Inhotim, patrimônio da humanidade
O que torna o Instituto Inhotim um lugar único no mundo? Análise de Daniel Lança

Certa vez, Sir Norman Foster, um dos arquitetos mais renomados do mundo, pegou seu jato Gulfstream na Inglaterra rumo ao interior do Brasil. Designer-líder de projetos como o edifício 30 St Mary Axe ou a remodelação do Estádio Wembley, em Londres, e da Apple Park, em Cupertino, Sir Norman tinha um endereço certo: Brumadinho, Minas Gerais. Mais especificamente, o Instituto Inhotim.
Ao caminhar pelos 140 hectares de jardins – alguns inspirados por Burle Marx – e visitar as dezenas de galerias de arte do parque, o arquiteto inglês se viu totalmente surpreendido Sobre o restaurante Oiticica, num dos complexos arquitetônicos do Inhotim, disse: “simple and elegant” – um elogio raro de quem talvez seja o maior arquiteto vivo na atualidade. De alma deleitada, seguiu de volta à Londres.
O que torna o Instituto Inhotim um lugar único capaz de atrair atenção de gente do mundo todo?
Primeiramente, sua característica sui generis. O Inhotim é um museu de arte contemporânea como poucos no mundo. Seu acervo talvez seja o mais importante do mundo nessa linha curatorial, à frente de outras grandes instituições como o MoMA, em Nova Iorque, o Tate Modern em Londres, e o Guggenheim, em Bilbao. Abriga obras de grandes artistas como Yayoi Kusama, Chris Burden, Tunga, Matthew Barney, Cildo Meireles entre tantos outros. É respeitado e reverenciado em todo o mundo e um orgulho do nosso país.
O Instituto Inhotim é ainda um jardim botânico que produz pesquisa, conservação de espécies e educação ambiental. Localizado numa região de mineração, pode-se dizer que o parque é um oásis de diversidade e beleza que se torna referência em proteção ambiental. Seus laboratórios e estufas têm a nobre função de mapear, coletar e multiplicar sementes de espécies diversas – da Mata Atlântica e do Cerrado – com o objetivo de privilegiar a restauração de sistemas degradados e de manutenção de serviços ecossistêmicos.
Essa mistura de arte contemporânea a céu aberto e jardim botânico é absolutamente única no mundo e tem uma razão de ser: Bernardo Paz. O mecenas mineiro em nada se assemelha à elite tradicional brasileira; ele sonha o Inhotim com uma capacidade visionária singular e repleto de uma excentricidade cativante. Esse legado é fruto de um altruísmo ímpar do filantropo mineiro, que transformou quase toda a sua riqueza pessoal em arte e beleza como um verdadeiro patrimônio doado à humanidade.
Quando olhamos para o futuro, é possível dizer que os novos desafios do Inhotim estão certamente encampados nas letras do acrônimo ESG (do inglês ambiental, social e governança). Diferentemente de museus semelhantes redor do globo, o Inhotim não é um museu para super ricos, mas tem forte impacto social e ambiental, sobretudo na comunidade de Brumadinho onde está inserido – sua principal parte interessada. Com isso, vem fortalecendo sua governança corporativa com base em melhores práticas internacionais para viabilizar sustentabilidade a longo prazo.
Na data em que completa 15 anos de abertura ao público, o Inhotim – referência internacional em artes, meio ambiente e responsabilidade social – é sem dúvida um patrimônio da humanidade. Se ainda não formalizada pela UNESCO (poderá sê-lo, se quiser), certamente já é um tesouro mundialmente singular em solo mineiro. O legado de Bernardo Paz ficará para a posteridade. Vida longa ao Instituto Inhotim, patrimônio da humanidade.
Daniel Lança é advogado, Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa e Compliance Officer do Instituto Inhotim. É Professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC).
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