O Brasil vive hoje um dia decisivo. Talvez o mais decisivo dos nossos tempos. Desde a redemocratização, quando vencemos o período mais sombrio da nossa história recente, passamos por alguns momentos árduos na política da República.
Os impeachments de Collor e Dilma, por exemplo, dividiram os brasileiros. No primeiro quem era defendido no cargo era a direita, no segundo, a esquerda é que lutava. Foram processos diferentes com causas diversas para a ruptura do mandato.
Também passamos por outros momentos em que a polarização se acirrou muito, como em 2014 e em 2018.
Mas nunca vivemos um tempo como o de hoje: onde a polarização virou ferida e se tornou violência, onde a Constituição e as instituições estiveram o tempo todo ameaçadas pela extrema direita.
Nasci na ditadura militar, mas não a vivi na vida adulta. Era o ano em que o governo militar fechou o Congresso mais uma vez, treze anos após o início do arbítrio. Contudo, aprendi através dos livros, da pesquisa e do jornalismo, o estrago que ela causou.
No livro “Em nome dos Pais”, tentei colocar em palavras a dor que vi se instalar na minha família – mas que refletia a do país. O fio condutor compreende o meu entendimento da prisão, da tortura sofrida por meus pais e a angústia que isso me provocou.
O Estado negou a um filho a informação de quem foram os torturadores dos seus pais. Buscando diálogo e até a reconciliação, o livro foi atrás de respostas. Não de forma revanchista, mas para entender, 40 anos depois, o que de fato ocorreu no país.
Aqueles capítulos sombrios não podem voltar jamais. Mas há sombras que permanecem neste Brasil porque escolhemos o caminho errado: foi dado o direito do esquecimento ao torturador, ao violador e não ao torturado – o violado.
O sofrimento daqueles tempos deixaram feridas profundas sem cicatrização em um país que não teve Justiça de Transição, que escolheu essa anistia aos violadores dos mais fundamentais direitos humanos.
Em meio a essa guerra, a democracia custou a vida de milhares de brasileiros. E, por isso, é muito importante construir um futuro com a mente de quem reconhece sua História.
Nesses quatro anos também morreram pessoas que poderiam estar aqui. A negligência do governo, o adiamento das vacinas e a guerra contra as medidas de proteção custaram muitas vidas. Em Manaus, a demora da chegada do oxigênio tirou a vida de muitos. O processo eleitoral foi ameaçado diversas vezes.
Mas hoje é dia de sobretudo olhar para o futuro. E acreditar. O ato de votar não é o de acertar contas com o passado, é o de sonhar com um momento melhor. Hoje, pai de Mariana e Daniel, tenho ainda mais preocupação com o futuro da Nação.
Que país queremos ser? Um país que vive valores democráticos ou o desvio assombroso do arbítrio?
Desejo um bom domingo e um bom voto. Como a coluna deixou claro em diversas ocasiões, o compromisso deste espaço é com a Constituição, com os valores democráticos e universais, que estão acima da disputa entre esquerda e direita.
É preciso não só acreditar, mas lutar pelo respeito ao próximo, ao que pensa diferente e, especialmente, às minorias – os mais pobres, os miseráveis, os indígenas, povos originários. Como determina o Código de Ética do Jornalista, em seu artigo 6º, é preciso se opor ao autoritarismo e à opressão.
O seu voto, leitor, é fundamental. Você é parte da história e, hoje, vai escrever mais um capítulo dela.
Vote consciente do seu poder.
A democracia te espera de braços abertos. O jornalismo também.