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Indefinição sobre o Censo é um agravante dos problemas brasileiros

Pesquisa é realizada desde 1872, e a partir de 1940 passou a ser organizada pelo IBGE

Por Davi Lago 
Atualizado em 28 mar 2021, 18h43 - Publicado em 28 mar 2021, 18h29
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  • Às vésperas do bicentenário da independência, a sociedade brasileira não tem dados oficiais robustos sobre si própria. No Brasil, o censo é realizado desde 1872, sendo que desde 1940 é organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a irrupção da pandemia de coronavírus, o Censo 2020 foi adiado para 2021 e agora corre o risco de ser adiado novamente. Nesta altura dos acontecimentos, a indefinição na realização do Censo Brasileiro é um agravante para os densos problemas do país.

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    Na medida em que as sociedades crescem e seus governos complexificam, uma das prioridades administrativas é a coleta de dados fidedignos. O historiador Martin van Creveld afirma que “a maior utilidade das estatísticas – o que explica por que, desde os tempos do rei Davi, as tentativas de recolhê-las quase sempre suscitaram uma tempestade de protestos – era a tributação”. Com o advento dos Estados modernos, as razões para a coleta de dados aumentaram assim como os meios de realizá-la. Os alemães e italianos chegaram a cunhar o termo “estatística”, derivado de “Estado”. Os primeiros países modernos a realizar censos populacionais foram a Islândia (1703) e a Suécia (1739) ambos motivados pelo medo do despovoamento. Em 1736 os franceses estabeleceram outro precedente: os sacerdotes católicos de todas as paróquias receberam ordens para registrar, em duas vias, nascimentos, casamentos e mortes, guardar uma via e enviar a outra para o governo em Paris. Em 1791 os franceses criaram um escritório estatístico, independente dos ministros de governo e encarregado da compilação de relatórios estatísticos periódicos. O primeiro diretor do escritório foi o renomado cientista Antoine Lavoisier, que estabeleceu o sistema métrico de pesos e medidas. O professor Creveld afirma que o Estado “definiu as unidades de medida, como se para salientar a extensão de seu poder” (Ascensão e declínio do Estado, Martins Fontes). Já a economista Deirdre McCloskey afirma que “surgiu então a era da estatística, e tudo, das detenções pelo uso de drogas e das mortes devidas ao fumo, ao valor da vida e à classificação de crédito da vizinha ao lado, passou a ser objeto de expressão numérica” (Os pecados secretos da economia, Ubu).

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    Nas democracias constitucionais contemporâneas, a coleta de dados públicos e a transparência em sua divulgação permanecem indispensáveis. Sem embasamento quantitativo, as discussões públicas e as decisões políticas ficam à mercê de achismos e demagogias. Dados qualificados possibilitam uma leitura mais acurada da realidade brasileira. Através dos censos podemos compreender melhor, nossos avanços, estagnações e retrocessos. Assim, a prorrogação indefinida do Censo Brasileiro prejudica ainda mais as decisões políticas nestes dias conturbados pela pandemia da COVID-19. Sem diagnósticos reais, as medidas de enfrentamento à pandemia ficam aquém do devido. A realização do Censo é imperiosa para avanços em todas as frentes da sociedade brasileira: das campanhas de vacinação à construção de políticas públicas eficientes, da captação de investidores internacionais aos aperfeiçoamentos legislativos do pós-pandemia. Os dados também serão vitais para a qualificação do debate eleitoral de 2022. A neblina sobre os fatos só interessa aos irresponsáveis.

    * Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

     

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