 2024, 11h17 - Publicado em 25 mar 2024, 08h30

O domingo, 24, amanheceu com a notícia mais esperada por aqueles que por óbvio veem no assassinato de Anderson Gomes e Marielle Franco um atentado ao Estado democrático de Direito. A morte de uma parlamentar em pleno exercício de seu mandato é uma afronta à representatividade, principalmente pela figura de Marielle, que trazia consigo a defesa daqueles que mais são esquecidos pelo Estado.

Foram 6 anos. Mais precisamente 6 anos e 10 dias como bem lembrou a viúva de Marielle, Monica Benício, hoje vereadora pelo município do Rio de Janeiro.

Os envolvidos nos levam a um ponto importante: é preciso parar de exaltar tanto as instituições. E por quê? Ora, são 6 anos de figuras proeminentes, em especial as que representam algumas instituições do Rio de Janeiro, trabalhando para brecar as investigações, a fim de atrapalhar o caso do brutal assassinato de Anderson e Marielle.

Isso quer dizer que as instituições não importam? Obviamente elas são essenciais e fundamentais para o bom funcionamento do Estado. Sem elas não é possível imaginar a burocracia – no sentido mais amplo – funcionando a favor do que de mais essencial o Estado tem a oferecer.

É preciso, contudo, parar de olhar apenas para as instituições, exaltá-las e deixar de lado as pessoas que a ocupam. Veja o caso do assassinato da vereadora e do seu motorista. O delegado Rivaldo Barbosa foi preso indiciado por auxiliar o grupo mandante do crime.

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Atentem para este fato: o chefe da polícia civil do Estado do Rio de Janeiro, que recebe inclusive a família de Marielle um dia após o crime, é hoje preso por acobertar o bárbaro assassinato. O que se sabe é que ele já assumiu o cargo na polícia civil comprometido com esse horror.

Os outros dois indiciados são os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, o primeiro, deputado federal; o outro, conselheiro do Tribunal de contas do Estado do Rio. Todos durante estes 6 anos trabalhando, dentro de suas instituições, para que nada fosse descoberto. Buscando aqui e ali maneiras de ludibriar as investigações.

Precisou um novo governo assumir o poder, centralizar as investigações e buscar a verdade sobre o caso. O leitor pode estar, com razão, a dizer que para todo esse processo foram necessárias instituições que permitissem todo esse progresso. É verdade. Mas foram, igualmente, importantes que elites políticas bem treinadas, recrutadas e comprometidas estivessem, em conjunto das instituições, prontas a exercer suas funções.

Por tudo isso é que não se pode cometer o erro de desresponsabilizar ninguém diante de seus atos. Na última semana, Lula cometeu este erro. Em reunião com seus ministros, o presidente Lula apontou Bolsonaro como um “covardão”. Talvez seja um bom adjetivo para caracterizar Bolsonaro. Covarde ele sempre foi, mas desta vez, ao não aceitar sua derrota, ele tentou e esticou a corda até o fim e não deixou de ir até o último minuto para romper a ordem democrática. Ao falar que Bolsonaro é “covardão”, tira das costas do ex-presidente toda a responsabilidade que tem sobre os fatos que o envolvem durante e após as eleições presidenciais de 2022.

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Bolsonaro, assim como o delegado do caso Marielle, são figuras que, nem sempre, mas em muitas delas, conseguem seu intento: corromper as instituições do Estado. Em maior ou menor medida, muitos assim o fizeram. Sérgio Moro permitiu desfecho muito diferente daquilo que se esperava da Justiça brasileira no âmbito da Lava Jato. Contribuiu, a meu ver, para piorar a história brasileira. Getúlio Vargas mudou o curso da História quando cometeu suicídio, da mesma forma que Janio Quadros quando decidiu pela renúncia. Não fosse Alexandre de Moraes, as eleições de 2022, bem como as investigações do 8 de janeiro, seriam as mesmas? A lista seria longa aqui.

Sem endeusar ou criar heroísmos, é importante lembrar que, para o bem e para o mal, figuras políticas são importantes para o curso da História. Das elites políticas, em conjunto com instituições fortes, dependem a qualidade da democracia. Não é possível apontar esta ou aquela como essencial. E é um erro tirar a responsabilidade de um ou de outro.

Em tempo: por falar em elites políticas, é importante questionar quem nomeou Rivaldo Barbosa para o cargo da chefia da polícia civil no Rio. Já sabe que foi, contrariado pela inteligência do governo: Braga Neto, então interventor da segurança pública no Rio. Candidato a vice de Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais, está enterrado até o último nas investigações a favor de um golpe de Estado. A teia da segurança pública do Rio é complexa e merece muita atenção.

* Rodrigo Silva é Mestre e Doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Graduado em História (PUC-PR) e aluno de Jornalismo (Cásper Líbero). Editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política é vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem)

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